Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/10/1984-de-george-orwell-estado-de-guerra.html antes
de ler esta postagem:
Embora os três grandes impérios procurassem
descobrir uma fórmula espetacular que possibilitasse a construção de armamentos
poderosos, a conhecida bomba atômica tinha efeito devastador e dificilmente
seria superada por qualquer outro invento. O “livro proibido” destacava que
durante as guerras que ocorreram a partir da segunda metade da década de 1940
inúmeras delas foram lançadas sobre a Europa, América do Norte e a Rússia
europeia, causando destruição avassaladora nos muitos centros industriais.
Logo os dirigentes
políticos entenderam que a utilização dos artefatos nucleares em grande escala
ocasionaria a destruição completa dos territórios que dominavam e evidentemente
o poder que exerciam também se extinguiria. Não foi por acaso que, sem que se
estabelecessem acordos formais, deixaram de atacar uns aos outros com bombas
atômicas. Isso não significa que não continuassem a fabricá-las. Pelo
contrário! Os grandes impérios trataram de acumulá-las com a intenção de
utilizá-las no momento que julgassem oportuno.
(...)
Winston manteve-se atento às informações trazidas pelo texto... Leu a
respeito dos tipos de equipamentos que vinham se tornando mais utilizados
durante as guerras, entre eles os helicópteros, aviões não tripulados (drones)
e as fortalezas flutuantes. Os antigos aviões de bombardeio e os couraçados
tinham se tornado armas do passado. Isso à parte, de acordo com o “livro
proibido”, não se notavam maiores avanços que pudessem significar mudanças
significativas na “arte de se fazer a guerra”. E tanto é verdade que tanques
blindados, submarinos, torpedos, granadas, metralhadoras e fuzis continuavam a
ser fabricados e utilizados.
As notícias a respeito dos
conflitos davam conta de inúmeras baixas, mas nada que se pudesse comparar aos
milhões de mortos das guerras passadas. Nenhum dos três grandes impérios
promovia movimentações mais ousadas de suas tropas porque não podiam ter
certeza de que se sairiam vitoriosos das manobras... De certo modo isso ajuda a
explicar a menor mortandade verificada nos conflitos.
Por mais contraditório que
possa parecer, os ataques de maior impacto vinham sendo deflagrados contra
aliados... E isso era estratégia comum aos três grandes impérios. A traição
possibilitava a tomada de pontos estratégicos em torno do “novo rival” e a
construção de pacto de amizade com o outrora inimigo...
Vimos anteriormente que
essa dinâmica fazia parte do ciclo dos conflitos e acordos. No período marcado
pelos acertos, as partes se dedicavam à construção de novos armamentos e sua
instalação em pontos estratégicos. Permanecia a expectativa pelo momento em que
fossem disparados de uma só vez. Todavia o plano servia muito mais para
acautelar os adversários, já que se sabia dos inconvenientes de tal operação...
Desse modo, os beligerantes posicionavam suas peças num tabuleiro sem combates
diretos e abertos.
(...)
Conflitos de fato ocorriam
nas regiões que eram disputadas pelos impérios “em torno do Equador e do Polo
Norte”. Os lances de amaças contavam muito mais na guerra e jamais os
contendores invadiam o território dos inimigos.
E não é porque não houvesse
condições para isso... A própria geografia colocava a Eurásia em plenas
condições de efetuar uma invasão à Grã-Bretanha, já que ela faz parte da
Europa, que era dominada pelos eurasianos... Por sua vez, a Oceania tinha
plenas condições de “levar suas fronteiras até o Reno ou o Vístula”. E por que
isso não ocorria?
O “livro proibido” concluía que as fronteiras entre os impérios eram
arbitrárias... Apesar de não terem firmado nenhum compromisso a respeito, as
grandes potências respeitavam o “princípio de integração cultural” de cada um.
E exemplificava a inconveniência da invasão citando um hipotético ataque da
Oceania aos territórios que por muito tempo ficaram conhecidos como França e
Alemanha... Caso isso ocorresse, seria preciso eliminar todos os habitantes,
algo que se configurava demasiadamente complexo. Outra opção seria “assimilar
as populações” que, ainda de acordo com o “livro proibido”, contavam cerca de
“cem milhões de pessoas”.
Nenhum dos três impérios tinha condições de realizar invasões como a que
foi apresentada anteriormente. Assim cada um procurava evitar que sua gente
tivesse contato com estrangeiros... E isso valia até mesmo para os aliados do
momento. O máximo que se permitia eram os desfiles abertos de prisioneiros de
guerra ou dos escravos trazidos da África.
Fronteiras não eram atravessadas pelas pessoas,
apenas por bombas-foguete... Na Oceania muitas outras restrições eram impostas
a partir dessas. Uma delas proibia os cidadãos de aprenderem línguas
estrangeiras. Certamente isso ocorria nos demais impérios, pois em cada um
deles os dirigentes entendiam que qualquer intercâmbio levaria o povo a
perceber que mentiam a respeito do que se propagava a respeito da gente
estrangeira... Os súditos concluiriam que na verdade os povos dos demais impérios
viviam de modo semelhante a eles.
Isso era simplesmente
inaceitável. De modo algum se desejava que a população descobrisse que as
condições dos demais eram idênticas... Então se mantinha uma espécie de “cordão
sanitário”, evitando-se que as pessoas comuns perdessem “o medo, o ódio e o
sentido de razão permanente”.
Daí
resultava que regiões definidas, como “a Pérsia, o Egito, Java ou o Ceilão”,
passassem constantemente do domínio de um império para outro sem maiores
traumas.
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/10/1984-de-george-orwell-filosofias-que.html
Leia: “1984”. Companhia Editora Nacional.
Um
abraço,
Prof.Gilberto