sexta-feira, 20 de novembro de 2015

“A Guerra do Futebol”, de Ryszard Kapuscinski – de Juba ao posto de fiscalização em Aba; um pouco sobre o “Levante dos Simbas”; obtendo “visto” para prosseguir rumo a Stanleyville

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/11/a-guerra-do-futebol-de-ryszard_19.html antes de ler esta postagem:

Kapuscinski viajou para Cartum, onde aguardaria o colega Tcheco que possibilitou a sua ida ao Congo.
Cartum é extremamente quente... Não foi fácil suportar a espera.
Mas Jarda chegou conforme havia combinado... Trouxe o compatriota Duszan Prowaznik. Os três voaram para Juba, que o polonês descreve como “cidade-quartel no meio do nada”.
(...)
Em Juba não encontraram quem se dispusesse a vender-lhes um automóvel... A situação levou-os a se aproximar de um tipo que todos tinham por “suspeito e temerário”... Comprometeram considerável soma que levavam em troca de transporte conduzido pelo desconhecido...
Viajaram por mais de duzentos quilômetros... Na metade do dia seguinte chegaram à fronteira, que era controlada por um “policial seminu”. Ele tinha a companhia de uma companheira seminua e de um pequeno menino.
Esse primeiro momento foi tranquilo... Puderam prosseguir sem maiores problemas... O mesmo não se pode dizer a respeito do encontro com a gendarmaria congolesa posicionada a alguns quilômetros, na cidade de Aba.
Os três jornalistas possuíam vistos para o Congo concedido por Pierre Mulele (que era ministro de Lumumba).

                                                           *Kapuscinski destaca que Mulele liderava o “Levante dos Simbas” (1964), quando foi assassinado. Essa revolta ocorreu alguns anos depois dos acontecimentos narrados em Lumumba (Capítulo de A Guerra do Futebol). Ela foi marcada pela união de guerreiros de tribos hostis ao governo de Moise Tshombe (afinado com as potências ocidentais)... Os Simbas também se orientavam por crenças animistas e acreditavam (conforme os ensinamentos de feiticeiros xamãs) que se transformavam em poderosos leões (em suaíli, simba é a palavra que denomina o leão)... Os rebeldes chegaram a controlar grande parte do país e foram extremamente violentos com todos os que representavam o poder vigente. Tshombe conseguiu derrotar os Simbas após os acertos com norte-americanos e belgas. Essas tropas contaram com a atuação de mercenários... O momento mais dramático talvez tenha sido o da retirada desesperada de milhares de norte-americanos, europeus e congoleses perseguidos enquanto os rebeldes executavam reféns.

O visto se resumia a uma simples redação manuscrita em folha de papel comum. Isso à parte, o nome Mulele não tinha o menor significado para os gendarmes, que ordenaram que retornassem imediatamente para o Sudão.
Os guardas foram claros ao garantir que quanto mais avançassem para o interior do Congo maiores perigos encontrariam... Jarda respondeu que não poderiam voltar porque não possuíam “vistos de retorno”.
(...)
Kapuscinski e os companheiros tchecos resolveram barganhar a passagem... Ele tinha pacotes de cigarros, Jarda e Prowaznik levavam bijuterias baratas... Os guardas aceitaram alguns broches e colares... Depois permitiram a passagem e, além disso, concederam-lhes a companhia de um sargento chamado Serafin.
Em Aba, conseguiram alugar um “velho e enorme Ford”...
Na madrugada seguinte o veículo rumava para Stanleyville.
Leia: A Guerra do Futebol. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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