quinta-feira, 7 de novembro de 2019

“Rei do Congo – A mentira que virou folclore”, de José Ramos Tinhorão – manifestações culturais de tradição africana relacionada à coroação de reis e rainhas do Congo em Portugal e no Brasil; narrativas tradicionais e heroicas sobre a epopeia dos “descobrimentos”; um pouco sobre a Revolução de Avis, aliança entre burguesia mercantil e Estado e a constituição da “empresa estatal de capital misto”

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2019/11/rei-do-congo-mentira-que-virou-folclore_6.html antes de ler esta postagem:

Muitas vezes, as confrarias que se organizaram em Portugal a partir do século XVI funcionavam como lugares de recreação e polos de atividades culturais. As irmandades concediam títulos nobiliários... Em Lisboa, por exemplo, havia o de marquês, concedido pela “majestade negra”. O livro conta que o escritor Camilo Castelo Branco foi agraciado com o referido título por D. Jacinta.
Como já se salientou anteriormente, no Brasil celebraram-se “Reinados do Congo” entre os séculos XVII e XIX... Em igrejas de Pernambuco e do Rio de Janeiro realizaram-se coroações de reis e rainhas.
Em ambos os casos, as citadas manifestações culturais eram resultado da memória africana preservada pelos negros que reconheciam em suas festas a identidade que traziam desde a terra nativa. Em Portugal, os “reinados do Congo resumiam-se aos eventos “caseiros, a festas de adro e procissões”. No Brasil, os reinados extrapolavam os ambientes das igrejas e tomava as ruas... Logo tornaram-se festas folclóricas que em diversas ocasiões se misturaram ao carnaval.


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Tinhorão dedica-se a elucidar a conjuntura portuguesa dos tempos que marcaram a “Epopeia dos Descobrimentos”.
Em relação à navegação pelo litoral do ocidente africano, sabe-se que suas embarcações atingiram desde o rio Senegal (1444) até o rio Cuanza (1575), onde viviam os Ngola (daí resultou o nome Angola).
Tradicionalmente associa-se as grandes conquistas lusitanas a partir dos empreendimentos marítimos à ideia de superação do monopólio comercial mantido pelos árabes desde o Oriente até a Europa. Por um bom tempo, as narrativas heroicas medievais pesaram nessa interpretação. O livro destaca que, mais que isso, as grandes navegações e suas descobertas se relacionam às investidas burguesas em seu amplo projeto comercial.
Ideais nacionalistas e de fé impulsionaram a associação entre os esforços burgueses e do Estado português. Essa aliança possibilitou a “exploração de mercado em nível internacional”. Neste ponto somos tentados pela questão fundamental acerca dos elementos que viabilizaram a acumulação do capital necessário aos empreendimentos...
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A resposta à questão nos leva a algumas reflexões sobre o processo de formação de Portugal, tornado independente em fins do século XI. E mais precisamente à Revolução de Avis e suas consequências.
A dinastia de Borgonha chegou ao fim em 1383, quando D. Fernando morreu... Com a rainha D. Leonor Teles, que tinha vínculos sanguíneos com a família real de Castela, o rei tivera apenas uma filha, D. Beatriz, casada com D. João (monarca de Castela)... D. Leonor resolveu entregar o trono português à filha, e isso provocou diversas insatisfações entre os portugueses que entenderam o acerto como uma ameaça à independência do país. Entre os insatisfeitos, havia muitos artesãos e comerciantes liderados pelo Mestre João de Avis...
A Revolução de Avis (1383-1385) foi marcada por diversos episódios em que os apoiadores de Mestre João enfrentaram tropas cedidas pelo rei de Castela em defesa da rainha viúva... Durante este período, os castelhanos aliaram-se à França, já os revoltosos receberam o apoio da Inglaterra e reforçaram as posições nacionalistas. Como podemos notar, a revolução se radicalizou e só terminou após a épica Batalha de Aljubarrota (14/08/1385), marcada pela vitória das tropas do Mestre de Avis contra inimigos que contavam maior contingente beligerante.
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Após o êxito da Revolução de Avis, o Mestre João foi aclamado rei de Portugal, tornou-se D. João I da Dinastia de Avis e deu início ao processo de acumulação referido no início dessa postagem.
D. João I associou “rendas da Coroa e de particulares”, garantiu o ”suporte de serviços civis e militares”, e dessa forma permitiu “a gestão de um fundo comum destinado ao fim específico de conquista de novos territórios e de oportunidades comerciais no exterior”... Ou seja, deu bases à “empresa estatal de capital misto” que tomou a frente das “Grandes Navegações”.
Leia: Rei do Congo. Editora 34.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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