Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/10/1984-de-george-orwell-sobre-o-momento.html?zx=d66f942cacdd55dd antes
de ler esta postagem:
Na sequência de “1984” lemos vários recortes do
“livro de Goldstein” enviado por O’Brien a Winston.
Depois dos dias de
extenuante trabalho nas falsificações do passado para ajustar a versão oficial
sobre a guerra contra a Lestásia, ele pôde iniciar a leitura enquanto aguardava
a chegada de Júlia no quarto sobre a loja de Charrington.
Vimos que se tratava de uma encadernação envelhecida e bem gasta... A capa
não trazia qualquer título.
Na abertura lia-se a
inscrição “Teoria e Prática do Coletivismo Oligárquico, por Emmanuel
Goldstein”. Conforme o informado na última postagem, Winston abriu o primeiro
capítulo “Ignorância é Força”.
(...)
O rapaz não se deteve na
totalidade da primeira parte que, em linhas gerais destacava que os teóricos da
História da Humanidade escreveram a respeito da dinâmica das sociedades
protagonizada por três classes (“alta, média e baixa”) desde o fim da
Pré-História. O texto explicava que, apesar das várias subdivisões sugeridas
pelos estudiosos, a “estrutura essencial da sociedade” permaneceu a mesma, pois
persistiu o a relação marcada por disputas entre os diversos grupos.
Winston interrompeu a
leitura quando chegou ao ponto sobre a incompatibilidade de conciliação das
classes, já que seus objetivos “são inteiramente irreconciliáveis”. Deixou de
se concentrar no texto para pensar sobre o conforto que desfrutava... Nenhuma
teletela ou espionagem de agentes da repressão a sondar seus movimentos. Em vez
disso, o conforto da velha poltrona e “o ar doce do verão” dominando o
quarto-esconderijo.
O sossego o convidou a
prestar atenção à gritaria das crianças em brincadeiras pelas ruas do bairro...
O único ruído no quarto era o do mecanismo do relógio que fazia avançar os
ponteiros.
Maravilhado pela sensação
de bem-estar, estirou o corpo na poltrona e repousou os pés junto à lareira e
retomou a leitura. Voltou a abrir o livro, mas não na parte em que havia parado
e sim no “Capítulo III: Guerra é Paz”.
(...)
O conteúdo do capítulo dizia respeito à “geopolítica contemporânea” e
mais precisamente sobre a divisão do mundo em três potências, algo que já se
podia prever desde a primeira metade do século vinte.
Quem quisesse compreender a questão, devia saber que a Rússia havia
dominado a Europa continental enquanto que os Estados Unidos anexaram o Império
Britânico. Daí formou-se dois impérios, respectivamente Eurásia e Oceania... A
outra grande potência, embora menor do que as duas anteriores era a Lestásia,
que se estabeleceu depois de vários anos de conflitos.
É certo que as delimitações territoriais de cada
império foram resultado de muitos conflitos bélicos e variavam de acordo com a
evolução dos mesmos. Apesar disso podia-se dizer que os limites geográficos
eram mais ou menos reconhecidos. Desse modo, a Eurásia abrangia vastas regiões
que correspondiam ao norte da Europa e da Ásia, desde Portugal ao Estreito de
Bering. Da Oceania faziam parte as três porções do continente Americano, as
muitas ilhas espalhadas pelo Oceano Atlântico (entre elas, as ilhas
Britânicas), as ilhas do entorno australiano e o sul da África... Já a
Lestásia, que era o menor dos impérios, abrangia a China, o Japão, Manchúria,
Mongólia, Tibete e países mais ao sul da China. Este império buscava
estabelecer uma fronteira mais sólida em sua frente ocidental e eventualmente
mobilizava tropas com o objetivo de expandir os domínios.
(...)
Ainda a respeito desses
três impérios, o livro ensinava que viviam em permanente conflito “nos últimos
vinte e cinco anos”... Alianças sempre sujeitas a rompimentos e acordos diplomáticos
desrespeitados tornavam instável o panorama internacional. Se no começo do
século XX a guerra havia sido marcada por tentativas de aniquilação do inimigo,
as décadas finais vinham mostrando que a destruição total do adversário se
tornara impraticável, e isso passou a ser um limitador dos objetivos
expansionistas...
Sem que se evidenciasse um objetivo concreto para as campanhas
militares, aos poucos as divergências ideológicas se tornaram tão ofuscadas que
dificilmente se poderia dizer que de fato continuavam a existir. Isso à parte,
a guerra prosseguiu incessante e com toda crueldade, sem jamais deixar de fazer
parte do ideário das nações. As atrocidades daí decorrentes tornaram-se cada
vez mais aceitas e até incorporadas... Entre
elas, “estupros, pilhagens, matança de crianças e escravização de povoações
inteiras”. As punições aos prisioneiros passaram a ser inspiradas nos processos
medievais e incluíam o suplício em água fervente e o sepultamento de
sentenciados ainda vivos para que morressem sufocados pelo enterramento.
O texto destacava ainda que
as operações de guerra vinham sendo definidas por uma pequena quantidade de
especialistas, e que o número de vítimas diminuía conforme os equipamentos se
tornavam mais eficientes. Os combates como os que ocorriam no passado passaram
a ter palco nas áreas de fronteira, locais desconhecidos da gente comum... As
chamadas Fortalezas Flutuantes, que haviam sido desenvolvidas para proteger as
rotas marítimas, se tornaram áreas de confronto aberto. Por isso eram
constantemente reforçadas por tropas e modernas armas.
(...)
A
guerra estava mudada... Os centros urbanos eram afetados basicamente pela
escassez dos gêneros de consumo e pelos ataques de bombas-foguete que
provocavam destruição localizada e morte de algumas dezenas de habitantes.
Leia: “1984”. Companhia Editora Nacional.
Um
abraço,
Prof.Gilberto