terça-feira, 5 de outubro de 2021

“1984”, de George Orwell - Winston lê trecho do capítulo I a respeito da divisão das sociedades em três classes que vivem em permanente incompatibilidade por terem objetivos irreconciliáveis; experimentando o conforto e a segurança do aconchegante quarto desprovido de teletela; leitura do início do capítulo III a respeito da geopolítica, territórios de cada império e confronto; sobre o tipo de guerra que se travava, diminuição do número de envolvidos, conflitos em fronteiras desconhecidas pela gente comum, fortalezas flutuantes reforçadas por tropas e modernos equipamentos bélicos


Na sequência de “1984” lemos vários recortes do “livro de Goldstein” enviado por O’Brien a Winston.
Depois dos dias de extenuante trabalho nas falsificações do passado para ajustar a versão oficial sobre a guerra contra a Lestásia, ele pôde iniciar a leitura enquanto aguardava a chegada de Júlia no quarto sobre a loja de Charrington.
Vimos que se tratava de uma encadernação envelhecida e bem gasta... A capa não trazia qualquer título.
Na abertura lia-se a inscrição “Teoria e Prática do Coletivismo Oligárquico, por Emmanuel Goldstein”. Conforme o informado na última postagem, Winston abriu o primeiro capítulo “Ignorância é Força”.
(...) 
O rapaz não se deteve na totalidade da primeira parte que, em linhas gerais destacava que os teóricos da História da Humanidade escreveram a respeito da dinâmica das sociedades protagonizada por três classes (“alta, média e baixa”) desde o fim da Pré-História. O texto explicava que, apesar das várias subdivisões sugeridas pelos estudiosos, a “estrutura essencial da sociedade” permaneceu a mesma, pois persistiu o a relação marcada por disputas entre os diversos grupos.
Winston interrompeu a leitura quando chegou ao ponto sobre a incompatibilidade de conciliação das classes, já que seus objetivos “são inteiramente irreconciliáveis”. Deixou de se concentrar no texto para pensar sobre o conforto que desfrutava... Nenhuma teletela ou espionagem de agentes da repressão a sondar seus movimentos. Em vez disso, o conforto da velha poltrona e “o ar doce do verão” dominando o quarto-esconderijo.
O sossego o convidou a prestar atenção à gritaria das crianças em brincadeiras pelas ruas do bairro... O único ruído no quarto era o do mecanismo do relógio que fazia avançar os ponteiros.
Maravilhado pela sensação de bem-estar, estirou o corpo na poltrona e repousou os pés junto à lareira e retomou a leitura. Voltou a abrir o livro, mas não na parte em que havia parado e sim no “Capítulo III: Guerra é Paz”.
(...) 
O conteúdo do capítulo dizia respeito à “geopolítica contemporânea” e mais precisamente sobre a divisão do mundo em três potências, algo que já se podia prever desde a primeira metade do século vinte.
Quem quisesse compreender a questão, devia saber que a Rússia havia dominado a Europa continental enquanto que os Estados Unidos anexaram o Império Britânico. Daí formou-se dois impérios, respectivamente Eurásia e Oceania... A outra grande potência, embora menor do que as duas anteriores era a Lestásia, que se estabeleceu depois de vários anos de conflitos.
É certo que as delimitações territoriais de cada império foram resultado de muitos conflitos bélicos e variavam de acordo com a evolução dos mesmos. Apesar disso podia-se dizer que os limites geográficos eram mais ou menos reconhecidos. Desse modo, a Eurásia abrangia vastas regiões que correspondiam ao norte da Europa e da Ásia, desde Portugal ao Estreito de Bering. Da Oceania faziam parte as três porções do continente Americano, as muitas ilhas espalhadas pelo Oceano Atlântico (entre elas, as ilhas Britânicas), as ilhas do entorno australiano e o sul da África... Já a Lestásia, que era o menor dos impérios, abrangia a China, o Japão, Manchúria, Mongólia, Tibete e países mais ao sul da China. Este império buscava estabelecer uma fronteira mais sólida em sua frente ocidental e eventualmente mobilizava tropas com o objetivo de expandir os domínios.
(...) 
Ainda a respeito desses três impérios, o livro ensinava que viviam em permanente conflito “nos últimos vinte e cinco anos”... Alianças sempre sujeitas a rompimentos e acordos diplomáticos desrespeitados tornavam instável o panorama internacional. Se no começo do século XX a guerra havia sido marcada por tentativas de aniquilação do inimigo, as décadas finais vinham mostrando que a destruição total do adversário se tornara impraticável, e isso passou a ser um limitador dos objetivos expansionistas...
Sem que se evidenciasse um objetivo concreto para as campanhas militares, aos poucos as divergências ideológicas se tornaram tão ofuscadas que dificilmente se poderia dizer que de fato continuavam a existir. Isso à parte, a guerra prosseguiu incessante e com toda crueldade, sem jamais deixar de fazer parte do ideário das nações. As atrocidades daí decorrentes tornaram-se cada vez mais aceitas e até incorporadas...  Entre elas, “estupros, pilhagens, matança de crianças e escravização de povoações inteiras”. As punições aos prisioneiros passaram a ser inspiradas nos processos medievais e incluíam o suplício em água fervente e o sepultamento de sentenciados ainda vivos para que morressem sufocados pelo enterramento.
O texto destacava ainda que as operações de guerra vinham sendo definidas por uma pequena quantidade de especialistas, e que o número de vítimas diminuía conforme os equipamentos se tornavam mais eficientes. Os combates como os que ocorriam no passado passaram a ter palco nas áreas de fronteira, locais desconhecidos da gente comum... As chamadas Fortalezas Flutuantes, que haviam sido desenvolvidas para proteger as rotas marítimas, se tornaram áreas de confronto aberto. Por isso eram constantemente reforçadas por tropas e modernas armas.
(...) 
A guerra estava mudada... Os centros urbanos eram afetados basicamente pela escassez dos gêneros de consumo e pelos ataques de bombas-foguete que provocavam destruição localizada e morte de algumas dezenas de habitantes.
Leia: “1984”. Companhia Editora Nacional.
Um abraço,
Prof.Gilberto

Páginas