terça-feira, 12 de outubro de 2021

“1984”, de George Orwell - ainda a leitura do capítulo III do “livro proibido”; críticas à estagnação econômica e à “caridade estatal” imposta pelos “antigos países capitalistas”; guerra permanente, indústria voltada à produção de material bélico, manutenção da pobreza e impossibilidades de acesso aos recursos facilitadores da vida e da formação intelectual autônoma; manipulação psicológica, valorização de pequenos privilégios e apoio à casta de dirigentes e aos programas de extravasamento do ufanismo e do ódio aos inimigos

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/10/1984-de-george-orwell-ainda-leitura-do.html antes de ler esta postagem:

O “livro proibido de Goldstein” sentenciava que o modelo capitalista de organização da Economia havia terminado entre os anos 1920 e 1940. A quebradeira de indústrias e das empresas que financiavam as produções gerou desemprego e miséria... Com a estagnação, o campo deixou de ser cultivado e obviamente a maquinaria tornou-se obsoleta. O Estado fez o papel assistencialista e assim as insatisfações foram contidas, pois a “caridade estatal” possibilitou as mínimas condições de existência.
O texto era enfático ao criticar o rigor com que os governos impuseram as privações às populações. Tal recurso apenas recrudesceu as insatisfações, fez aumentar a oposição ao mesmo tempo em que contribuiu para que o aparelho militar se tornasse debilitado.
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Mas o que poderia explicar o deliberado atravancamento do processo produtivo? O livro apontava que o objetivo não era exatamente o de travar a produção industrial, mas impedir o “aumento da riqueza real do mundo”, mas direcioná-la e ao mesmo tempo evitar que a pobreza fosse extirpada.
Logo se definiu que a “guerra permanente” seria a única maneira de se viabilizar o mecanismo de produção de bens sem que isso resultasse em distribuição. A finalidade da guerra não era necessariamente a de acabar com as vidas humanas, mas sim com os “produtos do trabalho humano”. Com isso evitava-se que os desfavorecidos tivessem acesso aos recursos que podiam possibilitar uma existência menos atribulada e com chances de promover a formação intelectual e a autonomia.
Em vez da produção dos bens que melhorariam a condição de vida, a indústria se dedicaria quase que totalmente à manufatura de armas e artigos bélicos, empregando grandes quantidades de operários... Sobre isso, o livro citava o exemplo das enormes fortalezas flutuantes que demandavam trabalho equivalente à construção de “centenas de navios cargueiros”. Depois de algum tempo as imensas estruturas tornavam-se obsoletas e eram desmanteladas, desse modo mobilizavam-se massas operárias para a construção de outras.
Esse artifício possibilitava manter a população em constante estado de necessidade, já que o esforço industrial voltava-se para a guerra de destruição... Daí resultava que até os que pertenciam aos grupos mais favorecidos também se percebessem necessitados e passassem a valorizar os “pequenos privilégios” a que tinham direito e a ideia de que pertenciam a uma classe distinta.
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A respeito do anteriormente citado, o “livro proibido” destacava que os que pertenciam ao Partido Interno levavam uma existência que, se comparada ao modelo de vida que se experimentava no começo do século XX, era de austeridade e de muito mais trabalho. Apesar disso, tinham acesso a certas regalias, a amplo apartamento com moderna mobília e a tudo o que havia de melhor (comida, bebida, cigarros); dispunham de roupas de excelente qualidade, “automóvel ou helicóptero particular”, além de alguns criados. Tais privilégios os colocavam em condição de preeminência em relação aos que pertenciam ao Partido Externo... Por sua vez, quando comparados aos “proles”, estes possuíam padrão de vida mais elevado.
Definitivamente não se podia dizer que a abundância fosse uma marca da distinção social... O “livro proibido” salientava que a diferença entre riqueza e pobreza se verificava eventualmente na “posse de um pedaço de carne de cavalo”. Some-se a isso o fato de as pessoas reconhecerem que sofriam constantes perigos por viverem em tempos de “guerra permanente”... Isso as levava a entender que o melhor que tinham a fazer era permitir que a reduzida casta de dirigentes concentrasse poder para garantir condições mínimas de sobrevivência a todos.
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A “guerra permanente” era conduzida de modo que a população jamais deixasse de aceitá-la. Como se pode depreender, essa condição era imposta pelo regime através de manipulação psicológica...
A parte excedente da mão-de-obra podia ser deslocada para a construção de obras monumentais, “para a escavação de buracos que tornariam a ser preenchidos” ou para a produção de grandes volumes de artigos que podiam ser posteriormente destruídos para que outros fossem fabricados... Desse modo resolvia-se a “questão de base econômica”, mas faltaria a de ordem emocional, necessária a qualquer sociedade hierárquica. Não se trata de elevar o moral dos que são deslocados para o trabalho braçal... O regime não via qualquer importância nisso, já que a única coisa que interessava era que todos se mantivessem engajados em suas atividades.
Importava unicamente o “moral do Partido”. Seus membros, desde os menos graduados, eram incentivados a dedicar suas habilidades e inteligência às tarefas as quais eram submetidos... É claro que jamais se desejava que a inteligência extrapolasse certas restrições, pois o sistema bloqueava qualquer indício de autonomia do indivíduo. O ideal era que os membros se limitassem ao fanatismo e à ignorância, e que se sentissem permanentemente amedrontados, mas capazes de odiar os inimigos, adular as lideranças e de se extasiarem durante as manifestações promovidas pelo Partido.
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Essas reações eram próprias da mentalidade dos que haviam incorporado à consciência o “estado de guerra permanente”.
Pouco importava se de fato havia a guerra e se ela se desenvolvia satisfatória ou insatisfatoriamente, já que de algum modo todos percebiam que a vitória definitiva era impossível.
Leia: “1984”. Companhia Editora Nacional.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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