Tinhorão dá destaque à divergência entre as informações (quanto ao número de embarcações utilizadas pelos portugueses durante a conquista de Ceuta) apresentadas por Pisano e Zurita... Todavia o que mais chama a atenção é o fato de a frota plenamente capacitada para as manobras ser constituída por muitos navios tradicionais e comumente avistados no Mediterrâneo desde longa data. Muitos deles conjugavam velas e remos.
Neste ponto, o livro cita informações extraídas de “Os navios do Infante D. Henrique”, do historiador das navegações e da ciência náutica Quirino da Fonseca. Assim, entre os modelos utilizados pelos portugueses do começo do século XV devemos destacar “galés a remos, barinéis, de maior porte, mas também a remo ou velas, fustas a remo, com vela única e, possivelmente, barcos do tipo cáravos dos mouros”.
A respeito desses últimos, esclarece-se que foram aperfeiçoados e tempos depois possibilitaram a construção das “caravelas de vela latina, capazes de navegar com vento contrário”.
(...)
Para melhor ilustrar o anteriormente mencionado, vale ressaltar ainda
outro estudo citado em nota sobre os avanços obtidos pelos portugueses na
navegação em águas sujeitas a correntes adversas... No caso, as investigações
do professor Pedro Agostinho publicadas na “Revista Quinto Império, nº 15, do
Gabinete Português de Leitura/centro de Estudos Portugueses” (Salvador, dezembro/2001),
informam que no Recôncavo Baiano praticou-se a navegação contra o vento (a
bolina) graças às manobras dos navegantes e à versatilidade de suas embarcações
que permitiam “aproximar a proa, ao máximo, da linha do vento avançando contra
ele aos ziguezagues, em bordos sucessivos, todos referidos, a um rumo médio
previamente determinado”.
(...)
A
conquista de Ceuta evidenciou a necessidade de aprimoramento das embarcações e
instrumentos de navegação. Tornou-se claro para os portugueses que o avanço
pelo Atlântico exigiria maiores esforços do governo, algo bem entendido pela
burguesia vinculada aos empreendimentos portuários e a chamada “moderna nobreza
dos ‘filhos segundos’” que despontou com a dinastia de Avis. Os resultados da
aliança entre os dois grupos começaram a surgir conforme buscaram soluções para
os novos desafios da expansão marítima. A vastidão do oceano, os ventos
adversos e o avanço para o desconhecido levaram os atores a investirem nos
meios possibilitados pelas novidades científicas de então.
Nesse sentido,
pode-se dizer que houve uma ciência a serviço dos negócios relacionados à
navegação. Desde o século XIV vários estudos geográficos contribuíam para a
construção do conhecimento de roteiros mais seguros pelo Mediterrâneo... A
Cartografia Moderna tem sua origem nessas carta-portulanos, como eram chamados
os mapas dos referidos roteiros.
De
posse dessas cartas, e com o auxílio bússola (invenção chinesa logo disseminada
entre as nações mediterrâneas graças aos empreendimentos árabes), os navegantes
podiam atingir seus objetivos com maior precisão. A bússola indicava o norte
magnético, então nos mapas marcava-se o destino. Depois traçava-se a “linha de
rumo”... O método, que nos dias de hoje parece simples demais, foi amplamente
utilizado nas navegações pelo Mediterrâneo até o século XV e era comumente
chamado de “navegação de rumo e estima”.
Como o Mediterrâneo
está cercado e limitado pelas terras do sul da Europa, norte da África e pela
Península Arábica, a “navegação de rumo e estima” manteve-se satisfatória por
muito tempo e pôde ser concluída por embarcações a vela e remo sem maiores
traumas (aliás, esses foram os meios utilizados por fenícios, gregos, romanos
durante a antiguidade, e tempos depois pelos árabes).
A conquista de Ceuta mostrou
aos portugueses que teriam muitas dificuldades para prosseguir com o
expansionismo, sobretudo porque a presença de mouros pela costa marroquina era
intensa... Eles ainda dominavam a Andaluzia (em terras espanholas), desse modo
a navegação mediterrânea tornava-se inviável. Então, a alternativa “óbvia e
imprescindível” eram as águas do Atlântico.
(...)
Navegar mais ao sul era temerário...
O
livro dá conta de que o ponto máximo que os portugueses podiam atingir era o “Cabo
do Não”, na costa africana... O nome se deve à incógnita que alimentavam a
respeito do avanço a partir dali: “quem passar do Cabo do Não, ou tornará ou
não”. A única certeza que alimentavam era a de que os recursos utilizados para
a navegação pelo Mediterrâneo eram insuficientes para os riscos de além do “Cabo
do Não”.
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2019/12/rei-do-congo-mentira-que-virou-folclore_2.html
Leia: Rei
do Congo. Editora 34.
Um abraço,
Prof.Gilberto