segunda-feira, 30 de março de 2015

“A Legião Negra – A luta dos afro-brasileiros na Revolução Constitucionalista de 1932”, de Oswaldo Faustino – preconceito e conservadorismo no seio da “brava gente bandeirante”; Miro e os trabalhos para os acadêmicos de Direito e para jornais antirrepublicanos; interessado pela formação e rejeitado pelo Conselho; convicções a respeito da família real

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/03/a-legiao-negra-luta-dos-afro_29.html antes de ler esta postagem:

Depois da recordação sobre a chegada de Bento à Legião, o velho Tião volta o seu pensamento à grandeza e imponência da cidade de São Paulo...
Ao tempo da Revolução de 1932 não havia como esconder que o interior do estado era muito mais rico do que a capital... Mesmo assim as manifestações preconceituosas em relação aos que viviam afastados da grande metrópole eram comuns.
“Muitos só se sentem alguém se transformarem os outros em ninguém”... O velho fazia essas reflexões e revisitava as ideias depreciativas que os “da capital” tinham em relação aos “do interior”... Eles diziam que os caipiras não sabiam o que fazer com o dinheiro que tinham, e que era na capital que a cultura se desenvolvia...
Dizia-se que os paulistanos queriam que seu estado se separasse do Brasil na época da Revolução... Depois que o conflito se encerrou, negaram que isso fosse verdade. Mas para o velho Tião não havia como esconder... Pelo menos por parte da elite, o separatismo sempre esteve em pauta.
(...)
Miro nem era de São Paulo, mas ele se comportava como paulistano “da gema”... Dona Berenice soube como doutriná-lo de tal forma que ele “adquiriu todos os hábitos de um típico paulistano”.
Com Neo, o amigo de todas as ocasiões, Miro frequentou os melhores cafés e muitos outros ambientes sempre trajando ternos, camisas, gravatas e sapatos feitos sob medida pelos profissionais que atendiam aos mais ricos da cidade...
O tempo em que desejou se tornar arquiteto ficou para trás... Aos poucos começou a se interessar por Direito, pois percebeu que na condição de promotor, juiz ou desembargador poderia contribuir muito mais socialmente.
De fato, ele adorava as leis e os direitos que elas garantem às pessoas.
(...)
Foi no antigo Ponto Chic (Faustino informa que a casa foi fundada por Odílio Cecchini, italiano que pertencia à diretoria da Sociedade Esportiva Palestra Itália), que existia desde 1922 no Largo do Paissandu, que Miro conheceu boêmios, intelectuais e estudantes de Direito do Largo São Francisco...
A estudantada que frequentava o lugar estava mais interessada nas “francesas de Madame Fifi” e em outras diversões... Os trabalhos que os professores cobravam, as Leis que deviam estudar e os intermináveis livros que deviam ler eram-lhes maçada.
Aos poucos os acadêmicos perceberam que Miro era um mulato que se identificava com tudo o que eles mais abominavam, sobretudo os livros (não só em português) e as dissertações e monografias solicitadas pelos mestres.
O fato é que as coisas se acertaram... Miro precisava arranjar alguma ocupação que lhe rendesse dinheiro, já que a madrinha estava envelhecida e sua mesada era pouco mais que alguns trocados... Aqueles “bons moços”, filhos de ricas famílias do país inteiro, passaram a pagar-lhe pelos trabalhos que não davam conta.
Para Miro, o “reforço orçamentário” era prazeroso... Ele curtia mesmo aqueles estudos... Além de tudo, os trabalhos permitiam-lhe aprimorar o conhecimento de outras línguas, como inglês, francês e italiano.
A cada trabalho realizado, Miro percebia que tinha tudo para se dar muito bem no curso... Porém, apesar das várias tentativas, o Conselho Acadêmico jamais o admitiu...
(...)
Ele também jamais admitiu que a recusa dos mestres tivesse alguma coisa a ver com preconceito. A explicação talvez estivesse em suas posições políticas... Miro se declarava monarquista e antirrepublicano.
Aliás, ele já colaborava com pequenos jornais antirrepublicanos, para os quais escrevia textos ácidos sob o pseudônimo “Hermann K”. Os leitores admiravam a erudição do autor, que tinham por um filósofo alemão...
Miro era monarquista convicto... E sua convicção aumentava quanto mais ele estudava e se tornava intelectual e erudito... Não aceitava a República e as “teorias políticas e econômicas” de seu tempo. Era com sinceridade que acreditava que Pedro II havia sido o “grande pai” dos brasileiros, um líder martirizado pelos golpistas republicanos...
Para ele, a princesa Isabel era uma santa. E avaliava como justo o reconhecimento da Igreja Católica ao lhe conferir a “rosa papal”.
Leia: A Legião Negra. Selo Negro Edições.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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