domingo, 15 de novembro de 2015

“A Guerra do Futebol”, de Ryszard Kapuscinski – Nkrumah, formação na Inglaterra e militância estudantil; retorno a Gana e participação na Convenção Unida da Costa d’Ouro; a marcha de 1948; prisão e aproximação em relação ao povo; convocação de greve geral

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/11/a-guerra-do-futebol-de-ryszard_13.html antes de ler esta postagem:

Foram dez anos de vivência nos Estados Unidos...
Apesar de todos os reveses, Kwame Nkrumah tornou-se professor de História grega e africana na Lincoln University. Ele mesmo não escondia o orgulho por ter sido “reconhecido como o mais ilustre professor do ano”.
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Em 1945 partiu para Londres para dar prosseguimento à sua formação.
Fazia questão de perambular dando mostras de que era leitor assíduo de Daily Worker (obviamente uma publicação esquerdista)... Tornou-se vice-presidente da União dos Estudantes da África, e dedicava-se tanto à agremiação que recolhia carvão pelas ruas para aquecer sua sede.
Ainda conseguiu arranjar tempo para concluir sua tese de doutorado sobre positivismo lógico (Filosofia)... Aos poucos formulou sua doutrina de resistência para os povos africanos. Ela se baseada na “não violência” e no “boicote pacífico”.
Depois de dois anos Nkrumah retornou a Gana.
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Em Gana, Nkrumah juntou-se a um pequeno e pretencioso grupo... Os rapazes (alguns deles com formação em Oxford) se intitulavam “os homens pensantes” e arrogavam para si a liderança do movimento libertador...
De qualquer modo, em que pesasse o fato de não possuir um programa bem definido, era esse pessoal que encabeçava a Convenção Unida da Costa d’Ouro... Apesar de todo o seu currículo, Nkrumah colocara-se à disposição para realizar o “trabalho sujo”, e isso era tudo o que ele passou a ter.
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Em 1948 ocorreu uma marcha pacífica até a residência do governador-geral (o castelo Christianborg)... Veteranos que haviam participado da segunda guerra engrossaram o movimento, que tinha como reivindicação principal a “autonomia para a Costa d’Ouro”. Houve repressão policial e dois manifestantes acabaram mortos.
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Kapuscinski conheceu o local onde tombaram esses mártires... O episódio é citado em Ébano – minha vida na África e seus registros são dedicados a Kofi Baako, ministro da Educação e da Informação de Gana nos primeiros anos de sua independência.
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O pessoal da Convenção Unida da Costa d’Ouro foi preso depois dos vários protestos contra a repressão... Nkrumah foi deportado para o norte, uma região de savana... Ele mesmo explicou que fora confinado num casebre sob vigilância diuturna da polícia.
Depois de libertado, percebeu que seu vínculo com os antigos companheiros de Convenção já não eram tão estreitos... Basicamente podemos dizer que os demais pretendiam negociar a emancipação com os representantes da Inglaterra nos gabinetes... Kwame tornou-se radical... Havia lido Lênin e entendia que a negociação devia ocorrer com o respaldo popular, pois “o poder encontra-se no povo”.
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O embasamento teórico leninista serviria para fundamentar a realidade ganense?
Kwame Nkrumah observava a sua gente e o que via parecia não lhe dar confiança... O povo que ocupava as ruas constituía-se de vendedoras barulhentas, crianças que dormitavam diante de portões de casebres, adolescentes que viviam de arruaças, muçulmanos que tentavam aliviar o calor nas sombras de árvores, pobres carregadores...
As ideias de Lênin (um russo; homem branco!) poderiam ser aplicadas ao continente africano?
Certamente essa dúvida incomodou Nkrumah... Para piorar sua condição, os demais líderes passaram a isolá-lo... Pretendiam mandá-lo novamente para a Inglaterra, e isso significava que ele não teria participação no processo emancipatório.
Mas Nkrumah decidiu aproximar-se do povo... Manteve contato também com os camponeses e funcionários... Seus principais interlocutores, porém, foram os jovens.
A iniciativa não foi bem vista pelo pessoal da Convenção... Também os ingleses demoraram a perceber que a mobilização pudesse render resultados.
Então Kwame Nkrumah convocou uma Greve Geral.
Leia: A Guerra do Futebol. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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