domingo, 3 de setembro de 2017

“A Relíquia”, de Eça de Queiroz – da “Biblioteca Universal” – sobre os avós de Teodorico; o avô Rufino da Conceição era padre; a avó Filomena Raposo vendia doces; Rufino da Assunção Raposo, o pai de Teodorico, caiu nas graças de D. Gaspar, bispo de Corazim; as sobrinhas do Comendador G. Godinho

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/09/a-reliquia-de-eca-de-queiroz-da_3.html antes de ler esta postagem:

Teodorico esclarece suas origens...
Ele conta que era neto de Rufino da Conceição, padre superior na Amendoeirinha, “licenciado em Teologia” e autor de uma obra sobre a vida de Santa Filomena...
Seu pai, a quem deram Nossa Senhora da Assunção como afilhado, tinha por nome Rufino da Assunção Raposo. Por um bom tempo Rufino Raposo viveu com a mãe, Filomena Raposo, em Évora.
Dona Filomena, a avó do Teodorico, vendia doces “na Rua do Lagar dos Dízimos” e entre a freguesia era conhecida como “Repolhuda”. Rufino, a quem Teodorico se refere por papá, fora empregado do correio e eventualmente escrevia para o “Farol do Alentejo”.
Em 1853, o bispo de Corazim, D. Gaspar de Lorena, visitou Évora por ocasião das festividades de São João... O eclesiástico instalou-se na casa do padre Pita. Rufino acabou conheceu pessoalmente o bispo porque frequentava a casa do padre, onde passava boas horas tocando violão.
Em reconhecimento ao modo como os padres o acolhiam, Rufino publicou um texto repleto de elogios a D. Gaspar no “Farol do Alentejo”... O texto felicitava Évora por abrigar “em seus muros o insigne prelado D. Gaspar, lume fulgente da Igreja, e preclaríssima torre de santidade”.
(...)
O bispo tanto ficou contente com a matéria do jornal que passou a estimar aquele que viria a ser o pai de Teodorico. Para termos uma ideia, ele até recortou o texto de sua autoria para conservá-lo entre as folhas do breviário pessoal.
A verdade é que tudo o que dizia respeito ao Rufino passou a agradar ao D. Gaspar... O modo como cantava e tocava o violão... Até a brancura de sua roupa era motivo de elogios do religioso!
Essa afeição cresceu ainda mais depois que o bispo ficou sabendo que Rufino da Assunção era “afilhado carnal” de Rufino da Conceição, que havia estudado com ele no seminário de São José. Os dois também foram companheiros de Universidade ao tempo do curso de Teologia.
Quando D. Gaspar partiu de Évora presenteou Rufino com um belo relógio de prata... E não foi só isso! Até então o rapaz era um simples aspirante a um posto remunerado na alfândega do Porto, mas graças à influência do bispo tornou-se diretor da alfândega de Viana. Certamente a repentina promoção deixou muita gente escandalizada.
(...)
Rufino não podia deixar escapar a oportunidade... E foi na condição de diretor da alfândega recém-empossado que conheceu o Comendador G. Godinho, ilustre cavalheiro de Lisboa, que passava o verão com duas sobrinhas na quinta do Mosteiro, “antigo solar dos condes de Lindoso”.
A mais velha das moças era D. Maria do Patrocínio... Usava uns óculos escuros que acabaram se tornando um traço marcante de sua personalidade. Diariamente, logo de manhã, deixava a quinta num burrico e seguia em direção à cidade (um empregado devidamente fardado a acompanhava) para assistir à missa de Santana...
A outra sobrinha do comendador se chamava D. Rosa... Era morena e gordinha, tocava harpa e conhecia versos do “Amor e Melancolia”. A jovem apreciava os momentos à beira do rio (o Lima), onde descansava à sombra dos amieiros... Brincava com raminhos silvestres enquanto caminhava pela relva.
(...)
O Rufino começou a frequentar o solar.
É de se prever os episódios que se seguiram.
Na próxima postagem teremos maiores detalhes.
Leia: A Relíquia – Coleção “Biblioteca Universal”. Editora Três.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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