terça-feira, 5 de novembro de 2013

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – Henri visita Trarieux em seu escritório para tratar das finanças do jornal; o burguês apresenta várias objeções, incluindo a rejeição que nutria por Luc e sua preferência por Samazelle; o endinheirado insistiu em participar das decisões sobre o periódico

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/11/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_4.html antes de ler esta postagem:

Henri não permitiu que o socorro financeiro proporcionado por Vincent prosseguisse... Decidiu que a “letra de câmbio” que venceria dali a dez dias seria paga com algum empréstimo que viesse da parte do milionário Trarieux... Dessa feita foi a vez de Luc lamentar, já que entendia que o jornal estava quase recuperado financeiramente, necessitando apenas de mais um mês de “fôlego”... Por sua vez, Perron explicou que a situação era de emergência porque além de a tiragem não se tornar significativa, corriam o risco de o burguês mudar de ideia...
Henri confiava na negociação intermediada por Dubreuilh e, assim, explicou a Luc que não faria diferença receber o dinheiro de Trarieux porque havia a garantia de que “continuariam tão livres quanto antes”... Mas Luc tinha certeza de que não seria mais a mesma coisa... Ele até “se divertia” com as pressões financeiras do jornal...
(...)
Dois dias depois dessa conversa, Henri se dirigiu ao escritório do homem de negócios... O escritório do industrial era carregado de livros. Trarieux o cumprimentou lembrando-se dos tempos da ocupação, quando estiveram “muito próximos e nunca se viram”... O tipo citou Verdelin e Henri disse que o conhecera... O anfitrião teceu elogios ao “notável Verdelin” e completou dizendo que graças a ele havia conhecido Samazelle... “Tempos em que os valores humanos importavam, e não o dinheiro”... E emendou a sua máxima de “utilizar o dinheiro na defesa de certos valores”.
Foi a deixa para que Henri entrasse no assunto que o levava até ali... Citou Dubreuilh e perguntou se ele havia lhe explicado as condições para que L’Espoir recebesse verba de sua parte. Trarieux ouviu o rapaz sem demonstrar fraqueza ou generosidade... Henri calculava que o vínculo do outro com a esquerda devia-se mais a uma manobra oportunista.
O burguês disparou que era um homem de negócio cuja experiência sabia lidar com mudanças bruscas... Garantiu que “o curso dos acontecimentos pode ser desviado” (evidentemente referia-se à decadência financeira do jornal e aos ajustes que ele defendia para que “seu investimento” desse resultado). Seguiu explicando que tinha interesse em fazer com que a tiragem de L’Espoir se reerguesse, recuperando a audiência, pelo que representava.
Essas palavras foram ouvidas por Henri, que reconhecia nelas o mesmo discurso de Samazelle. Então respondeu que ele se esforçava para que a recuperação ocorresse a partir de reportagens e entrevistas do interesse de grande público... Trarieux respondeu que concordava com o encaminhamento a que Henri demonstrava disposição, mas apresentou sua objeção... Ele explicou que “Luc era um ninguém”, não se tratava de um tipo conhecido no meio jornalístico e, além disso, não produzia materiais expressivos... É claro que ele fez questão de destacar que, bem ao contrário, Henri tinha grande popularidade...
Perron foi enfático ao manifestar que não concordava. Disse que o jornal pertencia a ele e Luc, que considerava um excelente jornalista... Trarieux perguntou se não haveria a possibilidade de comprar a parte de Luc, e isso foi rejeitado imediatamente, pois Henri deixou claro que, além de não aceitar o encaminhamento da proposta, garantiu que Luc também não aceitaria... L’Espoir era, em síntese, uma parceria entre os dois e, assim sendo, o burguês deveria decidir-se por financiar ou não o jornal, sem “meio-termo”.
Trarieux respondeu que entendia a associação entre os dois amigos, mas acrescentou que não via nenhuma dificuldade na entrada de Samazelle na direção do jornal... Foi nesse ponto que Henri entendeu por que Samazelle se interessava pelas finanças do periódico.
Perron explicou que o protegido de Trarieux já tinha acesso ao jornal e podia escrever o quanto quisesse. O empresário argumentou que era ele próprio quem desejava ver o rapaz no comando do jornal. Disse que Samazelle agregaria ainda mais popularidade ao L’Espoir... E mais que isso... O burguês chegou a enaltecer a união dos dois nomes (Henri Perron e Jean-Pierre Samazelle) enquanto eficaz “razão social”... Na sequência revelou o que projetava ao dizer que esperava liquidar as dívidas do jornal, ficando com a metade de suas cotas... A outra parte ficaria para os três rapazes... As decisões seriam encaminhadas a partir da opinião da “maioria”.
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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