Tinhorão esclarece que as iniciativas de D. Dinis em torno da fundação da Ordem dos Cavaleiros de Cristo em 1319 e a incorporação dos bens que outrora pertenciam aos templários foi de imensurável relevância para o país. Sobretudo quando levamos em conta que no século seguinte D. João I sacramentou a disposição de manter todo aquele patrimônio sob poder do Estado e, mais que isso, sentenciou sua utilização em função das necessidades de governo (mais precisamente em 1418).
Como se viu, o rei atribuiu ao Infante D. Henrique a direção da referida ordem... O papa aprovou, inclusive, o caráter de “governador-administrador” em vez de “mestre” como comumente ocorria nas ordens religiosas. Em vez do conceito medieval de “Ordem”, o de “Sociedade Civil” como as legislações burguesas viriam a definir no Direito.
(...)
D. Henrique se tornou
“governador e administrador” da ordem... D. João cuidou de validar essa
denominação junto à Igreja Católica.
Temos de entender que, tradicionalmente, as ordens religiosas de
cavaleiros devotados aos combates religiosos eram comandadas por “mestres” que
faziam voto de pobreza... É claro que esperava-se que esses líderes se
destacassem por sua ética e fidelidade à causa, mas é verdade que o referido
voto tinha sobre eles o efeito de um freio às tentações de apropriação de bens
da instituição.
O
interesse do rei português era exatamente o de garantir que, uma vez empossado
no importante cargo, D. Henrique pudesse usar com autonomia os bens que haviam
sido acumulados e preservados desde os templários. Daí que a antiga condição de
pobreza não se encaixava no projeto de expansão marítima impulsionado pela
conquista de Ceuta. É por isso que D. João insistiu junto ao papa para que o
Infante fosse dispensado da exigência do voto de pobreza e das limitações dele
decorrentes.
Sobre o seu cargo na
Ordem dos Cavaleiros de Cristo, D. Henrique preferia colocar-se como ”Regedor”
que, de acordo com o autor, conforme a origem desde o latim, significa “regular
conforme a vontade”. Isso lhe garantia uma condição equivalente à de “sócio com
responsabilidade ilimitada das futuras sociedades em comandita”.
(...)
A
posição geográfica de Portugal na Península Ibérica favorece o que se chama
comumente de histórica “vocação marítima para o Atlântico”. Seu formato
retangular parece colocá-lo “de costas para a Espanha” e “de frente para o oceano
em toda a extensão de sua face ocidental”.
Desde os primórdios,
sua população recorreu às águas do Atlântico para obter o sustento... A
“economia do mar” exigiu constantes aperfeiçoamentos dos meios de navegação,
das técnicas e dos meios de exploração das riquezas oceânicas... Sem dúvida a
atividade pesqueira entre os portugueses é habilidade das mais antigas e
contribuiu para o desenvolvimento da ciência náutica na região. Obviamente a
melhora dos navios deveu-se também às constantes lutas contra os “infiéis”.
A leitura nos dá a
entender que desde a tomada de Lisboa pelos cristãos (1147), D. Afonso
Henriques tomou providências para dar início a uma força naval... Há registros
de que no mesmo ano suas forças tomaram posse de um estaleiro (fala-se de uma “tercena”, algo como uma ferraria, localizada
no Terreiro do Trigo) que os mouros abandonaram ao deixarem a região.
Como sabemos, as lutas contra os muçulmanos marcaram as origens do
país... O livro cita ainda um episódio de 1180 que evidencia o que teria sido o
“primeiro conflito naval” de Portugal... Conta-se que D. Fuas Roupinho, fiel
aliado de D. Afonso Henriques (para muitos, os dois eram irmãos), liderou uma
armada contra embarcações sarracenas na região do Cabo Espichel.
Tinhorão
assegura que após essa “primeira batalha naval”, os portugueses deram
prosseguimento às lutas contra os “infiéis”... O herói Roupinho navegou desde a
Costa do Algarve até Gibraltar (1184), onde terrível intempérie lançou a
esquadra lusitana para as proximidades de Ceuta. D. Fuas Roupinho morreu e os
sarracenos saíram-se vencedores.
(...)
O ano
seguinte foi marcado pela morte de D. Afonso Henriques... Seu filho, D. Sancho I,
dando prosseguimento à luta contra os muçulmanos, teve condições de “juntar 40
galeões (no século XII, tratavam-se de ‘embarcações finas e estreitas’) à armada de cruzados
alemães e dinamarqueses que, de passagem por Lisboa”, foi “convidada a ajudar
na retirada dos mouros que ocupavam os castelos de Silves, Alvor e Albufeira,
na costa algarvia”.
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2019/11/rei-do-congo-mentira-que-virou-folclore_20.html
Leia: Rei
do Congo. Editora 34.
Um abraço,
Prof.Gilberto