Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/10/1984-de-george-orwell-winston-le-trecho.html antes
de ler esta postagem:
O capítulo III dava a entender que as motivações
para a guerra haviam mudado muito. É certo que as duas grandes guerras do
início do século XX tiveram suas origens em causas que permaneciam reconhecidas,
sendo entendidas como conflitos que tiveram início e fim. Já os confrontos
posteriores a 1950 deviam ser caracterizados por não serem decisivos e por isso
mesmo, contínuos, de longuíssima duração e sem qualquer previsão de desfecho.
O caso é que passou a
haver um equilíbrio muito grande entre os três grandes impérios... Suas
“defesas naturais” consistiam em obstáculos praticamente intransponíveis para
os inimigos e ninguém se saía definitivamente vencedor das inúmeras batalhas:
“Vastas massas de terra” protegiam a Eurásia, enquanto a vastidão dos oceanos
Pacífico e Atlântico fazia o mesmo pela Oceania... Já a Lestásia possuía
invejável indústria e os melhores e mais bem qualificados agentes de produção.
(...)
Nada havia que justificasse a total destruição dos adversários e, considerando-se
“o ponto de vista material”, nenhum dos grandes impérios se mostrava
interessado pela produção dos demais.
Na
verdade, cada um deles desenvolvia economia autossuficiente e possuía
satisfatório equilíbrio entre o que se produzia e o que era consumido. Assim,
diferentemente do que havia ocorrido nas guerras anteriores, não havia disputa
por mercados... Ao mesmo tempo, a demanda por matérias-primas deixara de ser
uma questão crucial, já que cada império possuía extensas áreas que abrigavam
reservas de tudo o que necessitavam.
Além disso, se havia
algum conflito digno de maior destaque que envolvesse os três impérios, era em
disputa de territórios localizados entre suas fronteiras... Notadamente Tanger,
Brazzaville, Darwin e Hong Kong, que juntos abrigavam vinte por cento da
população mundial. Desse modo, devemos concluir que o conflito que se travava
era pela mão-de-obra.
As
localidades anteriormente citadas e mais a “calota polar setentrional” eram
disputadas pelas potências, mas essas jamais chegavam a dominá-las totalmente. Em
decorrência, verificava-se alternância do domínio estrangeiro em cada uma delas,
ou podia acontecer também de mais de um império ocupar áreas diferentes de um
mesmo território... Em vários casos, a disputa definia alianças que podiam ser
substituídas conforme se desenvolvia os processos de exploração e de
reconhecimento da soberania alheia.
(...)
Ainda a respeito dos
territórios localizados entre as fronteiras dos três grandes impérios, o “livro
proibido” trazia a informação de que além da grande quantidade de mão-de-obra,
eles possuíam cobiçadas reservas de minerais. E mais... Alguns deles produziam
valiosas matérias-primas, como o látex necessário para a fabricação da
borracha.
Boa parte dos nativos
vivia a condição de escravizados... Enquanto “forças de trabalho”, sofriam o
desgaste físico até o momento de serem descartados e substituídos pelos agentes
imperialistas. Aos conquistadores interessava obter recursos para a produção
armamentista que proporcionasse a conquista de novos territórios. Naturalmente,
isso possibilitava o reinício do ciclo de explorações.
Outra parte do “livro proibido” esclarecia que os conflitos entre as
tropas imperialistas por áreas dos territórios disputados não avançavam para o
interior, já que ocorriam na periferia deles.
Mais adiante, o texto relacionava as principais zonas de confronto:
“As fronteiras da Eurásia oscilam entre a bacia do rio
Congo e a margem norte do Mediterrâneo; as ilhas do Oceano índico e do Pacífico
são constantemente capturadas e recapturadas pela Oceania ou pela Lestásia; na
Mongólia a linha divisória entre Eurásia e Lestásia não é estável; em torno do polo
as três potências reclamam enormes territórios em grande parte desabitados e
inexplorados; mas o equilíbrio de forças mantém-se sempre na mesma, e permanece
inviolado o território que forma o núcleo de cada superestado”.
Em relação aos que
sofriam exploração nas terras equatoriais, o livro era taxativo ao afirmar que
nada produziam de significativo para a economia mundial ou desenvolvimento da
humanidade... Os agentes imperialistas destinavam-lhes trabalhos cuja
finalidade era a obtenção de recursos para a construção de arsenal bélico e
outros artigos destinados ao exercício da guerra. Isso decorria do interesse de
cada superpotência, de manterem-se no topo da corrida armamentista e assim ter
condições de participar de novas guerras.
(...)
Com
o trabalho escravo das populações nativas aquecia-se a mecânica armamentista e solidificava-se
a superestrutura sustentada pelo militarismo. O maquinário moderno, que poderia
ser utilizado na melhoria das condições de vida da população, era colocado a
serviço da guerra. Aliás, aí se concentrava “o objetivo primário da guerra
moderna” que, de acordo com o “livro proibido”, e numa referência ao “duplipensar”,
era “simultaneamente reconhecido e não reconhecido pelos cérebros orientadores
do Partido Interno”.
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/10/1984-de-george-orwell-ainda-leitura-do.html
Leia: “1984”. Companhia Editora Nacional.
Um
abraço,
Prof.Gilberto