Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/10/1984-de-george-orwell-ainda-leitura-do.html antes
de ler esta postagem:
O “livro proibido de Goldstein” sentenciava que
o modelo capitalista de organização da Economia havia terminado entre os anos
1920 e 1940. A quebradeira de indústrias e das empresas que financiavam as
produções gerou desemprego e miséria... Com a estagnação, o campo deixou de ser
cultivado e obviamente a maquinaria tornou-se obsoleta. O Estado fez o papel assistencialista
e assim as insatisfações foram contidas, pois a “caridade estatal” possibilitou
as mínimas condições de existência.
O texto era enfático ao
criticar o rigor com que os governos impuseram as privações às populações. Tal
recurso apenas recrudesceu as insatisfações, fez aumentar a oposição ao mesmo
tempo em que contribuiu para que o aparelho militar se tornasse debilitado.
(...)
Mas o que poderia explicar o deliberado atravancamento do processo
produtivo? O livro apontava que o objetivo não era exatamente o de travar a
produção industrial, mas impedir o “aumento da riqueza real do mundo”, mas
direcioná-la e ao mesmo tempo evitar que a pobreza fosse extirpada.
Logo se definiu que a “guerra
permanente” seria a única maneira de se viabilizar o mecanismo de produção de
bens sem que isso resultasse em distribuição. A finalidade da guerra não era
necessariamente a de acabar com as vidas humanas, mas sim com os “produtos do
trabalho humano”. Com isso evitava-se que os desfavorecidos tivessem acesso aos
recursos que podiam possibilitar uma existência menos atribulada e com chances
de promover a formação intelectual e a autonomia.
Em vez da produção dos bens
que melhorariam a condição de vida, a indústria se dedicaria quase que
totalmente à manufatura de armas e artigos bélicos, empregando grandes
quantidades de operários... Sobre isso, o livro citava o exemplo das enormes
fortalezas flutuantes que demandavam trabalho equivalente à construção de
“centenas de navios cargueiros”. Depois de algum tempo as imensas estruturas
tornavam-se obsoletas e eram desmanteladas, desse modo mobilizavam-se massas
operárias para a construção de outras.
Esse artifício
possibilitava manter a população em constante estado de necessidade, já que o
esforço industrial voltava-se para a guerra de destruição... Daí resultava que
até os que pertenciam aos grupos mais favorecidos também se percebessem
necessitados e passassem a valorizar os “pequenos privilégios” a que tinham
direito e a ideia de que pertenciam a uma classe distinta.
(...)
A respeito do anteriormente
citado, o “livro proibido” destacava que os que pertenciam ao Partido Interno
levavam uma existência que, se comparada ao modelo de vida que se experimentava
no começo do século XX, era de austeridade e de muito mais trabalho. Apesar
disso, tinham acesso a certas regalias, a amplo apartamento com moderna mobília
e a tudo o que havia de melhor (comida, bebida, cigarros); dispunham de roupas
de excelente qualidade, “automóvel ou helicóptero particular”, além de alguns
criados. Tais privilégios os colocavam em condição de preeminência em relação
aos que pertenciam ao Partido Externo... Por sua vez, quando comparados aos
“proles”, estes possuíam padrão de vida mais elevado.
Definitivamente não se
podia dizer que a abundância fosse uma marca da distinção social... O “livro
proibido” salientava que a diferença entre riqueza e pobreza se verificava
eventualmente na “posse de um pedaço de carne de cavalo”. Some-se a isso o fato
de as pessoas reconhecerem que sofriam constantes perigos por viverem em tempos
de “guerra permanente”... Isso as levava a entender que o melhor que tinham a
fazer era permitir que a reduzida casta de dirigentes concentrasse poder para
garantir condições mínimas de sobrevivência a todos.
A “guerra permanente” era conduzida de modo que a população jamais
deixasse de aceitá-la. Como se pode depreender, essa condição era imposta pelo
regime através de manipulação psicológica...
A parte excedente da mão-de-obra podia ser deslocada para a construção
de obras monumentais, “para a escavação de buracos que tornariam a ser
preenchidos” ou para a produção de grandes volumes de artigos que podiam ser posteriormente
destruídos para que outros fossem fabricados... Desse modo resolvia-se a
“questão de base econômica”, mas faltaria a de ordem emocional, necessária a
qualquer sociedade hierárquica. Não se trata de elevar o moral dos que são
deslocados para o trabalho braçal... O regime não via qualquer importância
nisso, já que a única coisa que interessava era que todos se mantivessem
engajados em suas atividades.
Importava unicamente o “moral do Partido”. Seus
membros, desde os menos graduados, eram incentivados a dedicar suas habilidades
e inteligência às tarefas as quais eram submetidos... É claro que jamais se
desejava que a inteligência extrapolasse certas restrições, pois o sistema
bloqueava qualquer indício de autonomia do indivíduo. O ideal era que os
membros se limitassem ao fanatismo e à ignorância, e que se sentissem
permanentemente amedrontados, mas capazes de odiar os inimigos, adular as
lideranças e de se extasiarem durante as manifestações promovidas pelo Partido.
(...)
Essas reações eram próprias
da mentalidade dos que haviam incorporado à consciência o “estado de guerra
permanente”.
Pouco
importava se de fato havia a guerra e se ela se desenvolvia satisfatória ou
insatisfatoriamente, já que de algum modo todos percebiam que a vitória definitiva
era impossível.
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/10/1984-de-george-orwell-estado-de-guerra.html
Leia: “1984”. Companhia Editora Nacional.
Um
abraço,
Prof.Gilberto