segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

“Rei do Congo – A mentira que virou folclore”, de José Ramos Tinhorão – embarcações a vela e remo utilizadas pelos portugueses no começo do século XV; cáravos percursores das caravelas; fragmentos do professor Pedro Agostinho publicadas na “Revista Quinto Império”, nº 15; carta-portulanos e bússolas, instrumentos para a navegação de rumo e estima pelo Mediterrâneo; o “Cabo do Não”

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2019/11/rei-do-congo-mentira-que-virou-folclore_25.html antes de ler esta postagem:

Tinhorão dá destaque à divergência entre as informações (quanto ao número de embarcações utilizadas pelos portugueses durante a conquista de Ceuta) apresentadas por Pisano e Zurita... Todavia o que mais chama a atenção é o fato de a frota plenamente capacitada para as manobras ser constituída por muitos navios tradicionais e comumente avistados no Mediterrâneo desde longa data. Muitos deles conjugavam velas e remos.
Neste ponto, o livro cita informações extraídas de “Os navios do Infante D. Henrique”, do historiador das navegações e da ciência náutica Quirino da Fonseca. Assim, entre os modelos utilizados pelos portugueses do começo do século XV devemos destacar “galés a remos, barinéis, de maior porte, mas também a remo ou velas, fustas a remo, com vela única e, possivelmente, barcos do tipo cáravos dos mouros”.
A respeito desses últimos, esclarece-se que foram aperfeiçoados e tempos depois possibilitaram a construção das “caravelas de vela latina, capazes de navegar com vento contrário”.
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Para melhor ilustrar o anteriormente mencionado, vale ressaltar ainda outro estudo citado em nota sobre os avanços obtidos pelos portugueses na navegação em águas sujeitas a correntes adversas... No caso, as investigações do professor Pedro Agostinho publicadas na “Revista Quinto Império, nº 15, do Gabinete Português de Leitura/centro de Estudos Portugueses” (Salvador, dezembro/2001), informam que no Recôncavo Baiano praticou-se a navegação contra o vento (a bolina) graças às manobras dos navegantes e à versatilidade de suas embarcações que permitiam “aproximar a proa, ao máximo, da linha do vento avançando contra ele aos ziguezagues, em bordos sucessivos, todos referidos, a um rumo médio previamente determinado”.
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A conquista de Ceuta evidenciou a necessidade de aprimoramento das embarcações e instrumentos de navegação. Tornou-se claro para os portugueses que o avanço pelo Atlântico exigiria maiores esforços do governo, algo bem entendido pela burguesia vinculada aos empreendimentos portuários e a chamada “moderna nobreza dos ‘filhos segundos’” que despontou com a dinastia de Avis. Os resultados da aliança entre os dois grupos começaram a surgir conforme buscaram soluções para os novos desafios da expansão marítima. A vastidão do oceano, os ventos adversos e o avanço para o desconhecido levaram os atores a investirem nos meios possibilitados pelas novidades científicas de então.
Nesse sentido, pode-se dizer que houve uma ciência a serviço dos negócios relacionados à navegação. Desde o século XIV vários estudos geográficos contribuíam para a construção do conhecimento de roteiros mais seguros pelo Mediterrâneo... A Cartografia Moderna tem sua origem nessas carta-portulanos, como eram chamados os mapas dos referidos roteiros.
De posse dessas cartas, e com o auxílio bússola (invenção chinesa logo disseminada entre as nações mediterrâneas graças aos empreendimentos árabes), os navegantes podiam atingir seus objetivos com maior precisão. A bússola indicava o norte magnético, então nos mapas marcava-se o destino. Depois traçava-se a “linha de rumo”... O método, que nos dias de hoje parece simples demais, foi amplamente utilizado nas navegações pelo Mediterrâneo até o século XV e era comumente chamado de “navegação de rumo e estima”.
Como o Mediterrâneo está cercado e limitado pelas terras do sul da Europa, norte da África e pela Península Arábica, a “navegação de rumo e estima” manteve-se satisfatória por muito tempo e pôde ser concluída por embarcações a vela e remo sem maiores traumas (aliás, esses foram os meios utilizados por fenícios, gregos, romanos durante a antiguidade, e tempos depois pelos árabes).
A conquista de Ceuta mostrou aos portugueses que teriam muitas dificuldades para prosseguir com o expansionismo, sobretudo porque a presença de mouros pela costa marroquina era intensa... Eles ainda dominavam a Andaluzia (em terras espanholas), desse modo a navegação mediterrânea tornava-se inviável. Então, a alternativa “óbvia e imprescindível” eram as águas do Atlântico.
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Navegar mais ao sul era temerário...
O livro dá conta de que o ponto máximo que os portugueses podiam atingir era o “Cabo do Não”, na costa africana... O nome se deve à incógnita que alimentavam a respeito do avanço a partir dali: “quem passar do Cabo do Não, ou tornará ou não”. A única certeza que alimentavam era a de que os recursos utilizados para a navegação pelo Mediterrâneo eram insuficientes para os riscos de além do “Cabo do Não”.
Leia: Rei do Congo. Editora 34.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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