quarta-feira, 20 de novembro de 2019

“Rei do Congo – A mentira que virou folclore”, de José Ramos Tinhorão – a expansão da empresa naval e mercantil durante os reinados dos séculos XIII e XIV; iniciativas de D. Dinis para o fortalecimento da marinha lusitana; bolsa de mercadorias na Lisboa de 1293; uma frota específica para cuidar da segurança dos navios mercantes; acordos comerciais e tratados com Inglaterra e França; contratação de Emmanuel Pezagno e outros genoveses para a organização marinha de paz e guerra; expedições às Canárias

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2019/11/rei-do-congo-mentira-que-virou-folclore_14.html antes de ler esta postagem:

Antigas embarcações datadas do século XII e construídas em estaleiros portugueses. Como ocorria na “tercena” no Terreiro do Trigo, eram movidos a vela e a remo e muito comuns no Mediterrâneo. Algumas eram galés, outras eram chamadas de carracas e devem ser reconhecidas como precursoras das naves que dominariam as grandes navegações durante o século XV.
Aquelas primitivas embarcações foram utilizadas nos combates a corsários marroquinos e para o transporte de artigos extraídos ou produzidos no reino. Prova disso é o naufrágio (em 1194) de embarcação portuguesa que navegava o Mar do Norte carregado de “madeira, azeite e melgaço”.
(...)
O século XIII foi marcado por considerável ampliação da esquadra portuguesa, sobretudo graças à organização de muitas outras tercenas nas proximidades de Lisboa. O livro cita reinados marcados por essa expansão: Sancho II (1223-1247); Afonso III (1248-1279); D. Dinis (1279-1325).
Houve continuidade do avanço das atividades de proteção dos interesses marítimos lusitanos durante reinados que atravessaram os séculos XIV e XV. O texto cita os períodos dos governos de D. Fernando (1367-1383) e de D. João I (1385-1433). A essa altura, o estuário do Tejo, a ribeira do Coina e outras partes do litoral mais ao norte (ribeira de São Martinho, Vila de Nova Gaia e Aveiro) também testemunharam a evolução do projeto econômico encabeçado pelo Estado português.
A burguesia ligada aos portos e aos negócios relacionados à exploração marítima percebeu a importância de aliar seus interesses ao poder político. Os objetivos políticos e econômicos do Estado se ordenavam perfeitamente aos dessa ativa camada social. Ainda durante o século XIII, D. Dinis havia ordenado a plantação de vasto pinheiral em Leiria, junto ao rio Lis, com o objetivo de fornecer a matéria-prima necessária para a construção de embarcações em área que, de acordo com o livro, passou a ser identificada “pelo nome de Tercenas”.
(...)
O desenvolvimento do comércio marítimo português fortaleceu-se muito ao tempo de D. Dinis. As transações mercantis incluíam Inglaterra, Flandres e França. O monarca manteve-se atento às demandas do setor. A intensa movimentação de navios com carregamentos volumosos e valiosos resultou na criação, em 1293, de uma “bolsa de mercadorias” em Lisboa, que se destinava “a regular a atividade dos portos que estimulava o comércio por mar assumindo praticamente os prejuízos causados pelos naufrágios decorrentes dos perigos da navegação”.
Outras providências foram tomadas no sentido de garantir a segurança das embarcações que se dirigiam para o norte europeu. Assim, no começo do século XIV, D. Dinis possibilitou a criação de uma frota específica para essa finalidade. Em 1307, o rei nomeou Nunes Fernandes Cogominho para almirante da referida organização.
(...)
Houve ainda uma movimentação internacional com o objetivo de regulamentar a modalidade comercial que estava em franco crescimento. O livro registra o esforço do monarca português junto a Eduardo II, da Inglaterra, para o estabelecimento de um tratado comercial... E com Felipe IV, da França, firmou-se um acordo favorável aos portugueses na medida em que garantia privilégios a eles no porto de Harfleur, que era o mais importante na Normandia.
Em 1317, D. Dinis contratou o navegador genovês, Micer Emmanuel Pezagno (que o livro esclarece ser conhecido dos portugueses também por Manuel Pessanha, Pezaño ou Pessagno). Este genovês foi nomeado Almirante-Mor, a mais importante autoridade no que dizia respeito à “navegação de paz e guerra”, e se encarregou de juntar aos esforços portugueses vinte de seus “compatriotas especialistas em técnicas náuticas em uso no Mediterrâneo”.
Por “navegação de paz” entende-se o comércio marítimo. O livro destaca que a entrada do Mediterrâneo desde Gibraltar foi dominada pelos espanhóis até 1333... Como os mouros mantiveram o controle da região graças às suas conquistas no norte africano, a empresa portuguesa buscou as alternativas oferecidas pelo Atlântico... Daí verificarmos a não casualidade das expedições enviadas às ilhas Canárias nos anos 1336 e 1341. As equipes contavam com a participação de genoveses do time de Pezagno, além disso as cartas náuticas utilizadas pelas embarcações traziam “nomenclatura italianizada”.
Tinhorão cita “A cartografia dos Descobrimentos”, de Alfredo Pinheiro Marques (1994), que sentencia que a contratação de Emmanuel Pazagno em 1317 tinha como objetivo “organizar uma marinha de guerra e certamente nada mais que isso”.
Leia: Rei do Congo. Editora 34.
Um abraço,
Prof.Gilberto

Páginas