quinta-feira, 26 de março de 2015

“A Legião Negra – A luta dos afro-brasileiros na Revolução Constitucionalista de 1932”, de Oswaldo Faustino – tenente Veríssimo Glória e a banda da Legião Negra; fragmentos de “A Gazeta” sobre a Legião Negra; versos das cantigas das rodas de tiririca; Bento, o Rei da Tiririca

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/03/a-legiao-negra-luta-dos-afro_24.html antes de ler esta postagem:

Tião se divertia mesmo com a fantasia que criou ao receber um registro com “identificação nobre” no ato de sua inscrição na Legião Negra... Lá na Chácara do Carvalho ele não se cansava de repetir a sua história... Mas no fundo tinha certeza de suas verdadeiras origens e dos ambientes que podia frequentar.
À sombra de uma vasta seringueira, o recruta Tião folheava as páginas de A Gazeta... Ao longe podia ouvir os acordes da Banda da Legião Negra, ensaiada pelo maestro tenente Veríssimo Glória. Sobre este personagem histórico, Faustino destaca a sua habilidade com vários instrumentos, sua dedicação à música e à causa da Legião Negra... Tanto é que “foi um dos primeiros a atender o chamado de São Paulo”.
(...)
Tião folheava A Gazeta...
Faustino expõe um fragmento importante, pois os trechos são um recorte significativo da repercussão que os periódicos davam à iniciativa da Legião Negra:

Os homens de cor e a causa sagrada do Brasil
          (...) Também os negros de todos os Estados, que vivem em São Paulo, patriotas, fortes e confiantes na grandeza do ideal, sob a direção do doutor Joaquim Guaraná Sant’ Anna, tenente Arlindo, do Corpo de Bombeiros, tenente Ivo e outros, uniram-se formando batalhões que, adestrados no manejo das armas e na disciplina, vão levar nas trincheiras externas, desprendidos e leais, a sua bravura, conscientes de que se batem pela grandeza do Brasil, que seus irmãos de raça: Rebouças, Patrocínio, Gama e outros muitos, tanto dignificaram.
          (...) Os nossos irmãos de cor, cujos ancestrais ajudaram a formar este Brasil grandioso, seguem cheios de fé, ao nosso lado, ao lado de todos os brasileiros que levantaram alto a bandeira do ideal da constitucionalização, para a cruzada cívica, sagrada, da união de todos os Estados, sob o lábaro sacrossanto da pátria estremecida.

Tião sabia bem que os autores de textos como aquele não tinham a menor ideia de quem eram os alistados nem quais eram as suas reais motivações... Soltou uma risada e pensou no Largo da Banana...
Sim, aquele era o seu habitat e ali era considerado por todos... Apesar de ser um malandro típico, não se recusava a labutar no descarregamento dos trens que chegavam ao pátio da Barra Funda com “bananas, café e outras mercadorias”... Também se mostrava disposto a transportar cargas para o interior dos vagões...
Tião e seus amigos não recebiam grande coisa pelos bicos no Largo da Banana, aliás, pode-se dizer que era nos jogos (como o de palitinhos, também conhecido como “porrinha”, os dados, cartas e a tiririca) que acabavam faturando mais...
Faturavam e ainda se divertiam.
Já foi evidenciado aqui que o Tião era mesmo muito bom nesses jogos. Por causa de sua sorte nas cartas era conhecido como “Mão Grande”... Destacava-se também na tiririca.
(...)
Faustino evidencia uns versos cantados pelo pessoal que fazia a roda da tiririca: Mourão, mourão/ Vara madura que não cai/ Mourão, mourão, mourão/ Catuca por baixo que ele vai.
Esses versos foram eternizados pelo “general da Banda”, o Blecaute (Otávio Henrique de Oliveira) que os tornou conhecido num grande sucesso carnavalesco.
(...)
Um dos grandes amigos de Tião era o Bento, que sempre se aproximava das rodas elegantemente trajado (paletó branco, sapatos caros e impecavelmente lustrados...). Era ele chegar para o jogo e logo começava a cantoria: Oi, emberé, oi emberá! Balança que pesa oro não pode pesá metá...
Bento aparecia, a cantoria começava... Ele tirava o paletó e o deixava com um dos meninos que estava por perto... Iniciava o espetáculo dando ligeiras pernadas que faziam os que estavam na roda se estatelarem no chão... Depois pegava o dinheiro recolhido para as apostas e recolocava o paletó... Atirava uma moeda ao garoto...
Bento sim era conhecido como “o Rei da Tiririca”.
Mais sobre o Bento na próxima postagem.
Leia: A Legião Negra. Selo Negro Edições.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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