quarta-feira, 6 de outubro de 2021

“1984”, de George Orwell - conteúdo do capítulo III do livro enviado por O’Brien, uma compreensão sobre as “guerras modernas”, longuíssimas e indefinidas quando comparadas às grandes guerras da primeira metade do século XX; defesas “naturais” de Oceania, Eurásia e Lestásia; autossuficiência econômica e pouco interesse na produção dos adversários; territórios localizados entre as fronteiras e seus recursos, alvos de disputas pelos grandes impérios; superexploração de nativos; permanente armamentismo e estado de guerra em detrimento do bem-estar da população

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/10/1984-de-george-orwell-winston-le-trecho.html antes de ler esta postagem:

O capítulo III dava a entender que as motivações para a guerra haviam mudado muito. É certo que as duas grandes guerras do início do século XX tiveram suas origens em causas que permaneciam reconhecidas, sendo entendidas como conflitos que tiveram início e fim. Já os confrontos posteriores a 1950 deviam ser caracterizados por não serem decisivos e por isso mesmo, contínuos, de longuíssima duração e sem qualquer previsão de desfecho.
O caso é que passou a haver um equilíbrio muito grande entre os três grandes impérios... Suas “defesas naturais” consistiam em obstáculos praticamente intransponíveis para os inimigos e ninguém se saía definitivamente vencedor das inúmeras batalhas: “Vastas massas de terra” protegiam a Eurásia, enquanto a vastidão dos oceanos Pacífico e Atlântico fazia o mesmo pela Oceania... Já a Lestásia possuía invejável indústria e os melhores e mais bem qualificados agentes de produção.
(...)
Nada havia que justificasse a total destruição dos adversários e, considerando-se “o ponto de vista material”, nenhum dos grandes impérios se mostrava interessado pela produção dos demais.
Na verdade, cada um deles desenvolvia economia autossuficiente e possuía satisfatório equilíbrio entre o que se produzia e o que era consumido. Assim, diferentemente do que havia ocorrido nas guerras anteriores, não havia disputa por mercados... Ao mesmo tempo, a demanda por matérias-primas deixara de ser uma questão crucial, já que cada império possuía extensas áreas que abrigavam reservas de tudo o que necessitavam.
Além disso, se havia algum conflito digno de maior destaque que envolvesse os três impérios, era em disputa de territórios localizados entre suas fronteiras... Notadamente Tanger, Brazzaville, Darwin e Hong Kong, que juntos abrigavam vinte por cento da população mundial. Desse modo, devemos concluir que o conflito que se travava era pela mão-de-obra.
As localidades anteriormente citadas e mais a “calota polar setentrional” eram disputadas pelas potências, mas essas jamais chegavam a dominá-las totalmente. Em decorrência, verificava-se alternância do domínio estrangeiro em cada uma delas, ou podia acontecer também de mais de um império ocupar áreas diferentes de um mesmo território... Em vários casos, a disputa definia alianças que podiam ser substituídas conforme se desenvolvia os processos de exploração e de reconhecimento da soberania alheia.
(...)
Ainda a respeito dos territórios localizados entre as fronteiras dos três grandes impérios, o “livro proibido” trazia a informação de que além da grande quantidade de mão-de-obra, eles possuíam cobiçadas reservas de minerais. E mais... Alguns deles produziam valiosas matérias-primas, como o látex necessário para a fabricação da borracha.
Boa parte dos nativos vivia a condição de escravizados... Enquanto “forças de trabalho”, sofriam o desgaste físico até o momento de serem descartados e substituídos pelos agentes imperialistas. Aos conquistadores interessava obter recursos para a produção armamentista que proporcionasse a conquista de novos territórios. Naturalmente, isso possibilitava o reinício do ciclo de explorações.
Outra parte do “livro proibido” esclarecia que os conflitos entre as tropas imperialistas por áreas dos territórios disputados não avançavam para o interior, já que ocorriam na periferia deles.
Mais adiante, o texto relacionava as principais zonas de confronto:

                   “As fronteiras da Eurásia oscilam entre a bacia do rio Congo e a margem norte do Mediterrâneo; as ilhas do Oceano índico e do Pacífico são constantemente capturadas e recapturadas pela Oceania ou pela Lestásia; na Mongólia a linha divisória entre Eurásia e Lestásia não é estável; em torno do polo as três potências reclamam enormes territórios em grande parte desabitados e inexplorados; mas o equilíbrio de forças mantém-se sempre na mesma, e permanece inviolado o território que forma o núcleo de cada superestado”.

Em relação aos que sofriam exploração nas terras equatoriais, o livro era taxativo ao afirmar que nada produziam de significativo para a economia mundial ou desenvolvimento da humanidade... Os agentes imperialistas destinavam-lhes trabalhos cuja finalidade era a obtenção de recursos para a construção de arsenal bélico e outros artigos destinados ao exercício da guerra. Isso decorria do interesse de cada superpotência, de manterem-se no topo da corrida armamentista e assim ter condições de participar de novas guerras.
(...)
Com o trabalho escravo das populações nativas aquecia-se a mecânica armamentista e solidificava-se a superestrutura sustentada pelo militarismo. O maquinário moderno, que poderia ser utilizado na melhoria das condições de vida da população, era colocado a serviço da guerra. Aliás, aí se concentrava “o objetivo primário da guerra moderna” que, de acordo com o “livro proibido”, e numa referência ao “duplipensar”, era “simultaneamente reconhecido e não reconhecido pelos cérebros orientadores do Partido Interno”.
Leia: “1984”. Companhia Editora Nacional.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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