sexta-feira, 13 de novembro de 2015

“A Guerra do Futebol”, de Ryszard Kapuscinski – Kwame Nkrumah, o líder popular de Gana; um pouco de sua biografia a partir das informações coletadas por Kapuscinski; reconhecendo a realidade norte-americana; embasamento teórico e engajamento no movimento negro

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/11/a-guerra-do-futebol-de-ryszard_55.html antes de ler esta postagem:

O que as informações recolhidas por Kapuscinski permitem afirmar?
O povo simples via em Kwame Nkrumah um irmão, um parente muito próximo...
Certa mulher dissera ao jornalista que o seu bebê recebera o mesmo nome do grande líder... Até mesmo em sua roupa via-se que ela o apoiava incontestavelmente... O tecido de sua bata estava repleto de inscrições em que se lia o nome do “redentor” de Gana.
(...)
Dizia-se que o próprio Nkrumah brincava com a sua popularidade ao contar que “gostaria de saber quantos Kwame Nkrumah existiam no país”... Afinal, sua fama poderia vir a ser a de “homem extremamente fecundo”?
Essa brincadeira não tinha o menor sentido quando se observava o seu procedimento pessoal... Fazia pouco tempo que estava casado; era um tipo que evitava apegar-se às mulheres, religião ou dinheiro. Salientava que nenhuma dessas três prerrogativas devia pautar sua vida... No caso de uma delas predominar, o indivíduo perde sua individualidade e torna-se prisioneiro de uma ambição.
Nkrumah dizia mais... Ele não pretendia devotar-se a nenhuma mulher especificamente, pois isso evitaria que ela exercesse grande influência em sua vida... Isso resultaria em “perda do foco de objetivos” que estão muito além da mera realização pessoal.
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Desde criança, Kwame Nkrumah pensava sobre a realidade política de seu país... Acreditava que Gana precisava ser libertada e que ele próprio tinha importante missão no processo... Mas como alcançar essa realidade sem “ser alguém na vida”?
Enquanto colonizados, os negros não tinham a menor chance de se formar e de iniciar uma carreira... Nkrumah entendia a situação dessa forma... Sabia das dificuldades de seu pai, um ourives de cidade do interior, que evidentemente não tinha condições financeiras de garantir sua educação formal.
Todavia, Nkrumah tornou-se determinado a estudar nos Estados Unidos...
Ele concluiu um curso de Pedagogia e trabalhou como professor em uma escola na localidade de Elmina, cidade litorânea no Golfo da Guiné, onde uma missão católica lhe proporcionou a experiência no Magistério.
Trabalhou durante cinco anos passando por várias dificuldades, inclusive fome. Sua firme convicção de economizar foi maior do que as pressões materiais... Sua moradia era das mais precárias, mas ele não se importava...
(...)
Tanto economizou que em 1935 (contava vinte e seis anos) conseguiu embarcar para os Estados Unidos, sendo aceito na Lincoln University.
Kapuscinski apresenta alguns trechos de relatos do próprio Nkrumah a respeito de sua experiência vivida naquele país:
                                                           * Numa ocasião em que viajava de Filadélfia a Washington, foi ultrajado por um garçom de lanchonete de beira de estrada em Baltimore... O tipo sugeriu de modo agressivo que ele se dirigisse a uma escarradeira para saciar a sua sede.

Há também os apontamentos que destacam sua vida de estudos, trabalho, militância política e de esforço para economizar algum dinheiro:
                                                           * Nukrumah acreditava mesmo que devia manter-se ocupado durante as vinte e quatro horas do dia;
                                                           * Nos estaleiros Chester (Sun Company) trabalhou durante o turno noturno de meia-noite até as oito... Suportou frio intenso... Em certas ocasiões, a temperatura estava tão baixa que sua mão “grudava nas chapas de aço”... Mesmo assim não deixava de estudar após o trabalho;
                                                           * Também trabalhou numa fábrica de sabão... Ocasião em que teve de lidar com caixas cheias de “entranhas apodrecidas e pedaços de gordura de animais”... A manipulação e transporte do material provocavam náuseas insuportáveis;
                                                           * Durante as férias no Harlem, em Nova York, ele e um amigo compravam peixes para revender pelo bairro;
                                                           * Trabalhou por um tempo na cozinha de um navio da linha Nova York-Vera Cruz (o Shwanee). Passava a viagem limpando panelas. Chegou a ser “promovido a lavador de travessas”;
                                                           * Em certa ocasião tentou abrigar-se com um colega numa estação de trem, mas foram expulsos pela polícia... O frio intenso levou-os a procurar um banco do parque... Durante a noite, porém, foram castigados também por forte chuva;
                                                           * Participou de reuniões da Maçonaria e “atingiu” o trigésimo segundo grau... Enquanto esteve nos Estados Unidos jamais “progrediu” na agremiação;
                                                           * Contribuiu para a organização de uma Associação dos Estudantes Africanos da América e do Canadá... Escreveu Em direção à liberdade das colônias, texto que revela seu engajamento político;
                                                           * Tornou-se leitor de Marx e Lênin;
                                                           * Estudou Teologia e se interessou pelas igrejas dos negros. Muitas vezes foi convidado para proferir sermões.
Leia: A Guerra do Futebol. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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