Kapuscinski escrevia maravilhosamente... Seu texto é empolgante... Ficamos encantados com a precisão com que descreve os cenários e perfis dos líderes africanos.
Todavia, para alguns, o fato de ele não apresentar (de modo tradicional) a sequência dos acontecimentos que resultaram na morte de Patrice Lumumba faz com que a leitura se torne um pouco “truncada”...
Segue breve síntese que procura contemplar também um pouco da biografia do mártir congolês:
(...)
Patrice
Lumumba teve a possibilidade de frequentar escolas de missionários católicos e
protestantes. Foi graças a isso que conseguiu uma formação um pouco mais
qualificada do que a quase totalidade dos habitantes do Congo... É verdade que
também o seu autodidatismo agregou-lhe conhecimento... Em dado momento de sua
juventude assumiu um cargo de relevada importância num escritório de mineradora
e também trabalhou nos Correios...
Recebeu do governo belga a
certidão de “registrado”, que garantia certos direitos e o colocava numa
condição social acima dos demais colonizados...
Aos
poucos adquiriu uma compreensão mais ampla acerca da realidade de seu país e
passou a enveredar os caminhos da política... Em 1955 matriculou-se no Partido
Liberal Belga... Mas logo amargou uma detenção de um ano, acusado de fraudar os
Correios.
Depois
que saiu da prisão fundou o MNC (Movimento Nacional Congolês)... Como sabemos,
a base do movimento era a ideia de que a união de todas as tribos poderia levar
o povo à emancipação... Além disso, Lumumba havia assumido os ideais do
pan-africanismo. Sua militância levou-o à prisão em 1959.
(...)
A
independência do Congo deve ser entendida como resultado de uma série de
pressões que os países imperialistas sofriam desde o fim da Segunda Guerra
Mundial... Inglaterra e França haviam perdido vários de seus antigos
territórios coloniais...
A
Bélgica entendia que a possibilidade de perder o controle total do Congo era
iminente... Não foi por acaso que a Conferência de Bruxelas foi convocada. Os
debates sobre o futuro do Congo foram abertos.
Alguns representantes
pressionaram para que livrassem Lumumba do cárcere para que pudesse participar
do evento.
(...)
O
dia 30 de junho de 1960 foi marcado pela solenidade de Independência da
República Democrática do Congo.
Já
nessa ocasião tomaram posse Joseph Kasa-Vubu, como presidente do país; e
Patrice Lumumba, como primeiro-ministro (seu discurso concentra as demandas de
todo povo do Congo e não esconde o seu passado de sofrimento e de luta).
A
composição foi resultado de um arranjo político para contemplar as tendências
que participavam do pleito... As eleições do mês anterior mostraram que não
havia como não reconhecer a expressiva votação de Lumumba, que, de fato, se
tornou o responsável pelo governo.
Porém
mal se iniciou a administração e o governo foi abalado por uma série de
rebeliões... Militares do exército sublevaram suas unidades... A mais séria foi
a da rica província Katanga, onde havia um claro apoio do governo belga e de
empresas mineradoras.
Enquanto o presidente vacilava em relação à situação
litigiosa, Lumumba era incisivo em relação à necessária ajuda internacional...
Não obtendo o socorro da ONU, aproximou-se diplomaticamente da URSS, que
prestou imediato auxílio com armas, alimentos, remédios.
(...)
Pressionaram Lumumba...
Quiseram conferir se o seu nacionalismo era sinal de alinhamento com os
comunistas... Ele respondeu que, acima de tudo, era nacionalista africano. Mas
os Estados Unidos, a Bélgica e a Inglaterra entendiam que ele representava
séria ameaça ao bloco capitalista.
Kasa-Vubu depôs Lumumba... Por
sua vez, Lumumba considerou ilegal a sua destituição e depôs o presidente... O
senado deu-lhe um “voto de confiança”.
Mas a crise política
tornou-se ainda mais aguda depois que o coronel Joseph Mobutu tomou o poder
através de um golpe... Lumumba tornou-se prisioneiro em regime domiciliar,
sendo vigiado e protegido por tropas da ONU.
(...)

Houve várias solicitações
às tropas da ONU para que o libertassem... Também a União Soviética interveio,
mas nada disso adiantou.
O
pior de tudo foi que no início de 1961 (17 de janeiro) enviaram Lumumba para
Katanga... É certo que ele sofreu tortura! Alguns vídeos disponíveis na
internet confirmam isso...
É
certo que ele e outros três ex-ministros foram sumariamente executados!
Moise
Tshombe, que presidia Katanga, agiu em sintonia com oficiais belgas e em acordo
com interesses ingleses e norte-americanos.
Somente
depois de três semanas do assassinato é que anunciaram a morte de Lumumba...
Argumentaram que ele havia fugido e que alguns camponeses rebeldes o
executaram.
O corpo do mártir jamais foi encontrado...
Ninguém sofreu punição.
Leia: A
Guerra do Futebol. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto