sexta-feira, 29 de outubro de 2021

“1984”, de George Orwell - a “tática” da coletivização para concentrar a riqueza nas mãos do pequeno grupo mandatário; IngSoc como triunfo e síntese das históricas lutas socialistas; das quatro remotas possibilidades de os grupos dirigentes perderem o poder; aniquilação dos oponentes e impedimentos para a formação da consciência crítica entre os súditos; limitações dos oprimidos e impossibilidade de mobilização em torno de uma causa; a guerra, solução para o inconveniente dos grandes excedentes e manipulação do patriotismo da massa

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/10/1984-de-george-orwell-ingsoc-e.html antes de ler esta postagem:

O grupo que chegou ao poder com advento do IngSoc, utilizou de todos os mecanismos para controlar os subordinados e não mais deixar o topo. O “livro proibido” esclarecia que uma das principais estratégias estava no próprio coletivismo que, bem trabalhado, havia se tornado o principal fator da preponderância oligárquica.
O caso é que a “posse conjunta” possibilitou a aceitação natural da riqueza dos privilegiados. Experiências anteriores mostraram que a “abolição da propriedade privada” resultara na “concentração da propriedade” nas mãos de um pequeno grupo... A diferença estava no fato de, “em vez de massa de indivíduos”, os proprietários formarem “um grupo”, um “time controlador”.
O livro ressaltava ainda que os filiados ao Partido não possuíam nada além das “ninharias pessoais”, e explicava que “coletivamente, o Partido é dono de tudo na Oceania, porque tudo controla, e dispõe dos seus produtos como bem lhe parece”.
Aconteceu que depois da “revolução” que sacramentou a vitória do Partido, praticamente não houve oposição à acumulação de poder, já que as medidas impostas eram anunciadas como “atos de coletivização”.
Dizia-se que era necessário expropriar os capitalistas para que o socialismo se tornasse uma realidade... De fato, ocorreram expropriações e absolutamente tudo (“fábricas, minas, terras, casas, transporte”) o que outrora pertencia a particulares, e era por eles controlado, passou a ser “propriedade pública”.
O IngSoc se colocava como a síntese do processo de lutas socialistas do passado... Uma vez instalado no poder, colocou em prática as reivindicações que garantiam ser históricas... Na prática, o programa que passou a desenvolver tornou pétrea a “desigualdade econômica”.
(...)
O “livro proibido” problematizava a questão da “perpetuação da sociedade hierárquica” e a manutenção do poder pelo grupo hegemônico... De acordo com o texto, haveria quatro possibilidades de os dirigentes perderem o poder: ou seriam vencidos por oponentes; ou sofreriam o ataque da população revoltada com a ineficiência do governo; ou, por ineficácia política, permitiriam o advento “de um grupo médio forte e descontente”; ou perderiam a confiança e consequentemente a “disposição de governar”.
Caso um grupo dominante lograsse êxito no combate às deficiências anteriormente apontadas, teria plenas condições de permanecer “para sempre” no poder... Pelo visto, os dirigentes do IngSoc souberam manter a coerência necessária ao exercício da ditadura.
O grupo dominante contou com o principal fator para assegurar a inabalável administração... Logo depois de assumir o governo, tratou de aniquilar os oponentes, desse modo eliminaram a primeira das “potenciais deficiências” que poderiam desencadear a crise de poder.
(...)
Isso à parte, aos poucos o panorama internacional passou a apresentar uma conjuntura em que os três grandes impérios se estabeleceram. Basearam-se em estruturas tão sólidas que não se podia prever que pudessem sofrer abalos... Isso ocorreria caso suas populações passassem por mudanças que as levassem a questionamentos contrários ao poder estabelecido. Todavia cada um dos governos possuía os mecanismos que impediam a formação de consciências críticas.
Estava claro que em relação a referida possibilidade de decadência do sistema através de uma revolta espontânea da população era apenas teórica, pois as massas não se mobilizariam “apenas por ser oprimidas”. Além do mais, sem terem qualquer possibilidade de comparar a própria condição com outras realidades externas ou do passado, sequer percebiam que sofriam opressões.
(...)
A população que teria motivos para se revoltar não o fazia porque não conseguia perceber a condição a que estava sujeita... Além disso, quando os desfavorecidos eventualmente se sentiam desanimadas ou descontentes com a precariedade, não tinham meios de articular qualquer sedição.
Um ou outro imprevisto econômico, notadamente em relação à produção de grandes excedentes, poderia abalar a estabilidade política dos três grandes impérios. Mas para isso recorria-se à guerra.
Neste ponto, o texto sugeria consulta ao conteúdo do capítulo III (ler https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/10/1984-de-george-orwell-ainda-leitura-do_12.html), garantindo que o recurso da guerra era também um modo de manter a população emocionalmente envolvida com os “destinos da nação”.
Seria o caso de perguntarmos, então, qual poderia ser a maior ameaça à estabilidade política dos governantes dos três impérios... Referindo-se especificamente à Oceania, o “livro proibido” destacava que o perigo para os maiorais estaria na conjunção de dois fatores: a formação de um grupo constituído por tipos ávidos pelo poder e a vacilação de parte da equipe de governo quanto às incertezas a respeito da condução política e/ou adepta a concessões à população.
Leia: “1984”. Companhia Editora Nacional.
Um abraço,
Prof.Gilberto

Páginas