Henri se despediu de Lambert e de seu pai... O Sr. Lambert lamentou, disse que já havia lido a todos os seus textos e que gostaria de conversar com ele a respeito. Henri garantiu que não faltaria ocasião para um futuro encontro. Na sequência ele apertou a mão do velho, que sabia muito bem que dificilmente se reencontrariam...
O pai de Lambert era um ex-chefe colaboracionista... Era certo que logo estaria preso e sem a menor possibilidade de sair da cadeia (veremos que ele chegou a ser libertado). Lambert seguiu com Henri até a porta e ao se despedir esclareceu que havia tido uma ideia sobre a qual poderiam tratar no dia seguinte... Perron solicitou apenas que aparecesse mais tarde porque pretendia se encontrar com Victor Scriassine... Para Lambert pareceu perfeito porque já havia reservado a tarde para Nadine, com quem permaneceria até as dez da noite.
(...)
Para Luc, Henri disse
simplesmente que a conversa com Trarieux não havia ocorrido ainda... Lidou com
a redação e cortes... Depois foi para o estúdio e esperava encontrar Peule em
sono profundo. Definitivamente não queria falar-lhe sobre o seu destino ou o do
jornal.
Paule estava acordada. Sentada no divã, apresentava-se
maquiada em seu vestido de seda com as cores do arco-íris... Dirigiu-se até ele
para um beijo de recepção. Na sequência quis saber como havia sido a conversa
com Trarieux. Henri respondeu que o milionário estava de acordo.
A moça problematizou perguntando se aquela situação o aborrecia...
Discutir a respeito da situação era o que Henri menos queria, então respondeu
simplesmente que “o problema já havia sido resolvido há muito tempo”.
Henri se irritava com aquilo... Paule pretendia
poupá-lo... E ao mesmo tempo a sua condição permitia-lhe o “requinte” de não
ser pressionada por ele a respeito dos testes para voltar a cantar... Mas ela
não desconfiava que o amado, além de desprezá-la, considerava a sua acomodação
merecedora de aniquilação.
Foi com solicitude que ela passou-lhe o envelope com a carta de
Poncelet... Mais uma vez recusavam a peça que Henri havia escrito... Os
originais eram devolvidos com felicitações e as observações sobre a “grandiosidade
da obra”, e também sobre os inconvenientes devido aos escândalos que expunha.
Evidentemente ninguém pretendia correr riscos bancando a peça... Percebe-se que
o conteúdo referia-se ao passado, que tanta gente desejava esquecer ou alterar
de acordo com suas convicções.
Henri ficou chateado porque prezava mais a sua produção dramatúrgica do
que os seus livros... Gostaria de vê-la encenada... Paule, dando a entender que
sabia o que ele pensava, disse que a peça tinha de ser representada...
Sentenciou que Henri não voltaria ao seu texto literário enquanto não se libertasse
da peça. Disse isso convicta... Mas Henri esclareceu que a peça não tinha nada
a ver com o seu romance.
Paule insistiu em continuar a falar da produção literária de Henri...
Ele se esquivava e respondeu que era por preguiça que o livro não tinha saído,
e que até poderia refazê-lo porque havia “começado mal”... A moça observou que
ninguém nunca o vira daquela maneira, e que gostaria de ter lido o manuscrito para,
quem sabe, aconselhá-lo...
Henri não deu a menor importância ao zelo que ela demonstrava... Disse
apenas que poderia mostrar-lhe a peça... Depois, como a se despedir do dia,
esclareceu que estava caindo de sono e que, devido ao compromisso com
Scriassine, não apareceria no estúdio no dia seguinte.
Ele quis finalizar a conversa e o contato físico
com um leve beijo de boa noite na têmpora dela... Deitou-se e virou-se para a
parede... Ele sabia que em ocasiões como aquela ela o agarraria, iria tremer e
resmungar até que se atracassem... Ele desconfiava que aquilo produzisse pouca
satisfação para Paule, embora o seu comportamento sugerisse o inverso... É
claro que Perron detestava aqueles momentos... Felizmente para ele, a moça se
comportou e permaneceu tranquila até adormecer... Certamente ela concluiu que o
amado necessitava de descanso para a mente mais do que qualquer outra coisa.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/11/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_12.html
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço
Prof.Gilberto