Como já se destacou anteriormente, Tyburn era o vilarejo inglês para onde acorriam centenas de pessoas sempre que ocorria uma execução... Em “A Invenção dos Direitos Humanos” há uma reprodução de “Procissão para Tyburn”, gravura 11 de uma série (“Atividade e Ociosidade”) elaborada por Willian Hogarth (1747). A ilustração apresenta uma cena que antecede o enforcamento do jovem Thomas Idle, o “aprendiz ocioso”.
Os detalhes destacados pelo artista nos dão uma ideia do que acontecia nessas ocasiões. Notamos uma grande multidão ansiosa pelo momento fatal... A movimentação do populacho se evidencia em primeiro plano, enquanto a forca está localizada mais ao fundo e à direita. Notamos uma tribuna utilizada para os que desejavam uma visão melhor do acontecimento... O condenado segue numa carroça e lê a Bíblia enquanto o veículo avança com dificuldade em meio às pessoas... O seu caixão segue na mesma carroça. Há um religioso metodista que o acompanha proferindo discursos de ordem moral. Vemos um vendedor de bolos que se esforça para oferecer seu produto aos que conseguiram bons lugares... Quatro velas dispostas junto ao cesto indicam que ele chegou antes do alvorecer. Ocupado com sua tarefa, nem percebe que um menino lhe tira a carteira... Uma mulher vende gim de uma garrafa que traz num cestinho amarrado na cintura. Num canto está um tipo que segura um cachorro pelo rabo e dá a entender que o lançará sobre o pregador que acompanha Thomas Idle. A miséria salta aos olhos, há uma atmosfera de potencial distúrbio, mas os soldados que acompanham o cortejo parecem não ter condições de manter a ordem.
A reprodução exposta nesta página foi extraída de britishmuseum.org (nesta data, às 18:44).
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Destacamos na postagem anterior que as ocasiões em que se processavam as
execuções eram vistas como festivas por muita gente... Todavia, vários
documentos destacam que as grandes concentrações eram imprevisíveis e não raro
resultavam em bebedeiras e devassidão.
As
pessoas mais esclarecidas da Inglaterra mostravam-se chocadas com as constantes
demonstrações de barbárie a cada “procissão a Tyburn”... Cartas relatam a
desaprovação de pouco caso da gente comum aos clérigos. Sem o menor respeito,
ridicularizavam os religiosos que acompanhavam os condenados! Também não podiam
aceitar que os aprendizes vinculados a cirurgiões se envolvessem em brigas com
os amigos e familiares dos executados na disputa pelos cadáveres.
Era de se esperar que
as pessoas lamentassem o sofrimento e que sentissem compaixão pelos executados,
mas em vez disso pareciam vibrar de prazer. O livro destaca um trecho do
“Morning Post”, de Londres, a respeito da postura da multidão durante um
enforcamento que ocorreu no inverno de 1776:
“A multidão
impiedosa se comportava com uma indecência extremamente desumana – gritando,
rindo, atirando bolas de neve uns nos outros, principalmente naqueles poucos
que manifestavam uma compaixão apropriada pelas desgraças de seus semelhantes”.
A concentração de
pessoas dispostas a acompanhar as execuções penais era sempre muito grande.
Mesmo quando acontecia de ser mais moderada no tocante às manifestações
violentas e ultrajantes, a grande quantidade era sempre motivo de preocupações.
“A Invenção dos Direitos Humanos” destaca as impressões de um britânico que
teve oportunidade de assistir a uma execução em Paris (1787) pelo suplício da
roda. Segue um fragmento de seu relato:
“O barulho da multidão era
como o murmúrio rouco causado pelas ondas do mar quebrando ao longo de uma
costa rochosa: por um momento amainava; e num silêncio terrível a multidão
contemplava o carrasco pegar uma barra de ferro e dar início à tragédia,
golpeando o antebraço da vítima”.
Entre os espectadores sempre havia muitas mulheres... E isso também era
motivo de espanto para os observadores ingleses:
“É
espantoso que a parte mais delicada da criação, cujos sentimentos são tão
requintadamente ternos e refinados, venha em grandes números para ver um
espetáculo tão sangrento; mas, sem dúvida, é a piedade, a compaixão bondosa que
sentem o que as torna tão ansiosas sobre as torturas infligidas a nossos
semelhantes”.
As observações desse trecho final não sintetizam exatamente o sentimento
das mulheres que se esforçavam para presenciar as execuções.
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2019/11/a-invencao-dos-direitos-humanos-uma_9.html
Leia: A
Invenção dos Direitos Humanos. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto