quarta-feira, 13 de julho de 2016

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – o fim da viagem pela Itália; retorno a Paris e à vida cotidiana; das dificuldades de sepultar uma história de amor; Nadine está grávida

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/07/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_64.html antes de ler esta postagem:

Os dias se passaram...
A viagem pela Itália prosseguiu... Palermo, Siracusa...
Lewis voltou a escrever com regularidade... Uma carta por semana.
Como antigamente, seus dizeres eram finalizados por um “Love”.
Anne continuou preocupada... “Love” podia significar muito, ou nada... Uma fórmula banal? Este questionamento importava na medida em que ela não conseguia se reanimar, principalmente porque continuava sem clareza do desejo de Lewis em relação ao próximo verão.
(...)
O sol da Sicília era sempre muito ardente... Robert e Anne tornaram-se bronzeados. Ela, porém, experimentava intensa friagem em seu íntimo.
Aborreceu-a o ócio diante do imenso mar... Sua extensão sem fim era-lhe tão massacrante quanto à ausência.
(...)
Enfim retornaram a Paris.
Anne mergulhou no cotidiano de afazeres e relações... Pode-se dizer que, emocionalmente, seria preciso “recobrar forças”. Esse engajamento não era dos mais difíceis, já que bastaria sentar-se novamente com Robert e conversar o que sempre conversavam... Ou então sair com Paule para beber uísque. Aliás, isso ela era capaz de fazer sozinha.
Nas primeiras horas esteve disposta a manter Lewis como um episódio ao qual atribuíra excessivo valor em sua existência... Levou em consideração que havia “forçado a barra” com ele, principalmente porque o relacionamento começou num momento em que avaliava encerrada a sua “vida de mulher”... Seguramente não havia necessidade de se envolver numa paixão àquela altura da vida.
Lewis poderia desligar-se dela... Havia (por que não?) a possibilidade de Anne procurar outros amantes ou simplesmente voltar à costumeira austeridade. Mas a situação não se resumia a isso. Em suas mais profundas aspirações não admitia fazer da experiência com Lewis apenas uma “bela recordação”.
Não demorou e Anne passou a rejeitar a ideia de encerrar o caso sozinha... Passou a sentir que não tinha esse direito. Além do mais, era com sinceridade que amava. Seu amor não se tratava de “anedota que se possa extirpar da vida”... Entendeu que, junto com Lewis, devia carregar o amor que nutriam um pelo outro. Renegá-lo equivaleria a cegar-se. Recusá-lo era fuga e fingimento.
A cada carta que recebia sentia-se angustiada, pois sabia que a cura para o seu vazio interior possuía um remédio que estava muito distante.
(...)
Foi no outono que Nadine apareceu com uma notícia que demandava diálogo com a mãe... Embora trouxesse inquietação no olhar, não fez rodeios para anunciar que estava grávida.
Anne quis saber se ela tinha certeza... Depois perguntou se engravidara propositadamente. Nadine respondeu indagando se havia crime em pretender gerar um filho.
O filho era de Henri, afinal era com ele que a garota passava as noites... Anne quis saber se ele concordava, Nadine disse que ele ainda não tinha conhecimento do fato, pois sequer conversaram a respeito.
Em síntese, a gravidez havia sido desejada por Nadine... Ela pouco se importava quanto às intenções de Henri, e nem seria ela quem o forçaria a se casar.
Anne não descartou a possibilidade de a filha ter engravidado para forçar a barra do casamento... Explicou que ela teria de se acertar com ele... Caso o rapaz não assumisse a união, seria necessário, pelo menos por um tempo, que Robert se encarregasse dos cuidados com ela e a criança.
Nadine pôs-se a rir... Provocou a mãe ao dizer que esperava os seus conselhos. Anne redarguiu a respeito das reservas que ela sempre sustentou em relação às suas recomendações, todavia explicou que não deveria impor o casamento a Henri sem ter certeza de que esse fosse a sua vontade... Argumentou que, se ele se sujeitasse a um arranjo para acalentá-la ou para socorrer a criança, o casamento seria um desastre.
Nadine explicou que não iria sugerir nada. Deu sua opinião a respeito de todo homem desejar ter um filho... Disse que é uma questão que envolve medo, e por isso não se manifestam abertamente, mas a notícia da paternidade acaba emocionando a todos...
A garota emendou que o casamento faria bem a Henri... Em sua opinião, “a vida de boêmio” não mais combinava com ele.
Anne encerrou a conversa... A filha pediu seu conselho (debochando, é verdade) e ela fez a sua parte... Sentenciou que os dois deviam fazer o que bem entendessem.
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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