Muitas vezes, as confrarias que se organizaram em Portugal a partir do século XVI funcionavam como lugares de recreação e polos de atividades culturais. As irmandades concediam títulos nobiliários... Em Lisboa, por exemplo, havia o de marquês, concedido pela “majestade negra”. O livro conta que o escritor Camilo Castelo Branco foi agraciado com o referido título por D. Jacinta.
Como já se salientou anteriormente, no Brasil celebraram-se “Reinados do Congo” entre os séculos XVII e XIX... Em igrejas de Pernambuco e do Rio de Janeiro realizaram-se coroações de reis e rainhas.
Em ambos os casos, as citadas manifestações culturais eram resultado da memória africana preservada pelos negros que reconheciam em suas festas a identidade que traziam desde a terra nativa. Em Portugal, os “reinados do Congo resumiam-se aos eventos “caseiros, a festas de adro e procissões”. No Brasil, os reinados extrapolavam os ambientes das igrejas e tomava as ruas... Logo tornaram-se festas folclóricas que em diversas ocasiões se misturaram ao carnaval.
(...)
Tinhorão
dedica-se a elucidar a conjuntura portuguesa dos tempos que marcaram a “Epopeia
dos Descobrimentos”.
Em relação à
navegação pelo litoral do ocidente africano, sabe-se que suas embarcações
atingiram desde o rio Senegal (1444) até o rio Cuanza (1575), onde viviam os
Ngola (daí resultou o nome Angola).
Tradicionalmente
associa-se as grandes conquistas lusitanas a partir dos empreendimentos
marítimos à ideia de superação do monopólio comercial mantido pelos árabes
desde o Oriente até a Europa. Por um bom tempo, as narrativas heroicas
medievais pesaram nessa interpretação. O livro destaca que, mais que isso, as
grandes navegações e suas descobertas se relacionam às investidas burguesas em
seu amplo projeto comercial.
Ideais nacionalistas
e de fé impulsionaram a associação entre os esforços burgueses e do Estado
português. Essa aliança possibilitou a “exploração de mercado em nível
internacional”. Neste ponto somos tentados pela questão fundamental acerca dos
elementos que viabilizaram a acumulação do capital necessário aos
empreendimentos...
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A resposta à questão
nos leva a algumas reflexões sobre o processo de formação de Portugal, tornado
independente em fins do século XI. E mais precisamente à Revolução de Avis e
suas consequências.
A dinastia de Borgonha chegou ao fim em 1383, quando D. Fernando morreu...
Com a rainha D. Leonor Teles, que tinha vínculos sanguíneos com a família real
de Castela, o rei tivera apenas uma filha, D. Beatriz, casada com D. João
(monarca de Castela)... D. Leonor resolveu entregar o trono português à filha,
e isso provocou diversas insatisfações entre os portugueses que entenderam o
acerto como uma ameaça à independência do país. Entre os insatisfeitos, havia
muitos artesãos e comerciantes liderados pelo Mestre João de Avis...
A Revolução de Avis (1383-1385) foi marcada por diversos episódios em
que os apoiadores de Mestre João enfrentaram tropas cedidas pelo rei de Castela
em defesa da rainha viúva... Durante este período, os castelhanos aliaram-se à
França, já os revoltosos receberam o apoio da Inglaterra e reforçaram as
posições nacionalistas. Como podemos notar, a revolução se radicalizou e só terminou
após a épica Batalha de Aljubarrota (14/08/1385), marcada pela vitória das
tropas do Mestre de Avis contra inimigos que contavam maior contingente
beligerante.
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Após o êxito da Revolução de Avis, o Mestre João
foi aclamado rei de Portugal, tornou-se D. João I da Dinastia de Avis e deu
início ao processo de acumulação referido no início dessa postagem.
D.
João I associou “rendas da Coroa e de particulares”, garantiu o ”suporte de serviços
civis e militares”, e dessa forma permitiu “a gestão de um fundo comum
destinado ao fim específico de conquista de novos territórios e de
oportunidades comerciais no exterior”... Ou seja, deu bases à “empresa estatal
de capital misto” que tomou a frente das “Grandes Navegações”.
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2019/11/rei-do-congo-mentira-que-virou-folclore_13.html
Leia: Rei
do Congo. Editora 34.
Um abraço,
Prof.Gilberto