quinta-feira, 19 de março de 2015

“A Legião Negra – A luta dos afro-brasileiros na Revolução Constitucionalista de 1932”, de Oswaldo Faustino – no alojamento da Chácara do Carvalho, o primeiro contato com Miro Patrocínio

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/03/a-legiao-negra-luta-dos-afro_17.html antes de ler esta postagem:

O velho Tião está apurando suas recordações... Ele se lembra de vários detalhes da época da Revolução Constitucionalista de 1932. Sua memória já nos conduziu ao cotidiano dos moradores de cortiços que existiam em bairros centrais da cidade de São Paulo.
O texto revela-nos as precárias e limitadas condições da vida dos negros... Sem dúvida elas eram o resultado do preconceito arraigado nas famílias intolerantes de brancos ricos que disseminavam seus valores entre seus empregados (sobretudo as domésticas).
(...)
Ficamos sabendo que nas mesmas margens do córrego Saracura, onde um dia existiu um quilombo, as lavadeiras dos cortiços do centro da cidade buscaram a sobrevivência de suas famílias lavando os panos dos ricos empregadores nas pedras e correnteza.
Hábitos alimentares, religiosidade e festejos? A memória de Tião ainda conserva de tudo um pouco... O seu exercício de recordar apresenta-nos um quadro quase completo do modo de ser da gente negra.
(...)
Mas não é só isso...
Sabemos que o tema principal do romance de Faustino é a “Legião Negra”, agremiação que decidiu partir para o front na defesa dos ideais da “brava gente bandeirante” em oposição ao governo Vargas.
Então, vemos Tião se envolver nas atividades culturais da Frente Negra e se relacionar com suas lideranças... Fomos transportados ao contexto das motivações das lideranças, suas diferenças e incompatibilidades...
Lamentavelmente o inevitável litígio só podia levar ao rompimento. O velho personagem pode afirmar com certeza que muitas conquistas em favor dos que padecem poderiam ser obtidas se a união prevalecesse.
(...)
Aos poucos vamos aprendendo um pouco mais sobre a Legião Negra.
Pelo menos em relação ao jovem Tião, o português Quincas da banca de jornal recebeu mais mil réis do sapateiro italiano Gino...
Ele seguiu para o alistamento, Quincas ganhou a aposta.

(...)

Na sequência precisamos retornar para a ficção inspirada em vivências reais...
Tião relembra de um personagem que conheceu quando esteve na frente de combate no Vale do Paraíba do Sul, Teodomiro Benedicto Patrocínio da Silva, a quem chamava simplesmente de “baiano”.
O fato de Miro Patrocínio ser reconhecido como grande combatente já justificaria sua lembrança... Mas é que ele era mesmo um “tipo marcante”: “mulato de cabelo bom, de cabeça sempre brilhando a vaselina cheirosa, elegante até na frente de batalha”.
Os dois se conheceram (de fato) após uma dura batalha na qual as tropas fiéis ao governo central e as tropas constitucionalistas impingiram e sofreram baixas tremendas nas proximidades da cidade de Queluz... Uma breve trégua se seguiu... Fogueira no meio da noite regada à aguardente... Miro se junta aos comandados Tião, Bento e Luvercy, a quem passou a revelar a história de sua vida...
(...)
Antes de conhecermos a história (fictícia, inspirada em vivências reais) de Miro, convém registrar a ocasião em que conheceu o personagem...
É Tião mesmo quem conta que numa das madrugadas, quando ainda se encontrava em treinamento na Chácara do Carvalho, dormia e sonhava com uma bela mulher a quem flertava durante um bolero no Salão de Festas do Grupo Carnavalesco Campos Elíseos (fundado em 1919 por Argentino Celso Vanderlei que, com o jornalista Lino Guedes de O Progresso, arrecadava fundos “para a construção de uma herma a Luiz Gama, no Cemitério da Consolação”)... De repente, no momento mesmo em que estava para roubar um beijo da beldade, foi despertado por forte batida na porta seguida por ordem de prontidão imediata.
Assim como os demais companheiros dos beliches, Tião despertou imediatamente... Todos trajavam camisetas e ceroulas brancas e mal conseguiam enxergar o gigantesco cabo Miro Patrocínio posicionado na porta do alojamento.
A aparição foi das mais impressionantes, sobretudo por causa da forte luz do holofote instalado do lado externo... De fato, os recrutas viam uma grande silhueta iluminada.
(...)
Para Tião, Miro foi merecedor das patentes que conquistou durante a revolução (1º sargento; tenente)... Chegaria a general?
Tião não duvidava da competência do amigo... Mas sabia que na história de nosso país nunca houve um general negro...
Além do mais, Miro era baiano, filho de mãe louca, pobre e “criado por estranhos”.
Leia: A Legião Negra. Selo Negro Edições.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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