terça-feira, 19 de outubro de 2021

“1984”, de George Orwell - a respeito da grande mortandade provocada pelas guerras nucleares a partir da segunda metade da década de 1940; armas obsoletas, modernas e as mais usais nas “guerras modernas” de menor mortandade; dos inconvenientes das invasões aos territórios dos grandes impérios; sobre o mecanismo de troca de inimigos e aliados; explicando o fomento à aversão aos estrangeiros dos demais impérios

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/10/1984-de-george-orwell-estado-de-guerra.html antes de ler esta postagem:

Embora os três grandes impérios procurassem descobrir uma fórmula espetacular que possibilitasse a construção de armamentos poderosos, a conhecida bomba atômica tinha efeito devastador e dificilmente seria superada por qualquer outro invento. O “livro proibido” destacava que durante as guerras que ocorreram a partir da segunda metade da década de 1940 inúmeras delas foram lançadas sobre a Europa, América do Norte e a Rússia europeia, causando destruição avassaladora nos muitos centros industriais.
Logo os dirigentes políticos entenderam que a utilização dos artefatos nucleares em grande escala ocasionaria a destruição completa dos territórios que dominavam e evidentemente o poder que exerciam também se extinguiria. Não foi por acaso que, sem que se estabelecessem acordos formais, deixaram de atacar uns aos outros com bombas atômicas. Isso não significa que não continuassem a fabricá-las. Pelo contrário! Os grandes impérios trataram de acumulá-las com a intenção de utilizá-las no momento que julgassem oportuno.
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Winston manteve-se atento às informações trazidas pelo texto... Leu a respeito dos tipos de equipamentos que vinham se tornando mais utilizados durante as guerras, entre eles os helicópteros, aviões não tripulados (drones) e as fortalezas flutuantes. Os antigos aviões de bombardeio e os couraçados tinham se tornado armas do passado. Isso à parte, de acordo com o “livro proibido”, não se notavam maiores avanços que pudessem significar mudanças significativas na “arte de se fazer a guerra”. E tanto é verdade que tanques blindados, submarinos, torpedos, granadas, metralhadoras e fuzis continuavam a ser fabricados e utilizados.
As notícias a respeito dos conflitos davam conta de inúmeras baixas, mas nada que se pudesse comparar aos milhões de mortos das guerras passadas. Nenhum dos três grandes impérios promovia movimentações mais ousadas de suas tropas porque não podiam ter certeza de que se sairiam vitoriosos das manobras... De certo modo isso ajuda a explicar a menor mortandade verificada nos conflitos.
Por mais contraditório que possa parecer, os ataques de maior impacto vinham sendo deflagrados contra aliados... E isso era estratégia comum aos três grandes impérios. A traição possibilitava a tomada de pontos estratégicos em torno do “novo rival” e a construção de pacto de amizade com o outrora inimigo...
Vimos anteriormente que essa dinâmica fazia parte do ciclo dos conflitos e acordos. No período marcado pelos acertos, as partes se dedicavam à construção de novos armamentos e sua instalação em pontos estratégicos. Permanecia a expectativa pelo momento em que fossem disparados de uma só vez. Todavia o plano servia muito mais para acautelar os adversários, já que se sabia dos inconvenientes de tal operação... Desse modo, os beligerantes posicionavam suas peças num tabuleiro sem combates diretos e abertos.
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Conflitos de fato ocorriam nas regiões que eram disputadas pelos impérios “em torno do Equador e do Polo Norte”. Os lances de amaças contavam muito mais na guerra e jamais os contendores invadiam o território dos inimigos.
E não é porque não houvesse condições para isso... A própria geografia colocava a Eurásia em plenas condições de efetuar uma invasão à Grã-Bretanha, já que ela faz parte da Europa, que era dominada pelos eurasianos... Por sua vez, a Oceania tinha plenas condições de “levar suas fronteiras até o Reno ou o Vístula”. E por que isso não ocorria?
O “livro proibido” concluía que as fronteiras entre os impérios eram arbitrárias... Apesar de não terem firmado nenhum compromisso a respeito, as grandes potências respeitavam o “princípio de integração cultural” de cada um. E exemplificava a inconveniência da invasão citando um hipotético ataque da Oceania aos territórios que por muito tempo ficaram conhecidos como França e Alemanha... Caso isso ocorresse, seria preciso eliminar todos os habitantes, algo que se configurava demasiadamente complexo. Outra opção seria “assimilar as populações” que, ainda de acordo com o “livro proibido”, contavam cerca de “cem milhões de pessoas”.
Nenhum dos três impérios tinha condições de realizar invasões como a que foi apresentada anteriormente. Assim cada um procurava evitar que sua gente tivesse contato com estrangeiros... E isso valia até mesmo para os aliados do momento. O máximo que se permitia eram os desfiles abertos de prisioneiros de guerra ou dos escravos trazidos da África.
Fronteiras não eram atravessadas pelas pessoas, apenas por bombas-foguete... Na Oceania muitas outras restrições eram impostas a partir dessas. Uma delas proibia os cidadãos de aprenderem línguas estrangeiras. Certamente isso ocorria nos demais impérios, pois em cada um deles os dirigentes entendiam que qualquer intercâmbio levaria o povo a perceber que mentiam a respeito do que se propagava a respeito da gente estrangeira... Os súditos concluiriam que na verdade os povos dos demais impérios viviam de modo semelhante a eles.
Isso era simplesmente inaceitável. De modo algum se desejava que a população descobrisse que as condições dos demais eram idênticas... Então se mantinha uma espécie de “cordão sanitário”, evitando-se que as pessoas comuns perdessem “o medo, o ódio e o sentido de razão permanente”.
Daí resultava que regiões definidas, como “a Pérsia, o Egito, Java ou o Ceilão”, passassem constantemente do domínio de um império para outro sem maiores traumas.
Leia: “1984”. Companhia Editora Nacional.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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