sexta-feira, 29 de julho de 2016

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – necessidade de buscar os sinais do rompimento; da dificuldade de se admitir a perda

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/07/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir-fim_27.html antes de ler esta postagem:

Lewis falava a respeito do quanto as pessoas vivenciavam realidades infelizes por se submeterem aos caprichos de maridos, esposas e filhos... Comparava as condições dos próprios amigos (citou Virgínia, Willie e Evelyne) às de escravizados.
(...)
Anne lembrou-o de que no ano anterior ele mesmo falara sobre o desejo de casar-se... Lewis riu e não desmentiu que eventualmente pensasse nisso, mas garantiu que logo chegava à conclusão de que não conseguiria se imaginar com esposa e filhos... Certamente “daria o fora”.
Empolgada com a conversa, Anne perguntou se ele considerava a possibilidade de ainda se verem no futuro. Lewis devolveu-lhe a pergunta “por que não?”... A ela parecia evidente que o fato de morarem muito distante um do outro explicaria a impossibilidade... Ele concordou... De fato era uma constatação.
Disse isso e retirou-se para o banheiro.
(...)
Era assim mesmo que ocorria... Ele sempre dava um jeito de se esquivar nos momentos em que ela conseguia uma aproximação. Talvez se comportasse dessa maneira porque sabia que a desagradaria por não atender suas demandas.
Dormiam em camas separadas. Todavia os dias se passaram e ninguém podia sentenciar que os dois não mais se relacionariam intensamente.
Anne prosseguiu em suas reflexões a respeito de como sair daquele enredo sem maiores traumas... Agora estava feito... Ele não a impedira de voltar para a temporada... O fato de tê-la em sua presença dava-lhe prazer, ela compreendia isso, mas não o perdoava não ter lhe dado ciência a respeito das mudanças pelas quais seu coração passara.
Lewis só se preocupava consigo mesmo. E ainda por cima exigia que ela estivesse sempre com a cara boa e aparentando disposição para a vida.
(...)
Certa manhã, Lewis se pôs a regar a grama do jardim... Anne o observou de longe e considerou-o simplesmente “um homem entre outros”... Por que haveria de insistir que se tratasse de um “tipo único”?
A correspondência chegou... Nenhuma carta... Ela apanhou os jornais prevendo que teria boa parte da tarde para ler o noticiário... Depois escolheria um dos livros da biblioteca, ouviria discos... Nadaria...
De repente ele a chamou para mostrar-lhe o arco-íris que tinha se formado nas gotículas que espirravam do jato d’água.
Anne observou sua fisionomia alegre... Teria como pensar mal dele? Pode ser que ele buscasse se defender recusando-se a sofrer por causa dos sofrimentos de sua parceira... Talvez se preocupasse sinceramente apenas com os próprios sentimentos.
Em seus pensamentos, Anne resgatou a ocasião em que ele dissera que se casaria com ela “na hora”... Isso também a despertava para a sua cruel realidade... Bastariam gestos como aqueles ou uma “inflexão de sua voz” para que ela “reencontrasse o Lewis de outrora”... Mas tinha de aceitar que “perdê-lo” no instante seguinte era algo que não dependia dela.
Mesmo sabendo que isso lhe trazia complicações, ela continuou a amá-lo.
(...)
Houve o dia em que Lewis viajou sozinho para Chicago...
Anne pensou que por 24 horas experimentaria certa paz de espírito.
Na próxima postagem veremos o que ocorreu.
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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