quarta-feira, 6 de novembro de 2013

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – na conclusão da conversa com Trarieux, Henri ficou sabendo que Dubreuilh não havia lhe contado tudo o que o magnata lhe revelara; arrasado emocionalmente, sentindo-se enganado e “passado para trás”, decidiu encontrar-se com Robert em seu escritório

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/11/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_5.html antes de ler esta postagem:

Henri disse que não aceitaria partilhar com Samazelle (de forte personalidade) a “mesma casa”. Ele estava à vontade para assim pronunciar, já que era o dono do jornal...
A esse respeito, Trarieux lembrou que L’Espoir era do SRL, financiado por ele. O industrial disse que apreciava o periódico, mas as dificuldades deviam ser sanadas, e as soluções não podiam ser obtidas com o esforço de apenas uma pessoa. Sobre isso, Henri esclareceu que agia em parceria com Luc para superar os problemas.
Então ficaram nisso... Trarieux insistindo que Samazelle era o tipo que o jornal precisava, e Henri com sua opinião contrária... O rapaz quis saber se sua recusa significava o rompimento de qualquer financiamento... O “patrão” respondeu apenas que não havia nenhum motivo para qualquer recusa.
Henri argumentou o que sabia sobre a ausência de qualquer condição a ser cumprida em nome de auxílios a L’Espoir... Trarieux confirmou que a linha política do jornal prosseguiria a mesma, mas o revigoramento da máquina deveria ser posto em marcha... Henri respondeu que se entenderia com Samazelle a respeito do que tinham falado, mas foi advertido de que a conversa deveria ficar por ali, entre os dois... Trarieux salientou que o rapaz não aceitaria fazer parte da diretoria de L’Espoir contra a vontade de seu “principal dono”. E foi incisivo ao finalizar dizendo que não financiaria o jornal se Samazelle não participasse da gestão...
Henri garantiu que não se importava com aquelas orientações, uma vez que havia comprometido o jornal (que já beirava à falência) e, encontrando-se em situação delicada, via o milionário chantagear... Dessa forma, preferia nem contar com o auxílio... Depois, ainda disse que Dubreuilh não havia dito nada a respeito da intromissão de Trarieux na direção da máquina...
Sobre Robert Dubreuilh, o industrial respondeu que não tinha nenhuma responsabilidade sobre suas conclusões... Podia dizer simplesmente que havia lhe explicado suas condições de modo claro... O mal entendido, então, ficava por conta do intermediário entre ambos... Henri se apartou e perguntou se aquele “esquema” era do conhecimento de Dubreuilh, e ouviu de Trarieux que (sobre aquilo) haviam discutido bastante... Deixou claro que Robert devia ter compreendido “o que quis compreender” a respeito das condições que havia apresentado.
O homem estava tão tranquilo em suas colocações que sugeriu a Henri ter uma conversa com o próprio Dubreuilh àquele respeito. Depois falou ainda que ninguém (além dele próprio) se arriscaria a salvar L’Espoir de sua dívida de seis milhões sem alguma exigência... Certamente haveria os que fariam exigências políticas.
Trarieux se colocava como o “apoio desinteressado”, e disse que as negociações estavam abertas... Henri despediu-se e não conseguiu esconder sua indisposição... Estava mais irritado ao ter descoberto a verdade sobre Dubreuilh, que o havia enganado...
(...)
Na avenida Marceau sentou-se num banco e refletiu sobre o enrosco em que Dubreuilh o havia metido conscientemente... E tudo porque queria L’Espoir submetido ao seu SRL... Estava arrasado... Seu coração mantinha-se acelerado... Era meia-noite, mas decidiu caminhar até a casa de Robert.
(...)
Henri foi atendido por Yvette, que explicou que não havia ninguém... Ele resolveu entrar e esperar...
(...)
No escritório onde tantas vezes estivera, e na cadeira onde normalmente se instalava quando visitava os Debruilh, subtraiu Trarieux e Luc, SRL e L’Espoir de seu pensamento... Esperava apenas encontrar-se com Robert que, para ele, não passava de um farsante que lidava com as pessoas sempre “querendo passar por cima delas”... Naquele momento, Perron era só lamentação e sentimento de quem havia sido roubado... Sim, Dubreuilh extraíra-lhe o jornal que tanto prezava... Não teria sido o próprio Robert a pretender a substituição de Luc por Samazelle?
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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