sábado, 23 de outubro de 2021

“1984”, de George Orwell - de livros agradáveis que trazem conteúdos com os quais concordamos; esgotada pelo trabalho da semana, Júlia chega ao quarto; o dia termina em agradável, Winston quer prosseguir a leitura e compartilhá-la com a namorada; no pátio os afazeres da mulher proletária parecem não ter fim; retomando o primeiro capítulo a respeito das divergências entre as três classes que compõem a sociedade desde os primórdios

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/10/1984-de-george-orwell-limites-da.html antes de ler esta postagem:

Depois da primeira longa parte de leitura, Winston achou que o “livro proibido” havia sido escrito por alguém que pensava como ele... A diferença era que devia se tratar de um tipo bem inteligente, “mais sistemático e menos medroso”. Gostou do conteúdo, e avaliou que os livros que achamos mais interessantes são os que anunciam o que já sabemos.
Abriu novamente o primeiro capítulo, mas antes que voltasse a ler ouviu os passos de Júlia ao subir a escada. Não haviam se encontrado durante a Semana de Ódio e certamente estavam com saudades um do outro...
Assim que entrou, a moça atirou sua bolsa de ferramentas no chão e envolveu-se nos braços do namorado. Ele foi dizendo que havia recebido o prometido livro... Ela respondeu sem demonstrar muito interesse e se ajeitou para preparar um café.
(...)
O casal se acomodou na cama... Júlia trazia o cansaço do trabalho e necessitava de uma boa soneca. O entardecer era propício, já que a atmosfera era das mais agradáveis. O frescor do fim do dia levou-os a puxar a colcha.
Winston notou que a vizinha acabava de começar a tarefa de pendurar panos no varal e cantar animadamente... Com tal frequência a mulher trabalhava naquele tanque que parecia ser parte natural do pátio. O rapaz pensou sobre isso ao mesmo tempo em que retomava o livro com a intenção de estudá-lo com Júlia... Disse-lhe que também ela precisava ler como todos os que faziam parte da “Fraternidade”. A moça estava com os olhos cerrados e disse sonolenta que gostaria de ouvi-lo em sua leitura, pois podia aproveitar e explicar os trechos.
(...)
Eram seis da tarde quando Winston abriu a página do Capítulo I: “Ignorância é Força”.
Releu a parte inicial que fazia citações a respeito das três classes sociais que habitam o mundo desde o início de sua história, “alta, média e baixa”, sobre o modo como os estudiosos costumam subdividi-las. Na sequência, perguntou à Júlia se permanecia acordada e atenta à leitura... Ela confirmou, disse que estava ouvindo e pediu que continuasse, pois estava achando “maravilhoso”.
Winston continuou na parte a respeito da permanência das três classes apesar das muitas agitações históricas. Cada uma segue com objetivos próprios e irreconciliáveis em relação às outras. Basicamente a “classe alta” pretende manter-se no topo, a “média” ambiciona tomar a posição da alta, enquanto a “baixa” (que raramente se articula em torno de um objetivo, pois passa a vida “esmagada pela monotonia do trabalho cotidiano” e apenas eventualmente toma consciência sobre a realidade externa à própria existência) pretende acabar com as distinções e estabelecer uma sociedade igualitária.
(...)
O “livro proibido” ensinava que a História está marcada pelos conflitos que se repetem e são cíclicos... Por tempos de longa duração a “classe alta” se mantém hegemônica e estável no poder, mas sempre chega o momento em que os mandatários sofrem abalos que muitas vezes se relacionam à falta de confiança ou porque já não se veem capazes de se manter no comando... Eventualmente as duas coisas ocorrem simultaneamente e então a “classe média” toma o poder. Nesses momentos, os principais agentes da mudança conseguem convencer a “classe baixa” de que também lutam por liberdade e justiça... Logo que atinge seus objetivos, a “classe média” torna-se “alta” e devolve a “classe baixa” à sua miserável condição.
Por algum tempo vive-se a estabilidade, mas as desavenças recomeçam... O caso é que das três, a “classe baixa” é a única que jamais obtém qualquer êxito, ainda que temporário, em seus objetivos.
(...)
Na sequência, o capítulo primeiro esclarecia que apesar da permanente luta de classes, a História não deixa de apontar os progressos de ordem material e até podia se constatar que as condições físicas dos seres humanos haviam melhorado muito com o passar dos séculos... Isso à parte, não se constatou que crescimento da riqueza, mudanças de comportamento, reformas ou revoluções tivessem favorecido a igualdade humana. Assim, para a “classe baixa”, as transformações só resultaram na alteração dos que ditam as ordens.
Em fins do século XIX, teóricos dos movimentos sociais apontaram o caráter cíclico do desenvolvimento da História e definiram a desigualdade como “lei inalterável da vida humana”. Isso não quer dizer que traziam uma novidade para os estudiosos, até porque muitos já pensavam dessa maneira, todavia o modo como expuseram a tese representava “uma transformação significativa”.
Desde os tempos mais antigos a “classe alta” já defendia a necessidade de se garantir a organização social a partir da hierarquia... Reis, nobres, membros do clero, magistrados e aristocratas que, de acordo com o texto, eram os verdadeiros “parasitas sociais”. A “classe baixa”, além de submetida a uma labuta constante, jamais dera conta de que passava por processos de aliciamento com “promessas de recompensa num imaginário além-túmulo”.
Leia: “1984”. Companhia Editora Nacional.
Um abraço,
Prof.Gilberto

Páginas