As expedições às Canárias foram de fundamental importância para o projeto de expansão marítima portuguesa pelo Atlântico. A localização do arquipélago, “a 115 quilômetros do mar fronteiro ao Marrocos, e a 215 quilômetros do Cabo Bojador sobre a costa da África, na direção sul”, era estratégica.
Após a segunda viagem comandada por Pezagno (1341), o rei D. Afonso IV entrou em negociação com o papa Clemente VI (1345) para que a Igreja reconhecesse a tutela portuguesa sobre as ilhas. Essa iniciativa se justificava pelo “achamento e conquista” que vinham sendo contestados pela Espanha (A Igreja de Roma reconhecia a primazia de Castela na questão). Para Portugal era imprescindível a garantia da posição avançada porque suas atividades de navegação pelo oceano em direção à costa africana eram promissoras de “novos achamentos”.
A rivalidade com a Espanha chegou a tal ponto que Lisboa passou por um período de ocupação espanhola, e isso exigiu muitas conversações até que os dois países chegassem a um tratado de paz. Em 1373, D. Fernando I (chamado “o Gentil”) promulgou várias leis que davam sinais de que Portugal prosseguiria no projeto de se tornar “grande potência-comercial”. Uma de suas iniciativas foi a criação do posto de “capitão-mor para assuntos marítimos”.
No começo do século XV ocorreu uma série de ações espanholas em parceria com a Santa Sé nas Canárias... Aos poucos se confirmou a posse castelhana sobre as ilhas, sobretudo em reconhecimento aos serviços prestados no combate a nativos e sarracenos. Os interesses portugueses não se arrefeceram e no correr do século as embarcações lusitanas atingiram os arquipélagos da Madeira (1418) e dos Açores (1445).
(...)
É praticamente
impossível tratar das iniciativas políticas de D. Fernando I sem fazer
referências a muitos outros benefícios concedidos aos homens envolvidos na
construção de embarcações e no comércio ultramarino. É claro que os favorecidos
eram basicamente a “burguesia comercial dos portos”. Entre os benefícios e
incentivos, o livro destaca:
“permissão de
corte de madeira em montes reais sem pagamento de impostos; aumento de
tonelagem das embarcações; dispensa do pagamento de taxas de importação de
materiais de interesse para a indústria naval; dispensa de impostos na compra
de navios do estrangeiro e do pagamento sobre mercadorias na viagem inaugural
de navio português ao exterior (com pagamento apenas de metade dos direitos
sobre toda a carga que trouxessem do estrangeiro)”.
Em 1380, o monarca
confirmou mais uma vez o interesse de apoiar os aliados do governo no projeto
de expansão marítima e comercial do país ao aprovar a criação de uma bolsa de
seguros que socorria os importantes grupos de armadores de Lisboa e do Porto.
De modo simplificado, a seguradora recolhia 2% de tudo o que o comércio naval
auferia... O fundo se destinava à renovação da frota nos casos de atos de
pirataria, sinistros naturais ou guerra.
Não é difícil
entender a movimentação da burguesia na época da morte de D. Fernando I, em 22
de outubro de 1383... Como sabemos o rei não tinha herdeiro e a antiga nobreza
antecipou-se no apoio à unidade com Castela... Vimos que durante a revolução de
Avis (que ocorreu entre 1383 e 1385 e que deve ser entendida como uma revolução
burguesa) os comerciantes se engajaram militarmente em torno da figura do
Mestre de Avis, que definitivamente era quem tinha condições de dar
prosseguimento à parceria iniciada durante a dinastia anterior.
(...)
Depois do triunfo da revolução burguesa, o governo português tratou de
negociar a paz com Castela. Este processo se concretizou em 1411 e partir de
então os portugueses voltaram sua atenção para o Marrocos dominado pelos
muçulmanos... Para lá suas embarcações foram dirigidas. A burguesia se
encarregou de armá-las. Não faltaram nobres interessados em partir para campos
de batalha com a intenção de serem armados cavaleiros.
Como se sabe, a conquista de Ceuta (1415) foi muito bem-sucedida graças
ao esforço já destacado anteriormente. A História registra que bastou um dia de
ataque para que as guarnições inimigas caíssem.
O
livro destaca as informações de fragmentos de “De Bello Septensi” (1460), do
pesquisador italiano Mateus Pisano, a respeito da frota portuguesa utilizada na
ocasião: “63 navios, 27 galés trirremes, 32 embarcações birremes e 120 barcos
menores”. Já de acordo com o historiador espanhol, Jeronimo Zurita y Castro, em
seu “Anales de La Corona de Aragón” (1562-1569; com dados sobre as operações
portuguesas até 1492), os registros dão conta da movimentação de: “33 galeões,
27 galés trirremes, 32 galeras e 120 outras embarcações menores”.
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2019/12/rei-do-congo-mentira-que-virou-folclore.html
Leia: Rei
do Congo. Editora 34.
Um abraço,
Prof.Gilberto