Perron estava disposto a disparar palavras agressivas contra Robert Dubreuilh, mas a verdade é que se sentia humilhado e desgastado...
(...)
Enfim Dubreuilh chegou. Quis saber o que estava ocorrendo, e Henri disse
que chegava da casa de Trarieux... Robert concluiu que o amigo se aproximara do
outro para sanar as dificuldades financeiras do jornal e que o endinheirado
certamente havia criado “alguma dificuldade”...
Perron não se demorou a
expor sobre a exigência de Trarieux em substituir Luc por Samazelle, e que
Dubreuilh devia saber a respeito dessas imposições e nunca lhe disse nada.
Robert disse que conhecia os termos de Trarieux desde
julho e que tentava obter dinheiro junto a Mauvanes... Sabia que deveria tratar
da situação com Henri, mas confiava que tudo se resolvesse sem que o socorro de
trarieux se tornasse necessário... Perron emendou que o milionário disse-lhe
que não havia negociado nada em relação a um “apoio incondicional” e, no
entanto, Robert garantia que tudo estava bem encaminhado.
A conversa não fluiu amistosamente... Dubreuilh esquivava-se de qualquer
culpa ao mesmo tempo em que lamentava a desagradável situação de Henri em
relação às condições (que passou a conhecer) impostas por Trarieux... Perron
deixava claro que o erro do amigo havia sido grosseiro demais.

Robert garantiu ainda que naquela mesma noite falaria com Trarieux e
Samazelle. Henri disse que aquele esforço não teria nenhum efeito. Sobre isso,
Robert explicou que Samazelle era mais suscetível ao controle... Então, Perron,
demonstrando toda a sua angústia e insatisfação, esclareceu que a única solução
era a saída dele do imbróglio que se estabeleceu... Disse que estava disposto a
abandonar tudo...
Dubreuilh disparou que Henri não podia fazer aquilo... Insistiu que a
falência de L’Espoir e a derrocada do SRL
seriam grandes trunfos para os opositores. Então Perron disse que não havia
como o SRL piorar e, além disso, o
periódico podia ser passado ao controle de Samazelle... De sua parte, estava
disposto a retirar-se para Ardèche...
Dubreuilh notou a amargura de Henri... Pronunciou o mea culpa e pediu que o amigo deixasse a teimosia de lado para que,
juntos, saíssem das dificuldades... Perron não queria ouvir ou considerar as
palavras do outro... Ele sabia que o certo a fazer era romper com Robert que, no
fundo, só se interessava por si mesmo.
(...)
Henri contemplou o escritório e tudo o que aquele ambiente representara
em sua vida nos últimos quinze anos... Também refletiu sobre tudo aquilo ser
uma síntese do egocentrismo de Dubreuilh, “o autor do universo”, o único capaz
de definir o que é o Bem ou a Verdade...
Poderia Henri fechar atrás de si aquela porta para sempre?
(...)
Perron foi se retirando ao mesmo tempo em que
garantia que sua saída de L’Espoir não prejudicaria o jornal e nem o SRL... Robert disse que em dois dias
resolveria toda situação, mas ele nem se importou com as palavras que
pretendiam ser reconciliadoras.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/11/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_8.html
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto