sexta-feira, 8 de novembro de 2013

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – buscando alguém com quem pudesse desabafar, Henri visitou Lambert; o moço, seus modos e seu apartamento; Lambert critica Dubreuilh e defende o intransigente controle de Henri sobre L’Espoir para afastar Samazelle e a influência de Trarieux; visita inesperada do Sr. Lambert

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/11/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_7.html antes de ler esta postagem:

Henri saiu do escritório de Dubreuilh muito angustiado... Sentia que precisava desabafar, mas não sabia com quem... Luc se esquivaria, Paule despejaria sermões... Tinha convicção de que Robert o enganara novamente, mas não conseguiu romper de vez com ele... Precisava conversar... Dirigiu-se ao café Biard e de uma das cabines telefonou para Lambert.
(...)
O moço ficou animado com a surpresa e agradou-lhe receber Henri, por quem nutria profunda admiração. Como o café ficava próximo, em pouco tempo Perron estava subindo os degraus até o apartamento do rapaz... É certo que Henri estranhava a “esquisita afeição” de Lambert, mas, pelo menos ali, ele não seria tratado como “um peão num tabuleiro de xadrez”...
A saudação inicial revelou que havia certa organização no ambiente... Os livros estavam acomodados de acordo com os nomes dos autores... O rapaz usava um sweatshirt (blusão de moletom) preto e levava um lenço amarelo amarrado ao pescoço... Sem dúvida, Henri sentiu-se desambientado com os ares afeminados, mas acomodou-se ao aceitar “uma boa dose de uísque”.
Lambert fez referência à inusitada presença de Perron em seu refúgio... Admirou-se, sobretudo devido ao horário em que normalmente ele se devotava ao jornal. Então Henri passou a falar dos seus aborrecimentos apesar de saber que o seu anfitrião não nutria amizade por Luc... Depois de ouvi-lo com atenção, Lambert deu a entender que concordava que havia uma manobra em curso engendrada pelo próprio Dubreuilh para fazer com que Samazelle participasse do jornal.
Henri deu a sua opinião sem acreditar que as coisas ocorressem daquela maneira... Argumentou que Dubreuilh controlava L’Espoir em nome do SRL, mas não se podia dizer que o jornalismo era coisa que lhe interessasse. Todavia pensava que havia, sim, uma armadilha preparada contra ele... Perguntou a Lambert o que ele faria em seu lugar.
Lambert foi incisivo ao afirmar que o jornal não devia ser entregue de nenhum modo. Henri argumentou que sempre o ouviu dizer que deveria se afastar da política e aquela parecia ser uma ocasião ideal para isso. O moço respondeu que L’Espoir não se encaixava naquela advertência por tratar-se de um projeto diferenciado (sua “aventura intelectual”)... A conclusão era óbvia, faltava dinheiro para “passar por cima” das armações de Dubreuilh... Então Lambert sugeriu que Henri aceitasse Samazelle e o neutralizasse com uma aliança sólida junto a Luc.
Henri explicou que Samazelle bem poderia contar com a força de Trarieux, inclusive, se fosse o caso de adquirir cotas de L’Espoir...
Enquanto Lambert percorria o ambiente pensando em alguma saída para o problema, a campainha tocou. Era o Sr. Lambert, o pai de Gérard Lambert, quem chegava... Henri quis desaparecer, mas aceitou cumprimentá-lo... Era constrangedor porque o homem havia prestado serviços aos alemães (inclusive enviou Rosa, a namorada judia de Lambert, à morte; sobre isso ver http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/08/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_2.html)... O tipo era balofo e grisalho... Seus olhos azuis se destacavam num rosto amarelo.
O homem manifestou sua satisfação em encontrar Henri por ali... Disse que tinha muita curiosidade de vê-lo e que o considerou bem moço... Principalmente porque conhecia tantos comentários fortes, envolvidos em seriedade, sobre ele.
O rapaz ofereceu algo para que o pai bebesse. O Sr. Lambert recusou e fez comentários sobre a instalação satisfatória e também sobre a extravagância do filho ao se vestir... Sabendo que o velho se referia ao sweatshirt combinando com o lenço amarelo, Lambert respondeu que cada um tem o seu gosto... Os três silenciaram e Henri aproveitou a deixa para se despedir, garantindo que estava bastante atarefado.
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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