quinta-feira, 12 de novembro de 2015

“A Guerra do Futebol”, de Ryszard Kapuscinski – motivações que levavam jornalistas e analistas políticos à África; um comício na West End de Acra; desagravo aos ataques da Time a Kwame Nkrumah

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/11/a-guerra-do-futebol-de-ryszard_25.html antes de ler esta postagem:

Kapuscinski explica por que a África despertava tanto interesse naqueles anos de fins da década de 1950 e início da de 1960.
Havia uma expectativa que não pode ser desconsiderada... O que poderia ocorrer se “trezentos milhões de pessoas endireitassem suas costas e exigissem o direito de se expressar livremente?” Poderiam direcionar sua revolta contra o continente europeu?
Novos países estavam sendo formados... Muitos deles se armavam... Jornalistas e observadores internacionais voltaram suas atenções à África e às tensões que marcaram as sociedades emancipacionistas... Sem dúvida, uma nova África estava surgindo.
Para alguns povos, a transição política se dava de modo doloroso e dramático... Não se pode dizer que não havia os que passavam por processos menos traumáticos...
O certo era que na África ocorriam processos totalmente novos aos europeus... Para Kapuscinski, o nascimento daquelas novas nações se dava como algo totalmente diverso do ponto de vista das nações tradicionais...
Pelo menos para ele, isso era o que mais chamava à atenção... Algo muito maior do que as caçadas de feras, feitiçaria ou “tribos exóticas” que sempre atraíam aventureiros dispostos a permanecer por longos anos em meio às florestas inóspitas.
De fato, o polonês tinha uma ideia em mente... Pretendia escrever sobre o continente focando a personalidade de Kwame Nkrumah, uma das lideranças mais importantes do continente: Aos 50 anos, “um político, visionário, tribuno e mago”.
(...)
Kapuscinski escreveu sobre os episódios que se deram na Praça West End logo após a publicação da revista Time de 21 de dezembro de 1959.
Houve uma manifestação popular convocada pelo governo... Desde as primeiras horas do dia, alguns veículos portando alto-falantes anunciavam que todos deveriam se reunir para “demonstrar sua raiva”.
A praça tornou-se apinhada de gente... Todos sabiam da importância de manifestar seus sentimentos quando convocados pelo governo... Isso era como que uma obrigação... E ninguém ousava abandonar a praça apesar do intenso calor e da falta de água.
Os habitantes de Acra estavam acostumados às condições adversas... Para o polonês, sem dúvida, o sufoco que reinava na atmosfera era insuportável. Todavia ele estava ali para registrar dos fatos... De início, não lhe restou alternativa senão permanecer parado, pois percebeu que a movimentação resultava em esgotamento físico e mental.
Havia uma fogueira e ela contribuía para que a temperatura se elevasse ainda mais... Inútil perguntar a respeito do que ocorreria ali. As pessoas se reuniram simplesmente porque haviam sido convocadas.
(...)
O esclarecimento se deu quando o ministro de Estado, Welbeck, apareceu e se pronunciou... A instalação do microfone era precária, mesmo assim a mensagem foi transmitida... O tipo discreto, que usava um “barrete negro mulçumano na cabeça” falou sobre o imperialismo e o seu avanço sobre os países pobres, e também sobre o ultraje que Nkrumah sofrera.
Basicamente, a Time norte-americana publicara reportagem na qual o líder era “apresentado como carreirista insignificante”... O relato dizia que o pessoal mais próximo a ele o chamava de “show-boy”; havia sido nomeado primeiro-ministro; depois “conselheiro particular da rainha”...
Estava claro que a revista fazia da empolgação em torno de Nkrumah um espetáculo que devia causar estranhamento às democracias ocidentais. Os seus partidários o chamavam de “Primeiro Cidadão da África”.
Para a revista, não havia como não desconfiar de Nkrumah... O Evening News, jornal diário de Acra, fazia a sua propaganda política de modo escancarado e praticamente se reduzia a isso.
Leia: A Guerra do Futebol. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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