Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/10/1984-de-george-orwell-limites-da.html antes
de ler esta postagem:
Depois da primeira longa parte de leitura,
Winston achou que o “livro proibido” havia sido escrito por alguém que pensava
como ele... A diferença era que devia se tratar de um tipo bem inteligente,
“mais sistemático e menos medroso”. Gostou do conteúdo, e avaliou que os livros
que achamos mais interessantes são os que anunciam o que já sabemos.
Abriu novamente o
primeiro capítulo, mas antes que voltasse a ler ouviu os passos de Júlia ao
subir a escada. Não haviam se encontrado durante a Semana de Ódio e certamente
estavam com saudades um do outro...
Assim que entrou, a moça atirou sua bolsa de ferramentas no chão e
envolveu-se nos braços do namorado. Ele foi dizendo que havia recebido o
prometido livro... Ela respondeu sem demonstrar muito interesse e se ajeitou
para preparar um café.
(...)
O
casal se acomodou na cama... Júlia trazia o cansaço do trabalho e necessitava
de uma boa soneca. O entardecer era propício, já que a atmosfera era das mais
agradáveis. O frescor do fim do dia levou-os a puxar a colcha.
Winston notou que a
vizinha acabava de começar a tarefa de pendurar panos no varal e cantar animadamente...
Com tal frequência a mulher trabalhava naquele tanque que parecia ser parte
natural do pátio. O rapaz pensou sobre isso ao mesmo tempo em que retomava o
livro com a intenção de estudá-lo com Júlia... Disse-lhe que também ela
precisava ler como todos os que faziam parte da “Fraternidade”. A moça estava
com os olhos cerrados e disse sonolenta que gostaria de ouvi-lo em sua leitura,
pois podia aproveitar e explicar os trechos.
(...)
Eram
seis da tarde quando Winston abriu a página do Capítulo I: “Ignorância é
Força”.
Releu a parte inicial
que fazia citações a respeito das três classes sociais que habitam o mundo
desde o início de sua história, “alta, média e baixa”, sobre o modo como os
estudiosos costumam subdividi-las. Na sequência, perguntou à Júlia se
permanecia acordada e atenta à leitura... Ela confirmou, disse que estava
ouvindo e pediu que continuasse, pois estava achando “maravilhoso”.
Winston continuou na
parte a respeito da permanência das três classes apesar das muitas agitações
históricas. Cada uma segue com objetivos próprios e irreconciliáveis em relação
às outras. Basicamente a “classe alta” pretende manter-se no topo, a “média”
ambiciona tomar a posição da alta, enquanto a “baixa” (que raramente se
articula em torno de um objetivo, pois passa a vida “esmagada pela monotonia do
trabalho cotidiano” e apenas eventualmente toma consciência sobre a realidade
externa à própria existência) pretende acabar com as distinções e estabelecer
uma sociedade igualitária.
(...)
O “livro proibido” ensinava que a História está marcada pelos conflitos
que se repetem e são cíclicos... Por tempos de longa duração a “classe alta” se
mantém hegemônica e estável no poder, mas sempre chega o momento em que os
mandatários sofrem abalos que muitas vezes se relacionam à falta de confiança
ou porque já não se veem capazes de se manter no comando... Eventualmente as
duas coisas ocorrem simultaneamente e então a “classe média” toma o poder.
Nesses momentos, os principais agentes da mudança conseguem convencer a “classe
baixa” de que também lutam por liberdade e justiça... Logo que atinge seus
objetivos, a “classe média” torna-se “alta” e devolve a “classe baixa” à sua
miserável condição.
Por algum tempo vive-se a estabilidade, mas as desavenças recomeçam... O
caso é que das três, a “classe baixa” é a única que jamais obtém qualquer
êxito, ainda que temporário, em seus objetivos.
(...)
Na sequência, o capítulo primeiro esclarecia que
apesar da permanente luta de classes, a História não deixa de apontar os
progressos de ordem material e até podia se constatar que as condições físicas
dos seres humanos haviam melhorado muito com o passar dos séculos... Isso à
parte, não se constatou que crescimento da riqueza, mudanças de comportamento,
reformas ou revoluções tivessem favorecido a igualdade humana. Assim, para a
“classe baixa”, as transformações só resultaram na alteração dos que ditam as
ordens.
Em fins do século
XIX, teóricos dos movimentos sociais apontaram o caráter cíclico do
desenvolvimento da História e definiram a desigualdade como “lei inalterável da
vida humana”. Isso não quer dizer que traziam uma novidade para os estudiosos,
até porque muitos já pensavam dessa maneira, todavia o modo como expuseram a
tese representava “uma transformação significativa”.
Desde
os tempos mais antigos a “classe alta” já defendia a necessidade de se garantir
a organização social a partir da hierarquia... Reis, nobres, membros do clero,
magistrados e aristocratas que, de acordo com o texto, eram os verdadeiros
“parasitas sociais”. A “classe baixa”, além de submetida a uma labuta constante,
jamais dera conta de que passava por processos de aliciamento com “promessas de
recompensa num imaginário além-túmulo”.
Leia: “1984”. Companhia Editora Nacional.
Um
abraço,
Prof.Gilberto