O discurso proferido naquele 8 de janeiro de 1960 foi publicado logo depois pelo Evening News... O jornal o intitulou “Uma Nova Bíblia para a África”.
(...)
Nkrumah
iniciou uma “conversa informal” felicitando a todos e desejando “Boas Festas e
Feliz Ano Novo”.
Kapuscinski revela que a
multidão acompanha os gestos de seu líder... Se ele fazia uma fisionomia séria,
todos se tornavam sérios... Quando ria, todos riam também.
Nkrumah
começou falando em fanti... Disse que estava feliz ao ver que todos estavam bem
e “com excelente aspecto”... Também em fanti as pessoas respondiam que tudo
havia melhorado graças a ele.
Isso
não era o “discurso oficial”... Este, proferido em inglês, havia sido preparado
anteriormente e chegou ao palanque pelas mãos do secretário-geral do partido.
(...)
A
oratória de Kwame era admirável... Também os ingleses reconheciam a sua
capacidade de discursar... E pode-se dizer que tinham prazer de ouvi-lo.
Começou
o discurso propriamente dito retomando suas “duas máximas”: conquistar o “reino
político” para que todo o mais se tornasse realidade; a independência das
demais nações africanas contribuiria para que a libertação de Gana se tornasse
completa.
Sem
dúvida, sua principal meta havia sido concluída. E ninguém podia duvidar que
Gana tivesse muito a contribuir no “processo de descolonização”...
Nkrumah
prosseguiu afirmando que, porém, restava outra difícil batalha... Gana
precisava conquistar sua “independência econômica” e isso só se tornaria
possível com muito esforço, sacrifício e disciplina de todos.
(...)
O líder falou sobre isso de forma clara e objetiva...
Na sequência fez críticas à burocracia que imperava no próprio partido, entre
os dirigentes e dignitários...
Explicou que ninguém devia
se esquecer do próprio passado... As pessoas que passaram à condição de
dirigentes não deviam se colocar perante a nação como “mais importantes do que
o próprio partido”... Ninguém tinha o direito de achar que, por ingressar na
agremiação política, poderia alcançar vantagens particulares à custa da nação.
(...)
Essas palavras agradaram à
multidão, que passou a gritar “Anko Kwame! Anko, Anko!” Algo como “Diga
novamente Kwame! Repita! Repita!”
Um jovem subiu ao
palanque para dar cambalhotas impressionantes. Ele trajava camisa com cores do
partido (vermelho, branco e verde)... Todos aplaudiram sua habilidade...
Kapuscinski não escondeu sua admiração pela exibição.
(...)
Nkrumah
prosseguiu o seu discurso tratando da África...
Adamafio, o
secretário-geral do partido, virava as páginas que o chefe devia ler... Seus
gestos indicavam a importância dos trechos que acabavam recebendo mais
aplausos.
Em
síntese, podemos dizer que, a respeito da África, Nkrumah disse que o
continente continuava a sofrer ataques das nações colonialistas. Garantiu que
era evidente que os imperialistas conduziam uma “política de formação de países
que, embora independentes, mostram-se fracos e hesitantes”... Isso serviria
apenas para manter manipuláveis os povos africanos...
Para
Nkrumah, o desejo dos brancos não era outro senão o de manter a África sob seu
domínio.
(...)
O
povo manifestou que o entendia ao gritar palavras de indignação que exigiam que
os imperialistas se afastassem de suas terras... Também suplicavam para que
Kwame continuasse a guia-las.
O
discurso teve duração de 45 minutos.
No
final, Nkrumah gritou “Viva a unidade e a independência da África!”
Enquanto
era aplaudido, uma orquestra deu início a um animado boogie-woogie... O ritmo contagiante fez o povaréu agitar os
quadris...
Aconteceu que Joe-fio Myers, que era secretário-geral
da União dos Sindicatos, interrompeu a animação para ler a declaração de apoio
de todos os trabalhadores de Gana a Kwame Nkrumah.
(...)
Depois as pessoas se
dispersaram...
Kapuscinski encontrou um
funcionário dos correios chamado Kodgko, também conhecido por apreciar as lutas
de boxe... O polonês quis saber por que o amigo não comparecera ao comício.
Kodgko perguntou se
Kwame havia falado sobre os salários... A resposta foi negativa...
Então ele encerrou o assunto dizendo que, de
fato, não teve motivos para aparecer na West End.
Leia: A
Guerra do Futebol. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto