Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/10/1984-de-george-orwell-tatica-da.html antes
de ler esta postagem:
O “livro proibido” praticamente descartava que o
IngSoc pudesse sofrer algum revés... Dificilmente ocorreria de os dirigentes
vacilarem em relação à própria ideologia. E muito menos permitiriam o
surgimento de algum grupo de opositores mais fascinados pela ideia de chegarem
ao poder.
O Partido sabia que
precisava trabalhar de modo a formar consciências submetidas à sua hegemonia. E
era na questão da Educação que se concentrava a possibilidade de fazer com que
isso prevalecesse indefinitivamente... Os que participavam da direção deviam
receber a formação adequada para as funções as quais se encarregariam. Isso
também se aplicava aos que pertenciam ao “executivo”, grupo bem maior e abaixo
dos diretores. Já em relação à massa que fazia parte da “classe baixa”, a
intenção era proporcionar uma influência negativa...
(...)
A partir do anteriormente exposto, conclui-se facilmente o modo como a
sociedade estava estruturada na Oceania. No topo estava o onipotente Grande
Irmão. A ele se atribuía todas as virtudes, vitórias em batalhas, o saber e
sucessos atingidos pelo governo.
A
respeito da grande liderança política, o livro garantia que ninguém jamais o
havia visto pessoalmente, apenas nos enormes cartazes espalhados pelas
cidades... Conhecia-se sua voz desde as teletelas. Além disso, o texto era
incisivo ao sentenciar que o Grande Irmão nunca morreria, e sequer sabia-se com
certeza a data de seu nascimento... Apesar disso, em sua figura concentrava-se
a “visão” do Partido, sua forma tal como se pretendia que o mundo o conhecesse.
E para os cidadãos, a imagem do grande chefe funcionava como:
“ponte focal para o amor,
medo, reverência, emoções que podem mais facilmente ser sentidas em relação a
um indivíduo do que a uma organização”.
Na
posição logo abaixo do grande líder, a pirâmide social apresentava o Partido
Interno e seus membros, algo em torno de seis milhões de pessoas, o que
significava “menos de dois por cento da população da Oceania” e podia ser
entendido como o “cérebro” do sistema.
Mais abaixo estava o
Partido Externo que agrupava o pessoal que faria o papel de “braços do Estado”,
já que, de fato, era quem o colocava para funcionar... A “classe baixa” era
comumente chamada de “proles”, uma “massa muda” que provavelmente
correspondesse a oitenta e cinco por cento da população.
Na Oceania havia
ainda os escravos, mas esses habitavam os territórios equatoriais disputados
pelos três impérios que se revezavam nas explorações conforme se tornavam
senhores locais. Os escravos, portanto, não constituíam grupo permanente e tampouco
pode-se dizer que fizessem parte da estrutura.
(...)
Também não se poderia dizer que a condição de cada um na sociedade fosse
hereditária. E mesmo os filhos dos membros do Partido Interno não eram
automaticamente filiados... A inscrição em qualquer segmento do Partido
dependia dos resultados dos exames a que os jovens de dezesseis anos eram
submetidos.
Pelo que se podia observar, em relação à administração dos territórios
conquistados, o Partido não se pautava por discriminações ou por privilegiar
algumas províncias em detrimento de outras... O “livro proibido” salientava que
entre os que ocupavam elevados postos na estrutura partidária podiam ser
encontrados “judeus, negros e sul-americanos de puro sangue índio”. Além disso,
dentre os “naturais” de cada região eram escolhidos os que participariam da
administração.
Como consequência da política de aculturação da
gente nativa e de sua inserção em postos estratégicos, não se dizia que ocorria
algum tipo de colonização predatória por parte de um império com sede em
distante continente. E a rigor, o fato de a Oceania não possuir uma “capital
física” e de ninguém saber a respeito do paradeiro de seu grande líder também
contribuía para a acomodação geral.
(...)
A única ressalva
talvez fosse em relação ao inglês, tido como língua tradicionalmente aceita nas
conversações, e à definição da “novilíngua” como “idioma oficial”.
Por tudo o que se afirmou até aqui, não se considerava que a Oceania
fosse um império centralizador... Prevalecia entre os que governavam a
obediência à doutrina partidária, e entre eles não havia laços de
consanguinidade.
Notava-se
uma rigidez na estratificação da sociedade... E de tal modo que seríamos
tentados a dizer que era a hereditariedade que a definia. Contribuía para isso
o fato de não haver grande mobilidade social, algo que se percebia nas
sociedades capitalistas de outrora e mesmo naquelas anteriores à
industrialização.
O
Partido permitia algum intercâmbio entre os segmentos “Interno” e “Externo” com
o objetivo de excluir os quadros mais precários do Partido Interno e, ao mesmo
tempo, neutralizar os “mais ambiciosos do Partido Externo”, levando-os a uma
condição “mais elevada”.
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/11/1984-de-george-orwell-perseguicao-aos.html
Leia: “1984”. Companhia Editora Nacional.
Um
abraço,
Prof.Gilberto