Kapuscinski descreveu o ambiente em que se deu o comício de 1960, na Praça West End...
Como sabemos, o lugar estava lotado... Havia doze mastros instalados, e em cada um foram colocadas oito imagens de Nkrumah (96 ao todo)... Muitas bandeirinhas enfeitavam os mastros conectados por fios de náilon... Nas esvoaçantes bandeirinhas viam-se emblemas da cerveja Heineken...
Kapuscinski compara a praça a uma embarcação que não navega... Um “navio encalhado no baixio da cidade”.
(...)
Na tribuna acomodaram-se os ministros e os membros
mais destacados do partido... Eles trajam uma vestimenta chamada mufti, que
Kapuscinski compara a um casulo... Os que eram reconhecidos por alguém do
público eram ovacionados e chamados por nomes que soam familiares...
Gritavam “Kofi” para o Ministro da Educação, Kofi Baako; “Tawiah” para o
secretário geral do partido, Tawiah Adamafio... E assim por diante.
O pastor Nimako, que era a autoridade máxima da Igreja
Metodista da cidade, deu início a uma oração... Olhos fechados e mãos unidas...
Apesar da qualidade duvidosa do sistema de som, era possível entender que se
tratava de temática “infanto-suplicante”... Em síntese, ele agradecia a Deus
por proteger Nkrumah e por ter abençoado aos ganenses... E também pedia a Deus
para que não desistisse do povo que ocupava aquele “cantinho de mundo”, para
que o seu futuro fosse “brilhante e imaculado”.
O povo ouviu respeitosamente... Dois rojões foram disparados... Então o
Ministro das Finanças, K. A. Gbedemah fez uso do microfone e explicou que
tinham um tempinho para recordar a história de libertação de Gana até que
Nkrumah chegasse... Porém, mal iniciou sua falação, teve de interromper porque anunciaram
a chegada do líder.
(...)
Neste ponto da narrativa, Kapuscinski explica que a multidão se agitou e
que as crianças foram colocadas nos ombros dos adultos para que pudessem
avistar Kwame Nkrumah.
Foi Tawiah Adamafio quem sugeriu que todos o recebessem agitando os
lenços brancos... De fato, foi isso o que ocorreu.
Nkrumah surgiu trajando um mufti acinzentado... Estava muito parecido
com a estátua em sua homenagem erguida à frente do Parlamento... Ele trazia “um
bastão mágico coberto com a pele de macaco, que, como se acredita, afasta o
homem de todas as forças do mal”.
Todos ficaram encantados
com a entrada triunfal de Nkrumah e é por isso que, além de agitar os lenços
brancos, gritaram “Jah-hia! Jah-hia!”...
(...)
A criançada subiu ao
palanque para se juntar a Nkrumah... Com ele também havia chegado uma guarda
responsável pela sua segurança...
Havia uma mesa e uma
poltrona onde ele se acomodou... Sobre a mesa estava a bandeira de Gana...
O silêncio tomou conta de toda a audiência.
(...)
Kapuscinski diz que até
gritar era cansativo... Mesmo assim alguém teve a ideia de iniciar uma canção
do partido...
Isso só não teve prosseguimento porque dois
feiticeiros apareceram diante de Nkrumah para um ritual. O autor cita o nome de
um deles: Nai Wolomo, que era o “principal feiticeiro da região Ga, na qual Acra
se situa”.
Danças secretas marcadas por algumas acrobacias faziam parte do
ritual... Os feiticeiros tinham de se inclinar para o premier... Quando faziam
isso, seus traseiros ficavam à mostra para o povo, que aplaudia e gritava divertidamente
“Jah-hia! Jah-hia!”, demonstrando que estava encantado com a cena.
(...)
A parte final do ritual foi marcada pela oferenda que
os feiticeiros fizeram ao grande líder...
De duas garrafas despejaram uma bebida alcoólica e perfumada que era
importada da Holanda... O momento solene a tornava uma “bebida sagrada”.
Logo que Nkrumah ingeriu do líquido todos aplaudiram... Seguiram-se
rezas através das quais os feiticeiros esperavam “afastar o diabólico deus-mar”...
O que sobrou das bebidas foi despejado sobre as
cabeças dos que estavam no palanque... A essa altura as crianças já tinham
retornado para junto de seus pais.
Leia: A
Guerra do Futebol. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto