Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/11/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir.html
antes de ler esta postagem:
Samazelle trouxe um
artigo a respeito da crise... Conversou com Henri sobre um livro que estava
redigindo a respeito do maqui (vegetação das montanhas; aqui se trata de uma
referência à atuação da Resistência no Vercors)... A Vigilance já publicava alguns trechos desse material...
Então Henri, ainda satisfeito com o que via, pensava que as rotativas do
jornal podiam prosseguir “ronronando”. Samazelle quis saber como é que L’Espoir
se sustentava com tiragem minúscula... Perron respondeu, com base na conversa
que tivera com Luc, que recebiam um pouco mais com publicidade. O outro disse
que sabia do orçamento do jornal e calculava que seu déficit devia ser
enorme... Algum “milagre”, sem dúvida, deveria estar ocorrendo, já que os
cálculos dele eram precisos.
Henri respondeu apenas que
deveria haver algum erro na matemática de Samazelle... Disse isso, mas o
assunto deixou-o intrigado... Entendeu que precisava de dados concretos sobre
as finanças do jornal. Achou que devia pedir explicações para Luc. Ficou
incomodado porque a impressão de Samazelle não era diferente da que ele mesmo tivera
(algum “milagre” devia estar ocorrendo)... Será que Luc não lhe faltava com a
verdade? Que contrato de publicidade era aquele? O amigo teria feito algum
empréstimo clandestino?
Por volta das duas da manhã, Henri chegou até a
redação. Luc estava lá, envolvido com as contas... Era normal Luc retirar-se do
jornal depois de Henri. Mas encontros de fim de expediente eram raros de
ocorrer... Perron não lidava com números e, assim, o outro tinha carta branca
em relação às finanças.
Henri quis ver os registros que o amigo tinha em mãos. Luc, que estava
em “mangas de camisa” e usava um suspensórios amarelos, argumentou que
dedicava-se à contabilidade e, assim, não teria como atendê-lo... Henri queria
ver os livros, mas Luc dizia que ele não entenderia e que isso significaria uma
desnecessária perda de tempo.
Como Henri insistisse, Luc explicou que nem tudo
estava registrado nos livros. Perron quis saber se o amigo escondia algo, um
empréstimo ou alguma chantagem... Luc se ofendeu com aquelas suposições e ouviu
o outro dizer que recorreria a Trarieux por não saber qual era a origem do
dinheiro que estava “salvando o jornal”.
Os dois se conheciam há muitos anos... L’Espoir nasceu em 1941 a partir
de uma ideia de Luc... Henri pensou na ocasião que o “ventosinho de loucura”
havia passado pelo amigo (barrigudo, de mulher feia e três filhos, e que usava
suspensórios amarelos) e imaginou que a história da publicidade poderia ser
obra da “brisa extravagante”.
O que preocupava Henri era a origem da tal receita. Seria resultado de
alguma extorsão? Luc explicou que era uma doação, mas que deveria guardar
segredo em relação à identidade do “generoso doador”. Perron não aceitou a
explicação, e tanto insistiu que o amigo topou revelar... Mas pediu que ele
nada falasse a respeito da quebra do segredo.
Então Henri ficou sabendo que a doação ao jornal saia de Vincent... Foi
uma decepção para ele... E Luc bem sabia que não era sem motivo que o amigo
demonstrava abatimento, pois Vincent conseguia ouro (inclusive) de dentistas
que haviam se alinhado aos colaboracionistas... Henri esclareceu que os “golpes
baixos” do rapaz eram constantes e que de um momento para outro podia ser apanhado,
comprometendo L’Espoir. Luc tentava se justificar, dizendo que não havia pedido
nada ao agitador.
Ele contou que por três ocasiões o jornal
recebera dinheiro de Vincent... Henri era só lamentação, disse que aquilo
estava errado e que de modo algum poderia continuar... Dirigiu-se à janela e lembrou-se
que em maio Nadine havia participado das ações com o pessoal do delinquente...
Naquela ocasião, Henri o enviou à África, onde permaneceu por um mês e, em seu
retorno, garantiu-lhe que não mais participaria de ações rasteiras.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/11/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_5.html
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto