No sábado mesmo em que tratavam das deliberações sobre como o SRL deveria proceder em relação aos comunistas, quando Dubreuilh fez suas precisas considerações como se há muito refletisse sobre elas, seguiram para o tradicional almoço no restaurante localizado no cais...
Dubreuilh tratou com Henri a respeito de um artigo que escreveria à noite... Esclareceu que atacaria os comunistas pelo apoio ao empréstimo dos ingleses por não representar nenhum benefício ao proletariado... Henri ouviu e depois perguntou se Robert acreditava sinceramente que aquela opinião poderia exercer alguma influência... Dubreuilh respondeu que partia de um princípio que o próprio amigo adotou durante a Resistência: “é preciso agir como se a eficiência da ação empreendida estivesse garantida”...
Henri notou que o sempre carregado de confiança Dubreuilh se mostrava um tanto preocupado... Provavelmente não esperasse grandes resultados... Esperar ou não são expectativas subjetivas, garantia Robert... Ele explicou que a partir do momento em que se está disposto a uma decisão, “não se deve olhar para si”... Perron não se empolgava com aquelas palavras... A crise que os dois viveram em novembro gastou o entusiasmo de outrora... Ele bem sabia que era devido à ausência de Anne (ela viajou mesmo para os Estados Unidos, onde participava do Congresso de Psicanálise – isso ainda será tratado por aqui) que Robert dirigia-se a ele com confiança, como que “ensaiando o seu pensamento”.
(...)
De fato, L’Espoir publicou os artigos de Dubreuilh...
Os comunistas rebateram em seus veículos de comunicação impressos. Em síntese,
a crítica deles relacionava o SRL às
atitudes dos trotskistas, “que se recusavam a participar da Resistência” com o
argumento de que ela favorecia o imperialismo inglês... Apesar da troca de
acusações, havia diplomacia entre os dois grupos.
Mas numa quinta-feira, Henri leu um duro artigo contra Dubreuilh em
L’Enclume... O texto atacava suas publicações em Vigilance sobre um capítulo de seu livro... Henri considerava que
apenas indiretamente as questões políticas tinham referência e, assim, para ele
o texto dos comunistas era violento e também injusto. Dubreuilh era tratado
como “um cão de guarda do capitalismo e inimigo da classe trabalhadora”...
Henri irritou-se com o fato de Lachaume não evitar o
agressivo conteúdo num momento em que a tolerância entre os dois grupos parecia
estabelecida. Para Lambert e Samazelle aquilo não era de se estranhar...
Faltando três meses para as eleições, os comunistas até poupavam o SRL e L’Espoir, mas consideravam
interessante colocar Dubreuilh em descrédito perante os mais jovens
intelectuais da esquerda.
(...)
Henri lamentou ter percebido que os dois parceiros manifestassem
satisfação... Nada comentou... Dois dias depois, Lambert anunciou seus escritos
sobre o artigo de L’Enclume e queria saber se Henri permitiria a publicação...
Explicou que se posicionava contra Lachaume e também contra Dubreuilh...
Afirmou que este bem merecia o que estava ocorrendo, já que “apostava dos dois
lados”... O rapaz condenava o devotamento de suas “virtudes de intelectual” à
política.
Perron esclareceu que provavelmente não poderia
publicar o artigo de Lambert, pois o considerou injusto... Todavia fez questão
de ver o material... Para ele tratava-se de texto “um tanto panfletário”, um
tratado brilhante elaborado pelo rapaz... Depois garantiu que não podia ser
publicado... A mensagem era incisiva, atacava os comunistas e era muito dura com
Dubreuilh. Lambert quis saber se o seu conteúdo não era verdadeiro... Henri concordou
que Dubreuilh era mesmo de um tipo dividido... Mas ele próprio também era
assim... Lambert disse que o seu caso era diferente, já que era por lealdade ao
outro que se comportava daquela maneira.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/11/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_9961.html
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto