quinta-feira, 14 de novembro de 2019

“Rei do Congo – A mentira que virou folclore”, de José Ramos Tinhorão – Infante D. Henrique governador e administrador, regedor da Ordem de Cristo; os mestres das antigas ordens de cavaleiros juravam voto de pobreza; vocação marítima para o Atlântico desde os tempos de D. Afonso Henriques; a batalha naval de 1180 e o comando de D. Fuas Roupinho; os negócios de navegação prosseguiram com D. Sancho I

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2019/11/rei-do-congo-mentira-que-virou-folclore_13.html antes de ler esta postagem:

Tinhorão esclarece que as iniciativas de D. Dinis em torno da fundação da Ordem dos Cavaleiros de Cristo em 1319 e a incorporação dos bens que outrora pertenciam aos templários foi de imensurável relevância para o país. Sobretudo quando levamos em conta que no século seguinte D. João I sacramentou a disposição de manter todo aquele patrimônio sob poder do Estado e, mais que isso, sentenciou sua utilização em função das necessidades de governo (mais precisamente em 1418).
Como se viu, o rei atribuiu ao Infante D. Henrique a direção da referida ordem... O papa aprovou, inclusive, o caráter de “governador-administrador” em vez de “mestre” como comumente ocorria nas ordens religiosas. Em vez do conceito medieval de “Ordem”, o de “Sociedade Civil” como as legislações burguesas viriam a definir no Direito.
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D. Henrique se tornou “governador e administrador” da ordem... D. João cuidou de validar essa denominação junto à Igreja Católica.
Temos de entender que, tradicionalmente, as ordens religiosas de cavaleiros devotados aos combates religiosos eram comandadas por “mestres” que faziam voto de pobreza... É claro que esperava-se que esses líderes se destacassem por sua ética e fidelidade à causa, mas é verdade que o referido voto tinha sobre eles o efeito de um freio às tentações de apropriação de bens da instituição.
O interesse do rei português era exatamente o de garantir que, uma vez empossado no importante cargo, D. Henrique pudesse usar com autonomia os bens que haviam sido acumulados e preservados desde os templários. Daí que a antiga condição de pobreza não se encaixava no projeto de expansão marítima impulsionado pela conquista de Ceuta. É por isso que D. João insistiu junto ao papa para que o Infante fosse dispensado da exigência do voto de pobreza e das limitações dele decorrentes.
Sobre o seu cargo na Ordem dos Cavaleiros de Cristo, D. Henrique preferia colocar-se como ”Regedor” que, de acordo com o autor, conforme a origem desde o latim, significa “regular conforme a vontade”. Isso lhe garantia uma condição equivalente à de “sócio com responsabilidade ilimitada das futuras sociedades em comandita”.

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A posição geográfica de Portugal na Península Ibérica favorece o que se chama comumente de histórica “vocação marítima para o Atlântico”. Seu formato retangular parece colocá-lo “de costas para a Espanha” e “de frente para o oceano em toda a extensão de sua face ocidental”.
Desde os primórdios, sua população recorreu às águas do Atlântico para obter o sustento... A “economia do mar” exigiu constantes aperfeiçoamentos dos meios de navegação, das técnicas e dos meios de exploração das riquezas oceânicas... Sem dúvida a atividade pesqueira entre os portugueses é habilidade das mais antigas e contribuiu para o desenvolvimento da ciência náutica na região. Obviamente a melhora dos navios deveu-se também às constantes lutas contra os “infiéis”.
A leitura nos dá a entender que desde a tomada de Lisboa pelos cristãos (1147), D. Afonso Henriques tomou providências para dar início a uma força naval... Há registros de que no mesmo ano suas forças tomaram posse de um estaleiro (fala-se de uma “tercena”, algo como uma ferraria, localizada no Terreiro do Trigo) que os mouros abandonaram ao deixarem a região.
Como sabemos, as lutas contra os muçulmanos marcaram as origens do país... O livro cita ainda um episódio de 1180 que evidencia o que teria sido o “primeiro conflito naval” de Portugal... Conta-se que D. Fuas Roupinho, fiel aliado de D. Afonso Henriques (para muitos, os dois eram irmãos), liderou uma armada contra embarcações sarracenas na região do Cabo Espichel.
Tinhorão assegura que após essa “primeira batalha naval”, os portugueses deram prosseguimento às lutas contra os “infiéis”... O herói Roupinho navegou desde a Costa do Algarve até Gibraltar (1184), onde terrível intempérie lançou a esquadra lusitana para as proximidades de Ceuta. D. Fuas Roupinho morreu e os sarracenos saíram-se vencedores.
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O ano seguinte foi marcado pela morte de D. Afonso Henriques... Seu filho, D. Sancho I, dando prosseguimento à luta contra os muçulmanos, teve condições de “juntar 40 galeões (no século XII, tratavam-se de ‘embarcações  finas e estreitas’) à armada de cruzados alemães e dinamarqueses que, de passagem por Lisboa”, foi “convidada a ajudar na retirada dos mouros que ocupavam os castelos de Silves, Alvor e Albufeira, na costa algarvia”.
Leia: Rei do Congo. Editora 34.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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