sábado, 9 de outubro de 2021

“1984”, de George Orwell - ainda a leitura do capítulo III do “livro proibido de Goldstein”; sociedades industriais e a questão dos excedentes; sobre a “época dourada” das invenções proporcionadas pela ciência e tecnologia; crise que se seguiu à série de guerras e sedições; desenvolvimento da maquinaria e o advento de condições mais dignas; da relação entre a sociedade fundamentada na hierarquia e a manutenção da ignorância entre os mais humildes; sobre a utopia do “regresso ao passado agrícola” e seu equívoco; referências ao contexto da “grande depressão”


Winston continuou a leitura do “livro proibido” composto por longos textos que explicavam “a guerra moderna”. Evidentemente as referências de Orwell eram as do pós-segunda guerra e o terrível panorama de Guerra Fria tristemente marcada pela corrida armamentista.
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Na sequência o livro evidenciava questões referentes à sociedade industrial e os problemas que ela passou a vivenciar após o final da década de 1940, “quando ocorreram guerras atômicas”.
O “texto de Goldstein” dava conta de que desde o início da segunda fase da Revolução Industrial as sociedades tiveram de enfrentar o problema do excedente produzido... O autor esclarecia que seus leitores não podiam ter uma exata dimensão da questão porque conheciam apenas a realidade em que a maioria levava uma existência marcada pela escassez. Salientava que bem poucos privilegiados tinham mais do que necessitavam e que se não fosse a “intervenção do processo destruidor artificial” as condições de bem-estar certamente chegariam a todos.
O caso é que os resultados de séculos de exploração industrial e de contínuas guerras tornaram o planeta “faminto e dilapidado”, algo não imaginado pelos empreendedores dos anos anteriores a primeira grande guerra... Uma verdadeira catástrofe quando comparado ao futuro que se imaginava por aquele tempo em que se experimentavam grandes realizações possibilitadas pela indústria. Pelo menos entre os escolarizados acreditava-se que o mundo vindouro conheceria uma sociedade “incrivelmente rica, repousada, ordeira e eficiente”.
A vida se tornara mais fácil e confortável. Comunicação, transportes e entretenimentos foram contemplados com inventos impulsionados pela tecnologia e ciência... Muitos acreditaram que o desenvolvimento e os benefícios que dele resultavam seriam contínuos, todavia não foi isso o que se observou. Guerras e sedições populares provocaram empobrecimento, e a isso devia se acrescentar o declínio do empirismo e do espírito inventivo que não resistiram ao tipo de sociedade regimentada que emergiu da crise.
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A conclusão era a de que o mundo piorara, tendo se tornado mais primitivo do que no início do século. A guerra atômica “que ocorrera durante a década de 1950” havia deixado estragos de reparação complexa. Apesar de certas regiões terem passado por melhorias, sobretudo devido aos investimentos relacionados ao belicismo e “à espionagem policial”, a ciência sofreu franca decadência e já não realizava experimentos e invenções.
A contradição em relação à maquinaria permaneceu. Desde os primórdios, todos perceberam que as máquinas substituiriam o trabalho braçal... E isso possibilitaria eliminar as desigualdades, já que elas podiam mesmo ser utilizadas para este fim. Ninguém mais seria submetido longas jornadas de trabalho e, desse modo o analfabetismo seria erradicado em alguns anos... O saneamento básico chegaria a todos e isso contribuiria para eliminar diversas doenças. Mas o que se viu foi um panorama bem diferente, já que os poderosos não tiveram como impedir que parte da riqueza produzida chegasse à gente comum e, com a “elevação do padrão de vida” entre o final do século XIX e início do XX, o tipo de sociedade hierárquica que os mantinha no topo sofreu uma considerável ameaça.
O raciocínio era de que a industrialização poderia promover certa “generalização da riqueza”, ou pelo menos o gosto por ela, e isso provocaria o fim das distinções sociais... O argumento apresentado pelo “livro proibido” era o de que a nova realidade seria a de trabalhos menos árduos, abundância de alimentos e de habitações decentes, com utensílios variados e bens duráveis que facilitariam mais a vida.
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A distribuição da riqueza gerada pela industrialização permitiria que o poder de decisões ficasse nas mãos de alguns poucos. Esses formariam uma “casta privilegiada”, mas não por muito tempo. É que a melhoria das condições da maioria colocaria fim à consciência ingênua típica da vida miserável e, a partir do embasamento crítico proporcionado pelo aprendizado, a gente comum passaria a “pensar por si”, entenderia que a “minoria privilegiada” não tem qualquer função e “acabaria com ela”.
O texto insistia que a sociedade fundamentada na hierarquia e nas distinções só era possível graças à manutenção da pobreza da maioria mantida na ignorância. Ressaltava que alguns teóricos humanistas de inícios do século XX escreveram sobre o “regresso ao passado agrícola” como ideal de vida para que as sociedades se tornassem menos injustas e mais igualitárias... Todavia o “livro proibido” sentenciava que tal retorno não se configurava “solução praticável”, já que a “tendência para a mecanização”, algo quase que instintivo dos grupamentos humanos, certamente prevaleceria por fim. Acrescentava ainda que os países que não se industrializassem permaneceriam indefesos e fatalmente seriam invadidos por potências econômicas e militares.
Uma deliberada restrição à indústria não podia mesmo ser considerada benéfica, pois populações inteiras seriam atiradas à miséria. O texto ensinava que este processo se verificou “mais ou menos entre 1920 e 1940”, momento em que “o capitalismo passava por sua fase derradeira”.
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Essa última citação só pode ser uma referência ao período da “Grande Depressão” que abalou o capitalismo, sobretudo a partir da “Quebra da Bolsa de Nova York” em 1929.
Leia: “1984”. Companhia Editora Nacional.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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