Vemos Kapuscinski de volta ao seu país... Os “menos avisados” se espantaram com a sua aparência bronzeada... A Polônia vivia dias de intenso inverno e perguntaram-lhe se havia passado uma temporada em Zakopane, famosa estação de esqui...
(...)
No começo do segundo semestre de 1960, ele escrevia para a Revista Polityca... Seu chefe, Mieczyszlaw F.
Rakowski, o enviara para o interior do país... Então foi numa localidade como
Oleck ou Ornec que ficou sabendo que o Congo havia sido sacudido por uma
agitação política com potencial para provocar “desdobramentos mundiais”.
O Congo era conhecido por
ser um dos países mais fechados e desconhecidos de todo o continente
africano... Sua independência colocara fim ao brutal passado de colônia belga.
Mas pouco tempo depois teve início uma rebelião de militares do exército...
Os antigos colonizadores fugiam como podiam... A
Bélgica enviou paraquedistas e o massacre foi escancarado nas páginas de
jornais de todo o mundo.
Havia muita confusão no Congo... Mas era para lá que Kapuscinski quis se
dirigir. Foi por isso que ele pediu para Rakowski que o enviasse em missão.
(...)
Acontece que o ambiente no Congo não era nada
favorável aos egressos de países socialistas... Todos os que lá estavam
instalados haviam sido expulsos! O máximo que Kapuscinski conseguiu foi certa
quantia em dinheiro e uma passagem para a Nigéria, onde “nada” (comparado aos
episódios congoleses) ocorria.
Ele ficou sabendo que um jornalista tcheco partiria do Cairo para o
Congo através das florestas... Isso, sem dúvida, era temerário. Kapuscinski não
pestanejou ao avaliar as possibilidades de trocar a sua passagem...
Oficialmente seguia para a Nigéria, mas o seu destino seria o Cairo.
(...)
Uma vez no Cairo, ele se encontrou com Jarda Bouczek, o jornalista
tcheco que foi logo explicando que o seu intento era o de chegar ao Congo pelo
Sudão... Então viajariam de avião até Cartum, e depois para Juba, onde teriam
de comprar um carro...
Bouczek topou a companhia de Kapuscinski, mas deixou claro que depois de
Juba podiam esperar pelo pior... Ousariam chegar a Stanleyville, a “capital da
província oriental do Congo” que vivia dias de incertezas e muitas ameaças.
Em Stanleyville encontrava-se refugiado o governo de Lumumba, um dos
libertadores do país e que havia sido destituído do posto de Primeiro
Ministro... Lumumba estava preso... Seu amigo Antoine Gizenga tentava manter
unida a sua equipe de governo. Enquanto isso, o exército realizava manobras que
confundiam os que pretendiam entender os rumos que o país estava tomando.
(...)
A expedição incluía a
navegação pelo Nilo até o rio Congo, que banha Stanleyville. Kapuscinski
convenceu Jarda a aceitá-lo também porque garantira que o governo polonês o
havia recomendado... Evidentemente isso não era verdade.
O tcheco ratificou sua concordância,
mas repetiu que a empreitada poderia custar-lhes a vida. Não foi por acaso que
ele entregou uma cópia de seu testamento, devidamente registrado em cartório,
ao companheiro... Orientou-o a fazer o mesmo.
(...)
Kapuscinski conta que
não foi nada fácil conseguir o visto sudanês na United Arab Airlines, onde
trocou o seu bilhete de destino para Lagos por um para Juba (com escala em
Cartum)...
Jarda permaneceu por mais algum tempo no Cairo,
onde aguardou um colega de seu país... Eles se reencontrariam novamente em
Cartum.
Leia: A
Guerra do Futebol. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto