terça-feira, 17 de novembro de 2015

“A Guerra do Futebol”, de Ryszard Kapuscinski – resultados da greve geral; eleições e condução de Nkrumah ao posto de primeiro-ministro; o carisma do líder; as palavras durante o comício de 1950 e o significado histórico-político das reuniões na West End de Acra

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/11/a-guerra-do-futebol-de-ryszard_15.html antes de ler esta postagem:

A Greve Geral incomodou demais... A Economia do país ficou paralisada. A repressão foi intensa e é por isso que as prisões ficaram abarrotadas.
Muita gente se aglomerou em frente à carceragem onde Kwame fora colocado. As pessoas cantavam hinos de protesto, um deles dizia que “o corpo de Kwame Nkrumah apodrece na prisão”...
(...)
Os ingleses sentiram que a mobilização popular era séria.
Então decidiram marcar eleições gerais... Kapuscinski destaca que era a primeira vez que a África vivenciava esse tipo de pleito...
A votação deu-se em fevereiro de 1951... O partido de Nkrumah venceu disparado (das 38 cadeiras do Parlamento, 34 foram conquistadas por seus aliados).
Não há dúvida de que os resultados dessas eleições pressionaram os imperialistas. Não havia como negar que ela produzira sério inconveniente... Como explicar que a vontade popular decidira-se majoritariamente pelo partido cujo líder encontrava-se encarcerado?
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Kwame foi libertado... Da condição de prisioneiro passou à de primeiro-ministro conduzido (literalmente) ao posto pelos braços do povo...
Enquanto era carregado pelos populares, teve de parar na West End para cumprir o “ritual de purificação” com o sacrifício de uma ovelha... Todos queriam que as máculas do período de prisão fossem expurgadas, e isso só ocorreria depois que ele pisasse “com os pés descalços, por sete vezes no sangue” do animal imolado.
(...)
Governante, Nkrumah se mostrou líder carismático.
Sua casa sempre estava aberta para receber a gente do povo. As pessoas apareciam para prestar-lhe homenagens e saudá-lo. Ele dava conselhos e ajudava com solicitude...
Kapuscinski registra as palavras do próprio Kwame... Assim ficamos sabendo que ele dormia apenas quatro horas por noite... Enquanto tomava banho não deixava de prosseguir diálogos com os que o visitavam...
E tem mais! O líder ganês fazia questão de visitar até mesmo os vilarejos mais distantes. Muitas vezes, as prolongadas conversas com a gente do povo por altas horas da noite o impedia de retornar para a capital... Ele não se importava de pernoitar em choupanas de barro.
Tudo muito cansativo. Porém sua convicção e atitude despojada cativavam ainda mais.
(...)
A independência de Gana ocorreu a 6 de março de 1957. Kapuscinski destaca que foi o “primeiro país libertado da África Negra”.
O autor reservou alguns registros sobre um comício realizado na Praça West End no ano de 1960. Como sempre acontecia, o local ficou apinhado de gente que o apoiava incondicionalmente... Isso incluía permanecer durante muitas horas debaixo daquele “fogo que o céu despejava”.
As condições eram as mais desconfortáveis... Melhor seria escolher a praia como local até para que as pessoas pudessem suportar o calor junto às palmeiras... Mas isso seria desprezar a história de resistência que unia Kwame e o seu povo.
Foi naquela mesma praça que os ganenses se reuniram em 1950, pela primeira vez convocados por ele. Naquela ocasião, Kwame Nkrumah havia pronunciado que Gana caminhava para a libertação... Porém havia destacado que podiam optar por três caminhos para atingir a redenção.
O primeiro era o da Revolução Armada... Ele argumentou contra essa opção... O segundo caminho era o dos acordos feitos nos gabinetes em conchavo com os representantes ingleses... Evidentemente isso também foi rechaçado pelo líder.
A terceira opção, o caminho defendido por Nkrumah, era o “da luta do povo pela liberdade através de meios pacíficos”...
Não havia como se esquecer daquele momento em que todos haviam escolhido “o caminho certo”... Estavam ali, em 1960, para celebrar a independência associando-a àquela investida de grande vulto popular que completava dez anos.
Leia: A Guerra do Futebol. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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