Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/10/1984-de-george-orwell-respeito-da.html antes
de ler esta postagem:
Cada império possuía uma filosofia que justificava
a ideologia e o poder vigente, além de definir a ética que cabia aos
cidadãos... IngSoc era a filosofia da Oceania; na Eurásia era o Neobolchevismo;
na Lestásia, o povo era fiel a uma doutrina que tinha denominação chinesa e que
podia ser traduzida por “Adoração da Morte” ou, de acordo com o “livro
proibido”, “Obliteração do Ego”.
As populações eram
impedidas pelos dirigentes de conhecer os fundamentos das filosofias dos
impérios rivais, além de receber formação avessa a elas. Desse modo aprendiam a
considerá-las inferiores, bárbaras e inadequadas à moralidade.
(...)
O “livro proibido” dava conta de que não havia diferenças entre as três
filosofias e tampouco se notavam diferenciações nas estruturas sociais dos
impérios. Em cada um deles havia um chefe supremo, cultuado como se divino
fosse... Também a Economia voltada para a manutenção da “guerra permanente” era
comum às três potências.
Inferia-se
desse “estado de coisas” que nenhuma delas podia se sair vencedora do conflito
internacional... Aliás, não havia qualquer vantagem nisso, pois a tensão
continuada impossibilitava qualquer trama contrária ao sistema. Desse modo, o
texto do “livro proibido” podia garantir que, enquanto continuavam em conflito,
(os três impérios) “amparavam-se uns aos outros, como três fuzis num sarilho”.
As lideranças de cada
uma das potências tinham plena consciência do que os adversários planejavam e
faziam, mas ao mesmo tempo davam a entender que ignoravam suas ações... Assim podiam
dar prosseguimento aos seus projetos de conquista do mundo sem deixar de fomentar
o estado de “guerra sem fim e sem vitória”.
Uma
das principais características do IngSco e das filosofias dos impérios rivais
era a “negação da realidade”. Não há dúvida de que o estado de pânico que se
criara em torno de uma conquista inimiga, que não tinha qualquer possibilidade
de ocorrer, contribuía para esse tipo de “anulação/negação da realidade”.
(...)
O texto retomava a
ideia de que o “estado de guerra contínua” havia alterado o caráter das guerras
como as que se haviam conhecido até o final da década de 1940. Como já se
salientou anteriormente, todos esperavam que mais cedo ou mais tarde os
conflitos bélicos se encerrassem com a vitória de uma das partes.
Diferentemente do que
vinha ocorrendo, as guerras anteriores proporcionavam certo contato das
sociedades “com a realidade física”. Os líderes políticos até trabalhavam de
forma a iludir seu povo em relação a um “falso panorama de estabilidade externa”,
mas jamais permitiam que essa tarefa comprometesse os programas voltados para a
“eficiência militar”. Tais esforços se justificavam na medida em que todos sabiam
que a eventual derrota no campo militar contribuiria para o domínio externo e a
perda da autonomia.
Por esses motivos a “luta contra a derrota” era uma das principais
marcas das guerras do passado. Isso exigia uma constante avaliação dos “fatos
físicos” e, como o “livro proibido” sugeria, não se tratava das interpretações
filosóficas, religiosas, da ética ou da política, nas quais “dois e dois podem
ser cinco”. Na realidade física, aquela da guerra que terminava com o êxito de
uns e a derrota de outros, os planos de construção de equipamentos de
destruição pertenciam à lógica do “dois e dois somam quatro”. Concluía-se facilmente
que os países que vacilassem em relação à eficiência bélica baseada na “realidade
física” seriam derrotados... Assim sentenciava-se que “a luta pela eficiência
era inimiga das ilusões”.
Um dos requisitos para a referida eficiência era o conhecimento sobre o
passado... Era preciso saber o que os tempos idos tinham a informar.
Evidentemente os objetos de pesquisa eram jornais e livros, e esses certamente
continham pontos de vista parciais, todavia não havia os mecanismos de
falsificação que se verificaram posteriormente, como os praticados no Ministério
da Verdade.
(...)
No passado, a possibilidade de guerra tornava as
classes dirigentes mais atentas... Todos sabiam que os que estavam no topo da
sociedade seriam responsabilizados ou enaltecidos de acordo com a derrota ou sucesso
ao final dos conflitos. Portanto, o exercício de tomadas de decisão a respeito
das guerras consistia em si mesmo uma “salvaguarda da saúde mental” das classes
dominantes.
Mas a guerra havia se
tornado “contínua” e com isso “deixou de ser perigosa”. Se tornou “indefinida” e
a necessidade de se estabelecer táticas desapareceu, contribuindo para o
desaceleração do progresso técnico... Em consequência da nova mentalidade
dirigente, até os “fatos mais palpáveis” puderam ser “negados ou desprezados”.
Ainda em relação a afirmações anteriores, dessa vez a respeito do
conhecimento científico, o “livro proibido” retomava a ideia de que o
investimento nos projetos voltados às invenções e construção de equipamentos
bélicos tiveram continuidade, porém sem grandes expectativas a respeito da concretização
ou eficácia final.
Aliás,
o texto insistia que na Oceania nada era eficiente, a não ser a Polícia do
Pensamento, sempre muito adequado a praticas as perversões mentais contra os
cidadãos. E isso não era um “privilégio” da Oceania, pois cada um dos grandes
impérios podia ser considerado um “universo à parte” no contexto de “guerra
permanente” em que eram invencíveis.
Leia: “1984”. Companhia Editora Nacional.
Um
abraço,
Prof.Gilberto