sexta-feira, 15 de outubro de 2021

“1984”, de George Orwell - estado de guerra permanente, fidelidade dos membros do Partido Interno, histeria e plena certeza da vitória esmagadora da Oceania; do fim da ciência tradicional e da ciência que merecia total apoio do regime; dominar todos os territórios do mundo e eliminar qualquer possibilidade de pensamento autônomo, os objetivos do Partido; Psicologia, Química e Microbiologia aplicadas à repressão; ousados projetos de inventos necessários à conquista global; a bamba atômica, a mais poderosa das armas existentes


Ao regime interessava que as pessoas se mantivessem sufocadas pelo “estado de guerra permanente”. As imposições, inclusive a “divisão intelectual” estabelecida pelo Partido, eram mais facilmente aceitas a partir da atmosfera de um “estado belicista”.
Entre os membros do Partido Interno, a histeria em relação à guerra era intensa. As mais fortes manifestações de ódio aos inimigos eram produzidas por eles que, mesmo tendo conhecimento de que certas notícias a respeito de conflitos eram falsas, graças ao “duplipensar”, se extasiavam a cada participação nos programas organizados para este fim.
A intensidade de sua devoção ao partido era tal que jamais hesitavam a respeito da “realidade da guerra”, da certeza de que a Oceania se sairia vencedora e que dominaria todo o mundo. Acreditavam cegamente que a cada batalha o império conquistava parcelas de territórios inimigos, e que a vitória final ocorreria graças à descoberta de novo armamento impossível de ser combatido pelos rivais.
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Se havia uma área que merecia toda atenção do regime era a das pesquisas que podiam contribuir para a obtenção de novas armas de destruição... Os que desejassem colocar em prática os conhecimentos científicos só tinham como opção o ingresso nos grupos vinculados às invenções e construção dos equipamentos de guerra.
O “livro proibido” explicava que por causa da beligerância do regime já não havia “ciência” do modo era entendida no passado... A palavra sequer existia em “novilíngua”. Um dos trechos lidos por Winston esclarecia-se que:

                   “O método empírico de raciocínio, no qual se basearam todos os desenvolvimentos científicos passados, se opõe aos princípios fundamentais do Ingsoc. E mesmo o progresso tecnológico só se verifica quando os seus produtos podem ser, de alguma forma, utilizados para limitar a liberdade humana”.

Exatamente por isso, notava-se que as diversas “artes úteis” haviam sofrido um lamentável retrocesso... Os livros passaram a ser de “autoria” de máquinas enquanto que nos campos os arados eram puxados por animais. Por outro lado, a guerra e a formação de agentes de espionagem continuavam a merecer a metodologia empírica.
Essa constatação se explica na medido em que atende aos dois principais objetivos do Partido: conquistar todos os territórios do mundo e “extinguir de uma vez para sempre qualquer possibilidade de pensamento independente”.
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Do anteriormente exposto resultava que havia duas questões que precisavam ser resolvidas e o Partido lidava com elas cientificamente. A primeira era a da necessidade de saber o que pensam os seres humanos; a segunda era sobre como eliminar milhões de pessoas em brevíssimo tempo sem qualquer anúncio prévio.
Os cientistas do regime tinham formação em Psicologia, desenvolviam técnicas de inquirição e estudavam os muitos detalhes e significados “das expressões faciais, dos gestos, e tons de voz, e verificando os efeitos reveladores das ‘drogas da verdade’, terapia de choque, hipnose e tortura física”. Alguns eram químicos ou biólogos que se dedicavam a pesquisas sobre fórmulas eficazes de suprimir a vida... Estes recebiam vários incentivos do Partido e contavam com amplas instalações no Ministério da Verdade e em “estações experimentais ocultas nas florestas brasileiras ou no deserto australiano, ou nas ilhas perdidas da Antártida”.
Outros cientistas estavam envolvidos no planejamento das guerras futuras e na invenção de armamentos maiores e de explosões mais potentes. Havia muito trabalho no desenvolvimento de blindagens, gases e venenos que pudessem ser lançados contra paisagens inteiras de territórios inimigos... A microbiologia avançara enormemente e empenhava-se na descoberta “de germes maléficos imunizados contra todos os anticorpos possíveis”.
Alguns projetos mais ousados e complexos recebiam reforços adicionais, pois se tratava de ambições do Partido. Entre eles destacavam-se um aparelho que pudesse avançar sob a terra tal como os submarinos eram impulsionados pelo fundo dos mares; um avião com autonomia total em relação à base; poderosas lentes elevadas a altitudes estupendas que focalizassem raios solares; máquinas capazes de “provocar terremotos e maremotos artificiais pela alteração do calor no centro do planeta”.
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Apesar dos esforços, estudos e pesquisas, nem a Oceania e nem os dois outros grandes impérios rivais tinham condições de concretizar tais projetos. O “livro proibido” destacava que a bomba atômica era a arma mais poderosa que tinham e que, ao que tudo indicava, nenhuma arma que ambicionavam parecia ser mais poderosa do que ela.
A respeito das bombas atômicas, o texto ressaltava que o Partido propagava que foram inventadas em suas instalações. Todavia os mais antigos deviam saber que elas existiam desde a segunda metade da década de 1940 e foram fartamente usadas na década seguinte.
Leia: “1984”. Companhia Editora Nacional.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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