Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/10/1984-de-george-orwell-ainda-leitura-do_12.html antes
de ler esta postagem:
Ao regime interessava que as pessoas se
mantivessem sufocadas pelo “estado de guerra permanente”. As imposições,
inclusive a “divisão intelectual” estabelecida pelo Partido, eram mais
facilmente aceitas a partir da atmosfera de um “estado belicista”.
Entre os membros do Partido
Interno, a histeria em relação à guerra era intensa. As mais fortes
manifestações de ódio aos inimigos eram produzidas por eles que, mesmo tendo
conhecimento de que certas notícias a respeito de conflitos eram falsas, graças
ao “duplipensar”, se extasiavam a cada participação nos programas organizados
para este fim.
A intensidade de sua devoção ao partido era tal que jamais hesitavam a
respeito da “realidade da guerra”, da certeza de que a Oceania se sairia
vencedora e que dominaria todo o mundo. Acreditavam cegamente que a cada
batalha o império conquistava parcelas de territórios inimigos, e que a vitória
final ocorreria graças à descoberta de novo armamento impossível de ser
combatido pelos rivais.
(...)
Se havia uma área que
merecia toda atenção do regime era a das pesquisas que podiam contribuir para a
obtenção de novas armas de destruição... Os que desejassem colocar em prática
os conhecimentos científicos só tinham como opção o ingresso nos grupos
vinculados às invenções e construção dos equipamentos de guerra.
O “livro proibido”
explicava que por causa da beligerância do regime já não havia “ciência” do
modo era entendida no passado... A palavra sequer existia em “novilíngua”. Um
dos trechos lidos por Winston esclarecia-se que:
“O método empírico de raciocínio, no
qual se basearam todos os desenvolvimentos científicos passados, se opõe aos
princípios fundamentais do Ingsoc. E mesmo o progresso tecnológico só se
verifica quando os seus produtos podem ser, de alguma forma, utilizados para
limitar a liberdade humana”.
Exatamente por isso,
notava-se que as diversas “artes úteis” haviam sofrido um lamentável
retrocesso... Os livros passaram a ser de “autoria” de máquinas enquanto que
nos campos os arados eram puxados por animais. Por outro lado, a guerra e a
formação de agentes de espionagem continuavam a merecer a metodologia empírica.
Essa constatação se explica
na medido em que atende aos dois principais objetivos do Partido: conquistar
todos os territórios do mundo e “extinguir de uma vez para sempre qualquer
possibilidade de pensamento independente”.
(...)
Do anteriormente exposto resultava que havia duas questões que
precisavam ser resolvidas e o Partido lidava com elas cientificamente. A
primeira era a da necessidade de saber o que pensam os seres humanos; a segunda
era sobre como eliminar milhões de pessoas em brevíssimo tempo sem qualquer
anúncio prévio.
Os cientistas do regime tinham formação em Psicologia, desenvolviam
técnicas de inquirição e estudavam os muitos detalhes e significados “das
expressões faciais, dos gestos, e tons de voz, e verificando os efeitos
reveladores das ‘drogas da verdade’, terapia de choque, hipnose e tortura
física”. Alguns eram químicos ou biólogos que se dedicavam a pesquisas sobre
fórmulas eficazes de suprimir a vida... Estes recebiam vários incentivos do
Partido e contavam com amplas instalações no Ministério da Verdade e em
“estações experimentais ocultas nas florestas brasileiras ou no deserto
australiano, ou nas ilhas perdidas da Antártida”.
Outros cientistas estavam envolvidos no
planejamento das guerras futuras e na invenção de armamentos maiores e de
explosões mais potentes. Havia muito trabalho no desenvolvimento de blindagens,
gases e venenos que pudessem ser lançados contra paisagens inteiras de
territórios inimigos... A microbiologia avançara enormemente e empenhava-se na
descoberta “de germes maléficos imunizados contra todos os anticorpos
possíveis”.
Alguns projetos mais
ousados e complexos recebiam reforços adicionais, pois se tratava de ambições
do Partido. Entre eles destacavam-se um aparelho que pudesse avançar sob a
terra tal como os submarinos eram impulsionados pelo fundo dos mares; um avião
com autonomia total em relação à base; poderosas lentes elevadas a altitudes
estupendas que focalizassem raios solares; máquinas capazes de “provocar
terremotos e maremotos artificiais pela alteração do calor no centro do
planeta”.
(...)
Apesar dos esforços, estudos e pesquisas, nem a Oceania e nem os dois
outros grandes impérios rivais tinham condições de concretizar tais projetos. O
“livro proibido” destacava que a bomba atômica era a arma mais poderosa que
tinham e que, ao que tudo indicava, nenhuma arma que ambicionavam parecia ser
mais poderosa do que ela.
A
respeito das bombas atômicas, o texto ressaltava que o Partido propagava que
foram inventadas em suas instalações. Todavia os mais antigos deviam saber que
elas existiam desde a segunda metade da década de 1940 e foram fartamente
usadas na década seguinte.
Leia: “1984”. Companhia Editora Nacional.
Um
abraço,
Prof.Gilberto