sexta-feira, 8 de julho de 2016

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – Anne revisita Paule; o apartamento, o prédio e o seu entorno aparentam agradáveis ares de sanidade; Anne ainda pensa em Lewis e Paule fala sobre seus projetos; realmente curada?

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/07/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir-o.html antes de ler esta postagem:

No dia seguinte Anne visitou Paule.
As últimas vezes que haviam se encontrado tinham sido no inverno anterior... Naquelas ocasiões a tragédia parecia tomar conta da vida de Paule... Talvez seja interessante retomar algumas postagens mais antigas para termos uma noção melhor (http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/01/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir-nova.html; http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/01/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir-de.html; http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/01/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir-de_28.html; http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/01/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir-de_31.html).
Mas dessa feita Anne sentiu que até o aspecto da rua onde se localizava o estúdio (o apartamento de Paule) era dos mais tranquilos.
Aquela ordem contrastava com seus sentimentos... Faria alguma diferença encontrar a outra com aspecto hostil ou amável?
(...)
De fato, Paule apresentou-se bem vestida... Estava menos magra e sorridente...
Anne notou que ela retirara os espelhos das paredes... As janelas estavam abertas... Sem dúvida, um ambiente bem mais agradável.
Paule elogiou a blusa mexicana da amiga... Anne entregou-lhe um pacote com os tecidos que trouxera de presente para ela. Sugeriu que o México a agradaria.
Depois se dirigiu para a janela... A noite se aproximava... Anne observou os jardins de Notre-Dame, ouviu uma música árabe e o latido de um cachorro ao longe... A noite caía tranquila e Paule parecia curada... Num instante se viu pensando novamente em Lewis e no relacionamento marcado pela distância... Nada ali combinava com o seu estado de espírito.
(...)
Paule mostrou disposição... Disse que gostaria de ouvir as histórias de Anne sobre os lugares que conhecera e suas novidades... Fariam melhor se fossem ao “Ange-Noir”, uma boate recentemente inaugurada.
Para incentivá-la, disse que no novo ambiente “todo o mundo podia ser encontrado”. Anne quis entender quem seria “todo o mundo”... Paule apenas repetiu sua informação, e emendou que na última vez que haviam se visto (antes da internação) uma pergunta como aquela seria maçada, pois se sentiria na obrigação de entender o motivo de sua formulação... Provavelmente encontraria muitas respostas.
Paule queria mostrar que estava resolvida, que se sentia bem... Anne sentiu certo desconforto... Perguntou se ela não sentia saudade.
A outra não admitiu... Disse que talvez fosse exagerado afirmar que as experiências do passado lhe faziam falta. Todavia deixou escapar que “o mundo era rico naquele tempo”, quando “a menor coisa tinha mil facetas” e a tudo se questionava... Tudo mesmo, desde a opção de alguém por determinada vestimenta e cor até a história que um mendigo qualquer trazia em sua condição existencial...
(...)
Para Anne não havia dúvida... O tom de voz de Paule estava carregado de nostalgia, então perguntou-lhe se as mudanças pelas quais passara não tornaram o mundo sem graça... Paule apressou-se a garantir que de modo algum pensava daquela forma... Valorizava a experiência que tivera e tinha muitos projetos em mente.
Anne quis saber... Paule explicou que deixaria o estúdio para se instalar na casa de Claudie... Pensava em se tornar célebre, viajar e conhecer novas pessoas... Experimentaria novos amores... Passaria, enfim, a viver.
Anne perguntou se ela estava disposta a voltar a cantar... Paule revelou que sua ideia era escrever... Acrescentou que a amiga podia ficar tranquila, pois sentia que sua fase de “frivolidades” havia passado... Quis garantir que Anne teria em mãos algo totalmente diferente do que ela havia lhe mostrado da outra vez.
Na sequência, emendou que trabalhava num “livro autêntico” sobre sua vida... Estava engajada nisso... O conteúdo não seria dos mais agradáveis, mas tinha potencial para se impor em meio ao público leitor.
Anne concordou... Falou que Paule tinha mesmo muito a dizer de si... Mas em seu interior surgiram algumas dúvidas... A moça parecia mesmo curada, porém seus gestos e fisionomia constrangiam... Havia uma jovialidade forçada que decididamente não combinava com sua idade cronológica...
Aquilo inspirava falta de sinceridade...
Também Anne não conseguia ser totalmente sincera com Paule. Mas ela podia?
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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