As noites de quintas-feiras eram sempre muito animadas na mansão de Claudie Belzunce... Para torná-las ainda mais charmosas, a socialite resolveu dar-lhes certo conteúdo intelectual... Por isso criou e financiou um prêmio literário para jovens escritores avaliados por um júri feminino... A própria Belzunce presidiria a cerimônia e o corpo de juradas.
A noite para a qual Paule insistira que Anne participasse era especial porque Claudie havia convocado os jornalistas da capital exatamente para anunciar o seu projeto. Era evidente que ela esperava contar com a presença de alguém tão importante à mesa... Por isso incumbira sua secretária da missão de convencer Anne.
Na véspera, Anne recebeu Paule e a caixa com uma blusa muito bem feita a partir do rigor da moda... Ao experimentá-la diante do espelho, viu que se sentia bem. O hiupil “continha o cheiro do passado perdido”. Certamente a levaria para passar o próximo verão com Lewis.
(...)
Foi apenas na mansão, e logo que chegou para a noite
de celebração, que Anne ouviu o favor que esperavam de sua parte... Anne tinha
de compor o júri...
Ela argumentou falta de competência e de tempo... Paule explicou que a
amiga não teria de fazer nada... Se assim fosse, Anne queria saber por que
Claudie insistia tanto em sua participação... Paule explicou que era por causa
do nome.
Anne disse que o nome de Robert era importante, e não
o dela... Paule insistiu e, sem qualquer escrúpulo, emendou que ela carregava o
nome Dubreuilh.
De fato era constrangedor notar que Paule se entregava de corpo e alma a
tolices como aquela... Anne comparou sua postura à da época em que se submetia doentiamente
a Henri... A moça justificou a integração de Anne ao júri ressaltando que,
assim, somar-se-iam sete juradas... Na sequência fez louvações sobre “as
virtudes do número sete”.
Anne negou. Com energia disse que não tinha nada a ver com aquele
caso... Paule mostrou-se preocupada e pediu que, ao menos, dissesse a Belzunce
que pensaria a respeito... Anne respondeu que falaria em consideração à amiga,
mas era certo que já havia refletido a respeito e já tinha uma opinião formada
sobre a questão.
(...)
Na sequência, Paule perguntou se era verdade que Henri se casaria com
Nadine. Anne respondeu afirmativamente e a outra se pôs a rir.
Paule disse que, do ponto de vista de Henri, tratava-se de algo engraçado...
Só tinha a lamentar por Nadine.
Anne respondeu que a filha
só fazia o que queria... A amiga redarguiu sobre a autoridade de mãe que ela
tinha de exercer naquele caso... Depois sentenciou que Henri destruiria Nadine
da mesma maneira que tentou destruí-la...
Paule pensou um pouco mais
e completou que, para Nadine, Henri era como que um substituto de Robert...
Anne não discordou...
(...)
Paule finalizou a
conversa dizendo que “lavava as mãos”... Logo conduziu Anne ao salão abarrotado
de convidados.
Uma banda procurava animar o ambiente com repertório jazzístico... A
maioria comia e bebia... Poucos casais dançavam... A anfitriã tinha como parceiro
um jovem poeta... Este tipo usava “calça de veludo lavanda, um sweatshirt
branco” e tinha um brinco de ouro em uma das orelhas. Anne avaliou que o jovem “assustava
um pouco”.
Muitos rapazes ali
concorriam ao prêmio... Tinham “ares de adidos de embaixada”... Ela gostou de
encontrar Julien, que estava “corretamente vestido e não parecia embriagado”.
Julien convidou-a para
dançar... Anne respondeu que não, pois era velha para a pista... O rapaz a fez
notar que não era menos apta do que as outras, e deu a entender que se referia
diretamente a Claudie... Ela achou graça e emendou que ele tinha razão, porém
ressaltou que era “quase tanto” (velha quanto a outra).
Enquanto Julien ria desse diálogo, Paule se
intrometeu dizendo que Anne carregava vários complexos... E fitando-o garantiu
que não era como ela. O moço respondeu apenas que Paule era uma pessoa de
sorte. Virou-se e saiu.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/07/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir-no.html
Leia: Os
Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto