segunda-feira, 1 de novembro de 2021

“1984”, de George Orwell – estrutura do IngSoc preparada para a formação de dirigentes capacitados e dedicados a barrar a atuação de opositores afoitos pelo poder; sociedade sob o domínio do Partido e imagem de um Grande Irmão imortal; a respeito dos estratos inferiores e sobre a ocupação dos postos de direção no Partido Interno; confundindo os povos dominados com mínima centralização

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/10/1984-de-george-orwell-tatica-da.html antes de ler esta postagem:

O “livro proibido” praticamente descartava que o IngSoc pudesse sofrer algum revés... Dificilmente ocorreria de os dirigentes vacilarem em relação à própria ideologia. E muito menos permitiriam o surgimento de algum grupo de opositores mais fascinados pela ideia de chegarem ao poder.
O Partido sabia que precisava trabalhar de modo a formar consciências submetidas à sua hegemonia. E era na questão da Educação que se concentrava a possibilidade de fazer com que isso prevalecesse indefinitivamente... Os que participavam da direção deviam receber a formação adequada para as funções as quais se encarregariam. Isso também se aplicava aos que pertenciam ao “executivo”, grupo bem maior e abaixo dos diretores. Já em relação à massa que fazia parte da “classe baixa”, a intenção era proporcionar uma influência negativa...
(...)
A partir do anteriormente exposto, conclui-se facilmente o modo como a sociedade estava estruturada na Oceania. No topo estava o onipotente Grande Irmão. A ele se atribuía todas as virtudes, vitórias em batalhas, o saber e sucessos atingidos pelo governo.
A respeito da grande liderança política, o livro garantia que ninguém jamais o havia visto pessoalmente, apenas nos enormes cartazes espalhados pelas cidades... Conhecia-se sua voz desde as teletelas. Além disso, o texto era incisivo ao sentenciar que o Grande Irmão nunca morreria, e sequer sabia-se com certeza a data de seu nascimento... Apesar disso, em sua figura concentrava-se a “visão” do Partido, sua forma tal como se pretendia que o mundo o conhecesse. E para os cidadãos, a imagem do grande chefe funcionava como:

                   “ponte focal para o amor, medo, reverência, emoções que podem mais facilmente ser sentidas em relação a um indivíduo do que a uma organização”.

Na posição logo abaixo do grande líder, a pirâmide social apresentava o Partido Interno e seus membros, algo em torno de seis milhões de pessoas, o que significava “menos de dois por cento da população da Oceania” e podia ser entendido como o “cérebro” do sistema.
Mais abaixo estava o Partido Externo que agrupava o pessoal que faria o papel de “braços do Estado”, já que, de fato, era quem o colocava para funcionar... A “classe baixa” era comumente chamada de “proles”, uma “massa muda” que provavelmente correspondesse a oitenta e cinco por cento da população.
Na Oceania havia ainda os escravos, mas esses habitavam os territórios equatoriais disputados pelos três impérios que se revezavam nas explorações conforme se tornavam senhores locais. Os escravos, portanto, não constituíam grupo permanente e tampouco pode-se dizer que fizessem parte da estrutura.
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Também não se poderia dizer que a condição de cada um na sociedade fosse hereditária. E mesmo os filhos dos membros do Partido Interno não eram automaticamente filiados... A inscrição em qualquer segmento do Partido dependia dos resultados dos exames a que os jovens de dezesseis anos eram submetidos.
Pelo que se podia observar, em relação à administração dos territórios conquistados, o Partido não se pautava por discriminações ou por privilegiar algumas províncias em detrimento de outras... O “livro proibido” salientava que entre os que ocupavam elevados postos na estrutura partidária podiam ser encontrados “judeus, negros e sul-americanos de puro sangue índio”. Além disso, dentre os “naturais” de cada região eram escolhidos os que participariam da administração.
Como consequência da política de aculturação da gente nativa e de sua inserção em postos estratégicos, não se dizia que ocorria algum tipo de colonização predatória por parte de um império com sede em distante continente. E a rigor, o fato de a Oceania não possuir uma “capital física” e de ninguém saber a respeito do paradeiro de seu grande líder também contribuía para a acomodação geral.
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A única ressalva talvez fosse em relação ao inglês, tido como língua tradicionalmente aceita nas conversações, e à definição da “novilíngua” como “idioma oficial”.
Por tudo o que se afirmou até aqui, não se considerava que a Oceania fosse um império centralizador... Prevalecia entre os que governavam a obediência à doutrina partidária, e entre eles não havia laços de consanguinidade.
Notava-se uma rigidez na estratificação da sociedade... E de tal modo que seríamos tentados a dizer que era a hereditariedade que a definia. Contribuía para isso o fato de não haver grande mobilidade social, algo que se percebia nas sociedades capitalistas de outrora e mesmo naquelas anteriores à industrialização.
O Partido permitia algum intercâmbio entre os segmentos “Interno” e “Externo” com o objetivo de excluir os quadros mais precários do Partido Interno e, ao mesmo tempo, neutralizar os “mais ambiciosos do Partido Externo”, levando-os a uma condição “mais elevada”.
Leia: “1984”. Companhia Editora Nacional.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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