quarta-feira, 18 de novembro de 2015

“A Guerra do Futebol”, de Ryszard Kapuscinski – o histórico comício de 1960 – segunda parte; conversa informal com a gente do povo; o “discurso oficial” apresentando os desafios de Gana; burocracia e desvios de conduta deviam ser combatidos; Nkrumah entendia que os imperialistas pretendiam manter frágeis os países africanos para continuar a explorá-los; sindicalistas e o apoio a Nkrumah; “o carteiro que não foi” ou “as outras demandas populares”

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/11/a-guerra-do-futebol-de-ryszard_18.html antes de ler esta postagem:

O discurso proferido naquele 8 de janeiro de 1960 foi publicado logo depois pelo Evening News... O jornal o intitulou “Uma Nova Bíblia para a África”.
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Nkrumah iniciou uma “conversa informal” felicitando a todos e desejando “Boas Festas e Feliz Ano Novo”.
Kapuscinski revela que a multidão acompanha os gestos de seu líder... Se ele fazia uma fisionomia séria, todos se tornavam sérios... Quando ria, todos riam também.
Nkrumah começou falando em fanti... Disse que estava feliz ao ver que todos estavam bem e “com excelente aspecto”... Também em fanti as pessoas respondiam que tudo havia melhorado graças a ele.
Isso não era o “discurso oficial”... Este, proferido em inglês, havia sido preparado anteriormente e chegou ao palanque pelas mãos do secretário-geral do partido.
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A oratória de Kwame era admirável... Também os ingleses reconheciam a sua capacidade de discursar... E pode-se dizer que tinham prazer de ouvi-lo.
Começou o discurso propriamente dito retomando suas “duas máximas”: conquistar o “reino político” para que todo o mais se tornasse realidade; a independência das demais nações africanas contribuiria para que a libertação de Gana se tornasse completa.
Sem dúvida, sua principal meta havia sido concluída. E ninguém podia duvidar que Gana tivesse muito a contribuir no “processo de descolonização”...
Nkrumah prosseguiu afirmando que, porém, restava outra difícil batalha... Gana precisava conquistar sua “independência econômica” e isso só se tornaria possível com muito esforço, sacrifício e disciplina de todos. 
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O líder falou sobre isso de forma clara e objetiva... Na sequência fez críticas à burocracia que imperava no próprio partido, entre os dirigentes e dignitários...
Explicou que ninguém devia se esquecer do próprio passado... As pessoas que passaram à condição de dirigentes não deviam se colocar perante a nação como “mais importantes do que o próprio partido”... Ninguém tinha o direito de achar que, por ingressar na agremiação política, poderia alcançar vantagens particulares à custa da nação.
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Essas palavras agradaram à multidão, que passou a gritar “Anko Kwame! Anko, Anko!” Algo como “Diga novamente Kwame! Repita! Repita!”
Um jovem subiu ao palanque para dar cambalhotas impressionantes. Ele trajava camisa com cores do partido (vermelho, branco e verde)... Todos aplaudiram sua habilidade... Kapuscinski não escondeu sua admiração pela exibição.
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Nkrumah prosseguiu o seu discurso tratando da África...
Adamafio, o secretário-geral do partido, virava as páginas que o chefe devia ler... Seus gestos indicavam a importância dos trechos que acabavam recebendo mais aplausos.
Em síntese, podemos dizer que, a respeito da África, Nkrumah disse que o continente continuava a sofrer ataques das nações colonialistas. Garantiu que era evidente que os imperialistas conduziam uma “política de formação de países que, embora independentes, mostram-se fracos e hesitantes”... Isso serviria apenas para manter manipuláveis os povos africanos...
Para Nkrumah, o desejo dos brancos não era outro senão o de manter a África sob seu domínio.
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O povo manifestou que o entendia ao gritar palavras de indignação que exigiam que os imperialistas se afastassem de suas terras... Também suplicavam para que Kwame continuasse a guia-las.
O discurso teve duração de 45 minutos.
No final, Nkrumah gritou “Viva a unidade e a independência da África!”
Enquanto era aplaudido, uma orquestra deu início a um animado boogie-woogie... O ritmo contagiante fez o povaréu agitar os quadris...
Aconteceu que Joe-fio Myers, que era secretário-geral da União dos Sindicatos, interrompeu a animação para ler a declaração de apoio de todos os trabalhadores de Gana a Kwame Nkrumah.
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Depois as pessoas se dispersaram...
Kapuscinski encontrou um funcionário dos correios chamado Kodgko, também conhecido por apreciar as lutas de boxe... O polonês quis saber por que o amigo não comparecera ao comício.
Kodgko perguntou se Kwame havia falado sobre os salários... A resposta foi negativa...
Então ele encerrou o assunto dizendo que, de fato, não teve motivos para aparecer na West End.
Leia: A Guerra do Futebol. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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