quinta-feira, 21 de julho de 2016

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – de volta aos braços de Lewis; segurança do retorno à terra estrangeira, incerteza nos braços amados; o início do segundo dia

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/07/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir-uma.html antes de ler esta postagem:

Não demorou e acertos junto à agência de viagens e a burocracia regulamentar foram quitados.
No avião, Anne sentiu-se plenamente segura em relação à viagem e aos dias que prometiam ser de total felicidade.
(...)
Hospedou-se no mesmo hotel de quando estivera em Nova Iorque pela primeira vez... Tudo estava bem encaminhado... Robert havia acertado com a própria agência quantidade suficiente de dólares disponibilizada tão logo ela se instalasse.
Nada no ambiente era-lhe estranho. Paris e os vínculos de sua existência ficaram para trás... Alguns afazeres iniciais também mantiveram Chicago distante de seus pensamentos... Pôde percorrer as ruas da grande cidade com autonomia e retornar tranquila ao hotel.
A manhã do dia seguinte foi dedicada a acertos bancários e contatos em escritórios. Tudo correu sem atropelos.
(...)
À frente do espelho, contemplou a figura que Lewis teria em seus braços naquela mesma noite. Avaliou os cabelos que seriam por ele desarranjados, e a blusa feita do huipil que ela mesma arrancaria... Observou a rosa junto à blusa e experimentou do perfume que exalava da própria nuca... Ao ver-se de corpo inteiro, concluiu que estava “apta ao amor”.
Chegou a Chicago quatro horas depois... Dessa vez não teve a menor dificuldade para alcançar a casa... O anúncio “Schiltz” com a iluminação vermelha estava ali “piscando desde sempre”.
Lewis estava lendo na sacada e logo que a viu desceu rapidamente. Abraçou-a ao mesmo tempo em que pronunciou um “afinal, você voltou”... Anne entendeu a saudação como “cópia graciosa“ da do ano anterior.
O quarto estava praticamente vazio... Nada de gravuras ou livros. Lewis explicou que havia mandado tudo para Parker... Abraçou-a e anunciou que em breve ela conheceria seu novo habitat.
Próximos como estavam, absorveu o seu perfume e reagiu de modo estranho ao perguntar sobre o “cheiro esquisito” que estava sentindo... Seria a rosa que ela trazia presa à blusa?
Anne revelou que o perfume era o que ela estava usando. Lewis explicou que ela não trazia aquele cheiro antigamente.
Ela notou no mesmo instante que seus esforços pareciam não agradá-lo. Em segundos concluiu que tudo o que preparara (blusa, perfume, anáguas longas...) eram apenas artifícios que em nada acrescentavam. Não havia sido por causa deles que Lewis se interessara por ela no passado.
Abraçados, Anne procurou-lhe a boca... Precisava sentir o quanto ele ainda a desejava. Estava bem cansada, mas entregou-se ao amado aliviada de seus temores.
(...)
No dia seguinte, despertou depois do meio-dia. Durante o almoço, Lewis falou-lhe a respeito dos vizinhos de Parker. Dorothy era uma desses vizinhos. Ele a conhecia de tempos antigos e eram amigos... Ela era divorciada e vivia na casa da irmã e do cunhado... Dorothy tinha dois filhos... Esse pessoal todo morava numa casa a cerca de duas ou três milhas da casa de Lewis.
Anne não deu mostras de que estivesse se interessando por aquelas novidades. Ele parece ter notado e quis saber se ela não se importaria se ele ouvisse uma partida de basebol pelo rádio...
Ela não fez objeções e respondeu que, enquanto isso, poderia ler os jornais. E havia muitos exemplares, já que ele guardara todos os “New Yorkers” do último ano.
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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