quarta-feira, 27 de novembro de 2013

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – Josette encena para Henri; faltava talento à moça, que reconhecia as próprias dificuldades; os dois começaram a se aproximar muito e o ensaio seguinte foi na casa de Josette; Henri vislumbrava noites mais íntimas e saíram para dançar e se divertir; Lucie Belhomme conseguiu um contrato para a encenação da peça de Henri; comemoração

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/11/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_26.html antes de ler esta postagem:

Josette garantiu que sabia o texto de cor... Era um monólogo e Henri viu que a garota sem talento se esforçava para tentar agradá-lo... Ele se sentia “um maníaco rico, que assistia a uma exibição especial num bordel de alto gabarito”... Depois ele pediu que apresentasse a “terceira cena do segundo ato”... O ensaio da cena de amor foi sofrível... A fisionomia e voz de Josette comoviam, mas era só isso. Henri sentenciou-lhe que havia esperança, e pôs-se a explicar-lhe a personagem.
Os dois ficaram bem próximos, e enquanto ele falava notava a beleza de Josette, sentia o seu perfume e imaginava o que ela poderia proporcionar-lhe na intimidade... Perguntou se havia compreendido e pediu para ela voltar a encenar... Cada vez que repetia a encenação ela se saia bem pior do que da primeira vez. É por isso que ele pedia também para ela ser mais simples.
Josette entregava os pontos e dizia que jamais conseguiria... Henri respondia que se ela treinasse poderia lograr êxito. É claro que Josette se preocupava com a repreensão que sofreria da mãe; de sua parte, Henri calculava o quanto seria bom passar uma noite com aquela “mulher verdadeiramente desejável”.
Henri sugeriu que poderiam marcar um encontro para novos ensaios... E até poderiam sair juntos logo após... Poderiam dançar, já que isso era algo que Josette apreciava.
(...)
No sábado seguinte lá estava Henri à Rua Gabrielle, onde se situava a casa de Josette. No salão de “móveis rosados e brancos”, ele assistiu às apresentações da moça... Sinceramente via potencial artístico na moça, que precisava “trabalhar com afinco”... Disse a ela que tudo daria certo e que, naquele momento, importava saírem para dançar.
Seguiram para o Saint-Germain-des-Prés (tradicional bairro que reunia intelectuais como Sartre e Beauvoir no pós-guerra) e entraram numa adega da Rua Saint-Benoit. A moça estava deslumbrante em seu “vestido surpreendente”... Henri a via como “uma bonita prostituta” com a qual poderia se divertir. Faltava, porém, saber se a moça sentia alguma afinidade por ele... Perguntou-lhe se gostava do lugar onde estavam e se preferia algum em especial... Josette respondeu que ali estava muito bom.
Ficaram até às duas da manhã, dançaram e tomaram champanha. Mas o silêncio foi a tônica. Perron pensou que Lulu a teria ensinado a proceder daquela forma em ocasiões de assédio.
Ele levou-a até a casa... Ela revelou-lhe que gostaria de ler algum de seus livros, embora lamentasse a falta de tempo para os livros...
(...)
Lucie Belhomme conseguiu o contrato. E ele seria assinado em sua casa. Henri telefonou para Josette e combinaram um encontro para comemorar a conquista.A moça havia recebido um livro de Henri com dedicatória e autógrafo... Estava feliz também por isso. Então se encontraram num bar de Montmartre... Ele pegou-lhe as mãos e perguntou se estava contente. Ela se revelou assustada com a tarefa que teria de dar conta após a assinatura do contrato... Henri a tranquilizou afirmando que não poderia pensar sua personagem Jeanne de outra forma que não a encenada por ela...
Josette agradeceu-lhe a gentileza. Por um tempo falaram de diretores de teatro, cenários e coisas afins... Mais uma vez ele a acompanhou até a porta de casa. Ela se despediu anunciando novo encontro na segunda-feira... Henri perguntou se não teria direito a um último uísque. A expressão dela se fez feliz enquanto dizia que não ousava oferecê-lo.
Subiram rapidamente a escada e logo Josette entregou-lhe um grande copo com gelo. Henri brindou ao seu sucesso, enquanto ela lamentava as suas constantes falhas. Disse que havia consultado uma cartomante que revelou-lhe que estava indo de encontro a uma “grave decepção”... Ele procurou animá-la, disse que as cartomantes exageram e que provavelmente a “decepção” podia se referir, se é que alguma coisa viesse a ocorrer, ao vestido que ela havia encomendado e não ficaria pronto para a ocasião da assinatura do contrato.
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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