segunda-feira, 2 de março de 2015

“A Legião Negra – A luta dos afro-brasileiros na Revolução Constitucionalista de 1932”, de Oswaldo Faustino – considerações iniciais

Abri o editor de textos para escrever sobre A Legião Negra – A luta dos afro-brasileiros na Revolução Constitucionalista de 1932, romance histórico do jornalista Oswaldo Faustino.


Carece esclarecer:
A Revolução de 1932 foi um sangrento episódio marcado pelos conflitos entre as tropas organizadas no estado de São Paulo e as que se mantiveram fiéis ao governo de Getúlio Vargas estabelecido no final de 1930. Há algumas referências neste blog que levam isso em consideração (ver http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/07/revolucao-constitucionalista-de-1932.html e http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/07/revolucao-constitucionalista-de-1932_19.html).
É claro que a motivação constitucionalista é a mais lembrada quando falamos a respeito do movimento. Mas não há como não destacar que a forte oposição paulista ao presidente (que contava com o apoio de simpatizantes do movimento tenentista - ver http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2010/09/sao-paulo-1924.html) relaciona-se também à sua ingerência política no estado.
Estava claro que com o início do Governo Provisório, Vargas tirava São Paulo da condição de preeminência no cenário nacional. Relacionar suas medidas intervencionistas à condição de ditadura foi uma questão de (pouco) tempo.
(...)
Há muitos textos que resgatam o engajamento dos intelectuais de São Paulo, radialistas, professores e juristas em seus ataques ao governo central. Tropas paulistas foram organizadas e conclamadas a lutar contra a ditadura e pela Constituição.
Graças a esses textos podemos conhecer um pouco do contexto da época, e até da origem dos soldados, seus dramas particulares e dificuldades nas frentes de combate.
Nei Lopes, no prefácio de A Legião Negra, cita obra de Hernâni Donato (A Revolução de 32) em que há algum destaque para a participação feminina e a reprodução de uma fotografia de grupamento de índios guaranis...
Como se pode depreender, há pouca repercussão sobre participação afro-brasileira nos conflitos de 1932. Também nesse sentido, o livro de Faustino pode ser entendido como valorosa contribuição para o debate e compreensão do tema.


A ideia de A Legião Negra surgiu do contato do ator Milton Gonçalves com Faustino (também militante das artes cênicas). Ele propôs a investigação sobre a Legião Negra, suas origens e atuação durante a Revolução de 32.
A partir da pesquisa, Faustino escreveria uma ficção que pudesse ser adaptada para o cinema.
O resultado é um “romance histórico” muito bem embasado em visitas a museus e nas leituras de jornais, trabalhos de especialistas, artigos e depoimentos. O autor realizou entrevistas e investigou as produções radialistas que incentivavam a sociedade a apoiar o movimento constitucionalista.
(...)
Como não poderia deixar de ser, A Legião Negra cita alguns personagens reais... Há os que foram “inspirados em brasileiros reais”... E ainda os que foram “inspirados em criações de outros autores”.
Os vemos posicionados na sociedade paulista do começo do século passado e evidenciando comportamentos de integração ou de contrariedade em relação ao estado de coisas e, mais especificamente, em relação ao movimento revolucionário.
(...)
As informações de Nei Lopes em seu prefácio nos ajudam a compreender melhor o contexto mais amplo a que o livro de Faustino nos leva... Segundo Lopes, desde a abolição dos escravos e o começo da República (1888/1889), algumas localidades da cidade de São Paulo concentravam grandes contingentes populacionais negros... Esse foi o caso da Barra Funda, do Bexiga e da Baixada do Glicério. As pessoas se estabeleciam na capital em busca de trabalho e de melhores condições de vida.
O crescimento dessa população foi de tal ordem no decorrer do século passado que São Paulo tornou-se a cidade de maior concentração de afro-brasileiros... O bairro do Bexiga, por exemplo, visto normalmente como reduto da colônia italiana, sempre contou famílias afro-brasileiras entre seus habitantes mais tradicionais.
(...)
É Lopes quem nos adianta, citando trechos de Alcântara Machado, que as ricas famílias contratavam muitos de seus empregados entre aquelas famílias. Ele mostra que a literatura está repleta de citações em que se nota o escancarado preconceito das elites em relação aos pobres operários e empregados nas casas dos mais abastados.


No início do romance vemos o centenário Tião descansando num banco de praça... É o dia 20 de julho de 2012 e o seu pensamento o leva a rememorar os acontecimentos de 80 anos atrás, os dias de alvoroço na cidade por conta do início dos conflitos e do engajamento da Legião Negra...
Leia: A Legião Negra. Selo Negro Edições.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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