quarta-feira, 13 de novembro de 2019

“Rei do Congo – A mentira que virou folclore”, de José Ramos Tinhorão – Infante D. Henrique, títulos nobiliárquicos e liderança na empresa de expansão marítima portuguesa; um pouco sobre a Ordem dos Cavaleiros do Templo e as perseguições de Felipe IV; “Regnans in Coelis”, de Clemente V; D. Dinis e seu esforço em favor dos templários; criação da Ordem dos Cavaleiros de Cristo

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2019/11/rei-do-congo-mentira-que-virou-folclore_7.html antes de ler esta postagem:

O empreendimento idealizado por D. João I, a “empresa estatal de capital misto” citada na última postagem, seguiu um modelo original... O Infante D. Henrique (terceiro filho de D. João) tornou-se o diretor-dirigente da organização por indicação do próprio rei. Nessa função, D. Henrique viria a ser o responsável pelas navegações que resultaram na conquista de vasto império ultramarino.
O monarca alavancou a carreira do Infante, que foi investido de vários títulos oficiais e privilégios. Com a conquista de Ceuta (1415), costa do Marrocos fronteiriça a Gibraltar, o jovem recebeu o título de duque de Viseu (ducado criado no mesmo ano) e senhor de Covilhã... D. Henrique contava 21 anos e já era reconhecido como “cavaleiro armado em campo de batalha”. No ano seguinte, D. João I nomeou-o “governador dos negócios” de Ceuta.
Enquanto D. João viveu (até 1433), o Infante foi agraciado com várias distinções. Isso se repetiu durante os reinados de D. Duarte e D. Afonso. Para melhor evidenciar os privilégios recebidos por D. Henrique durante a vida (ele morreu em 1460, portanto 43 anos após a conquista de Ceuta), Tinhorão faz referências ao seu “Os negros em Portugal” (1988), que, a partir de documentação impressa, assegura que ao Infante foram “atribuídos nada menos do que 77 cessões de direitos, concessões, monopólios, títulos patrimoniais e privilégios, todos envolvendo a obtenção de renda monetárias, desde o Minho até o Algarve e ilhas atlânticas da costa africana”.
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Uma parte interessante dessa história se relaciona a época mais antiga, cerca de um século antes, tem a ver com os templários, sua atuação em Portugal, o fim de sua ordem religiosa e as perseguições que sofreram.
O livro não entra em maiores detalhes a respeito, todavia vale destacar que as origens da “Ordem dos Cavaleiros do Templo” remontam à época das Cruzadas em Jerusalém. Como sabemos, os cavaleiros templários tiveram participação destacada nos conflitos e por algum tempo exerceram domínio na Terra Santa...
Desempenharam um importante papel na proteção de peregrinos e deram todo tipo suporte a monarcas e a ricos senhores feudais. Os cristãos perderam o controle sobre Jerusalém no final do século XIII e isso levou os cavaleiros templários a retornarem à Europa, onde mantinham estrutura econômica, religiosa e militar muito bem aparelhada.
Sabemos também que vários reis estavam endividados com os templários, e esse era o caso de Felipe IV, da França, que tentou de diversas maneiras convencer o papa Clemente V a desmantelar a ordem. Como não obteve imediato sucesso em seu intento, o próprio Felipe IV decidiu prender os templários que viviam em território francês e confiscar os bens da organização. Isso se deu em outubro de 1307.
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O que até aqui se registrou é suficiente para retornarmos ao conteúdo do livro. Embora seja intrigante, não cabe entrarmos em maiores detalhes a respeito do fim dos templários...
D. Dinis era o rei de Portugal ao tempo dessas perseguições aos templários... Conta-se que ele tentou proteger os que viviam em terras lusitanas. Mas as pressões contra a ordem foram muito grandes. Em 1308, o papa Clemente V tornou pública a Bula “Regnans in Coelis” que, na prática, ordenava que se realizassem investigações a respeito de irregularidades que recaíam sobre a organização.
O rei português adiantou-se a declarar que os bens da ordem religiosa em território português por concessão da monarquia deveriam ser reintegrados à Coroa... Dois anos depois, D. Dinis aliou-se ao rei de Castela, D. Fernando IV, no intuito de defender os religiosos perseguidos e de garantir, no Concílio de Salamanca (1310), a reivindicação às duas dinastias.
Como consequência da “Regnans in Coelis”, a partir de outubro de 1311 reuniu-se o Concílio de Vienne (na França)... Por pressão do rei francês, foi aprovada a em março de 1312, a Bula “Vox in Excelso”, que extinguiu a Ordem dos Templários. Seu grão-mestre (Jacques de Molay) e diversos cavaleiros já eram mantidos encarcerados na França e logo uma grande caçada aos membros espalhados por toda Europa teve início. Outras Bulas papais definiram as punições e o confisco dos bens templários.
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Em 1319, após insistentes solicitações de D. Dinis, o papa João XXII publicou a Bula “Ad ea ex quibus cultus augeatur”, que autorizou a criação da “Ordem dos Cavaleiros de Cristo” em Portugal...
Como se vê, o rei português tinha os templários em boa consideração e entendia a importância de sua organização e estrutura. De modo simplificado, podemos dizer que, com a criação da nova Ordem, os bens que, em terras portuguesas, pertenciam à Ordem dos Cavaleiros do Templo, passaram para as mãos da Coroa.
Mais adiante veremos que a “Ordem dos Cavaleiros de Cristo” tornou-se parte essencial do projeto de expansão marítima e comercial no século seguinte.
Leia: Rei do Congo. Editora 34.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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