terça-feira, 12 de julho de 2016

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – refletindo sobre “refazer a vida” na América, uma aventura; entre a “inutilidade” e o manifesto “desejo de proximidade”; angustiada por ter retornado; viagem à Itália e expectativa pela carta do amado; no correio de Amalfi

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/07/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir-fim.html antes de ler esta postagem:

Dubreuilh dera a sua opinião a respeito de uma hipotética mudança de Anne para os Estados Unidos... Em síntese, achava que ela não se adaptaria e que uma decisão como aquela implicava em deixar para trás os antigos amigos, propósitos, sua ocupação e, enfim, tudo o que era importante em sua existência.
(...)
Certamente a decisão de partir para Chicago e viver com Lewis equivaleria a “refazer a vida”... Foram essas as palavras que Paule havia usado... E equivaleria também a submeter-se a um “acanhamento singular”... E isso tinha a ver com o raciocínio de Robert...
Em pensamento, Anne concordou que não passaria de estrangeira desconhecida no imenso país de Lewis... Ela não poderia se incorporar a ele... Viveria limitada à sua paixão e agarrada a ela.
É claro que Anne não se via “vivendo exclusivamente para o amor”... Todavia a convivência com Robert tornara-se algo pesado, dado que cada dia que se iniciava significava um “convite à inutilidade”... Ele jamais anunciara que precisasse dela... Ela se sentia desnecessária.
Lewis, ao contrário, havia lhe perguntado “por que não ficava para sempre”... Anne não conseguia deixar de pensar em como lhe negara o pedido... Isso lhe doía também porque prometera a si mesma jamais decepcioná-lo. Além disso, sequer encontrava uma justificativa para não atendê-lo.
(...)
Havia esperança...
Lewis ficou de escrever-lhe... Pelo que haviam combinado, em breve uma carta chegaria... Era bem possível que a mensagem fosse de lamentos e de inflamados pedidos para que retornasse.
Se assim fosse, Anne poderia “renunciar à velha segurança” e responder que voltaria imediatamente para permanecer ao seu lado pelo tempo que ele a quisesse.
(...)

Robert e Anne fizeram os planos de viagem para a Itália... Ela apressou-se a telegrafar para Lewis, deixando claro que deveria enviar sua carta para Amalfi (faria uso do serviço de posta restante)... Ela calculou que por duas semanas seu destino estaria suspenso... Depois haveria de decidir, quem sabe, por uma aventura louca “num futuro desconhecido”.
Ou então optaria pela mesmice, “ausência e espera”.
O período destinado à viagem seria de “passar o tempo”.
(...)
E assim ocorreu...
Nápoles, Capri, Pompeia... Herculano, Ischia...
Anne percorreu os vários ambientes com o marido... Interessava-se por ele “naquilo que o interessava”...
Quando estava só, fingia ler ou contemplar cenários... Na verdade puxava pela memória os momentos que passara com Lewis, as chegadas e partidas, os passeios pelos Estados Unidos e pela América Central...
Dormir passou o seu principal passatempo.
(...)
Robert interessou-se tanto por Ischia que acabaram passando mais tempo ali do que haviam planejado... É por isso que chegaram a Amalfi três dias depois do previsto.
Anne não escondia sua ansiedade... Pelo menos carregava consigo a certeza de que encontraria uma carta de Lewis no correio.
Ao descerem do ônibus, Robert a aguardou numa praça...
Ela seguiu para a agência contendo a euforia.
Ao chegar à agência, observou as pessoas e seus gestos... Pensou que o tédio da repetição se impregnava em locais como aquele, onde a passagem do tempo parece ser mais lenta.
Isso pouco importava... O que a levava ali nada tinha a ver com o pó acumulado nas prateleiras.
Tomou lugar numa fila que encaminhava pessoas a um dos guichês.
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto 

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