Foram dez anos de vivência nos Estados Unidos...
Apesar de todos os reveses, Kwame Nkrumah tornou-se professor de História grega e africana na Lincoln University. Ele mesmo não escondia o orgulho por ter sido “reconhecido como o mais ilustre professor do ano”.
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Em 1945 partiu para Londres
para dar prosseguimento à sua formação.
Fazia questão de perambular dando mostras de que era
leitor assíduo de Daily Worker (obviamente
uma publicação esquerdista)... Tornou-se vice-presidente da União dos Estudantes
da África, e dedicava-se tanto à agremiação que recolhia carvão pelas ruas para
aquecer sua sede.
Ainda conseguiu arranjar tempo para concluir sua tese de doutorado sobre
positivismo lógico (Filosofia)... Aos poucos formulou sua doutrina de
resistência para os povos africanos. Ela se baseada na “não violência” e no
“boicote pacífico”.
Depois de dois anos Nkrumah retornou a Gana.
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Em Gana, Nkrumah juntou-se a um pequeno e pretencioso grupo... Os
rapazes (alguns deles com formação em Oxford) se intitulavam “os homens
pensantes” e arrogavam para si a liderança do movimento libertador...
De qualquer modo, em que pesasse o fato de não possuir um programa bem
definido, era esse pessoal que encabeçava a Convenção Unida da Costa d’Ouro...
Apesar de todo o seu currículo, Nkrumah colocara-se à disposição para realizar
o “trabalho sujo”, e isso era tudo o que ele passou a ter.
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Em 1948 ocorreu uma marcha pacífica até a residência do governador-geral
(o castelo Christianborg)... Veteranos que haviam participado da segunda guerra
engrossaram o movimento, que tinha como reivindicação principal a “autonomia
para a Costa d’Ouro”. Houve repressão policial e dois manifestantes acabaram
mortos.
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Kapuscinski conheceu o local onde tombaram esses mártires... O episódio
é citado em Ébano – minha vida na África
e seus registros são dedicados a Kofi Baako, ministro da Educação e da
Informação de Gana nos primeiros anos de sua independência.
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O pessoal da Convenção
Unida da Costa d’Ouro foi preso depois dos vários protestos contra a
repressão... Nkrumah foi deportado para o norte, uma região de savana... Ele
mesmo explicou que fora confinado num casebre sob vigilância diuturna da
polícia.
Depois de libertado,
percebeu que seu vínculo com os antigos companheiros de Convenção já não eram
tão estreitos... Basicamente podemos dizer que os demais pretendiam negociar a
emancipação com os representantes da Inglaterra nos gabinetes... Kwame
tornou-se radical... Havia lido Lênin e entendia que a negociação devia ocorrer
com o respaldo popular, pois “o poder encontra-se no povo”.
(...)
O embasamento teórico
leninista serviria para fundamentar a realidade ganense?
Kwame Nkrumah observava a sua gente e o que via parecia não lhe dar
confiança... O povo que ocupava as ruas constituía-se de vendedoras
barulhentas, crianças que dormitavam diante de portões de casebres,
adolescentes que viviam de arruaças, muçulmanos que tentavam aliviar o calor
nas sombras de árvores, pobres carregadores...
As ideias de Lênin (um russo; homem
branco!) poderiam ser aplicadas ao continente africano?
Certamente essa dúvida incomodou Nkrumah... Para
piorar sua condição, os demais líderes passaram a isolá-lo... Pretendiam
mandá-lo novamente para a Inglaterra, e isso significava que ele não teria
participação no processo emancipatório.
Mas Nkrumah decidiu aproximar-se do povo... Manteve contato também com
os camponeses e funcionários... Seus principais interlocutores, porém, foram os
jovens.
A iniciativa não foi bem
vista pelo pessoal da Convenção... Também os ingleses demoraram a perceber que
a mobilização pudesse render resultados.
Então Kwame Nkrumah convocou uma Greve Geral.
Leia: A
Guerra do Futebol. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto