Desde a postagem anterior, vemos Miro contando a história de sua vida aos companheiros de Legião Negra... Quem é esse homem?
Trata-se de um líder valoroso como tantos outros que certamente existiram ao tempo da Revolução Constitucionalista... Seu nome (Teodomiro Benedicto Patrocínio da Silva) podia confundir, e os mais desavisados o associariam ao das mais ricas famílias... Mas, como vimos, ele não nasceu em “berço de ouro”.
Não há como não se impressionar com o que ocorreu com dona Benê, a mãe do Miro... Para reencontrar o namorado que a engravidara não mediu esforços e enfrentou todas as adversidades daquela época viajando de São Paulo para a Bahia.
Esgotou-se em suas andanças pelos cacaueiros até que chegou o momento do parto... Foi acolhida na tapera humilde da velha que todos tinham como bruxa, e assim o garoto pôde nascer.
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De volta a São Paulo, Benê foi ter na casa de Higienópolis onde trabalhava
como doméstica... A patroa, Berenice Macedo Dalla Rosa, não só a acolheu de
volta como se tornou madrinha do pequeno Teodomiro.
Vejamos por que a parte 6 do romance tem o título de Como se clareia a noite da pele humana?...
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É bom que se saiba que também esse enredo imaginado por Faustino não pode
ser considerado incomum.
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Sendo uma jovem da alta sociedade paulistana, Berenice participava de
vários eventos, muitos deles promovidos pela Igreja.
Não raro, ela e outras mulheres “de classe” se faziam
acompanhar de suas serviçais... Então Benê se acomodava a um canto com as
demais empregadas e observava achando graça do modo como suas patroazinhas
ficavam de piscadelas com os rapazes herdeiros das grandes fortunas de famílias
paulistanas...
Berenice era membro da Irmandade das Senhoras Caridosas de Nossa Senhora
do Rosário... Benê frequentava a capelinha de Nossa Senhora do Rosário dos
Homens Pretos... As duas seguiam juntas para as missas de domingo, mas no
caminho se separavam porque a patroa encaminhava-se para a grande igreja
matriz. Ao final das celebrações as duas se encontravam novamente para
retornarem para casa...
As cerimônias religiosas na matriz eram suntuosas e não há como compará-las
com a simplicidade (até dos padres) da igrejinha dos pretos... Mas Benê se
encantava com as reuniões dominicais, as procissões e festejos que aconteciam
no terreno.
Houve a ocasião em que Berenice insistiu para que a empregada a
acompanhasse até a reunião na grande igreja, onde seria rezada uma novena. Benê
não podia recusar, e posicionou-se nos bancos do fundo, onde estavam acomodadas
as pessoas mais simples... Dali pôde observar a comadre sendo cumprimentada por
homens e mulheres brancas e ricas. A beleza da construção, os cânticos, incenso
e o som harmonioso do órgão levaram-na a pensar se Deus não teria atenção
especial pela gente da alta sociedade... É, porque na capelinha dos pretos tudo
era muito simples, sequer havia instrumentos musicais para acompanhar a
cantoria religiosa!
No retorno para casa, as
duas foram cercadas por soldados bêbados... Eles retornavam de alguma batalha
que travaram para sufocar rebeldes que o governo insistia em chamar de
monarquistas ou messiânicos... Os cafajestes agarraram-nas... Benê tentou lutar
para defender a patroa. É por isso que eles resolveram agredi-la
imediatamente...
Benê teve as vestes
rasgadas, foi estuprada e violentada com requintes selvagens... Ensanguentada e
desfigurada, levava pontapés dos brutamontes. Berenice chorava e implorava para
que a deixassem em paz. De repente eles abandonaram Benê estirada no chão e
partiram para cima da patroa.
Mas para a sua
sorte, de repente surgiu o oficial que comandava aqueles tipos malvados...
Do alto de seu cavalo, gritou a ordem para que se colocassem em posição de
sentido...
Berenice correu para socorrer Benê... O oficial quis saber se seus
comandados a importunaram... Ao saber que “apenas a empregada foi violentada”,
despediu-se e colocou seus homens em marcha.
(...)
O horror se apossou da
mente de Benê... Não era para menos... Engravidou daqueles tipos imundos... A
menininha já veio morta ao mundo... Não bastassem as perturbações mentais, ela tornou-se
sifilítica...
Berenice a internou no
hospital psiquiátrico. De sua parte assumiu que sua missão a partir de então
seria a de criar o pequeno Teodomiro como se fosse o próprio filho. Nada mais
apropriado a uma mulher que buscava vivenciar a ética altruísta... No fundo ela
sabia que, se não estivesse acompanhada por Benê naquela fatídica noite, seria
a vítima da selvageria dos soldados.
(...)
E então, a pergunta apresentada por Faustino no
título da parte 6 de seu romance tem uma resposta?
Leia: A Legião Negra. Selo Negro Edições.
Um abraço,
Prof.Gilberto