quinta-feira, 7 de setembro de 2017

“A Relíquia”, de Eça de Queiroz – da “Biblioteca Universal” – Rufino Raposo se casa com Rosa Patrocínio; mortes; Teodorico órfão de mãe; o luto pelo comendador Godinho; óbito do pai; devaneio do menino

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/09/a-reliquia-de-eca-de-queiroz-da_80.html antes de ler esta postagem:

As visitas do Rufino ao “Mosteiro” tornaram-se frequentes...
O guarda da Alfândega (um tipo chamado João) levava-lhe o violão... Assim podia passar horas agradáveis com Dona Rosa na varanda. Os dois contemplavam a lua tendo os acordes do instrumento e as “Tristezas do Conde Ordonho” por cantiga.
Dona Maria do Patrocínio recolhia-se às orações... O comendador Godinho tinha por entretenimento partidas de gamão junto ao doutor Margaride, delegado e amigo da família de longa data.
Havia ocasiões em que Rufino participava do gamão... Então Dona Rosa acomodava-se junto ao tio... Ela sempre trazia um livro e uma flor a lhe enfeitar os cabelos.
(...)
Rufino e Dona Rosa se casaram...
Teodorico nasceu numa sexta-feira da Paixão... Sua mãe faleceu na manhã do Sábado de Aleluia. Foi sepultada no cemitério de Viana, num sítio repleto de chorões, onde ela tinha o hábito de passear durante as tardes de verão com a sua Traviata, a cadelinha de estimação.
O comendador e sua sobrinha não retornaram àquelas paragens... O tempo passou... Teodorico cresceu e passou pelas enfermidades que assolam as infâncias. O violão de seu pai tornou-se uma peça esquecida a um canto da sala.
(...)
Seu Rufino engordou... Os bons tempos haviam ficado para trás.
Certo dia, durante o mês de julho, a criada Gervásia vestiu o menino com uma pesada vestimenta preta... Era pelo luto do comendador Godinho.
Em suas memórias, Teodorico destaca que na ocasião o seu Rufino colocou um pouco de fumo no chapéu de palha... Diversas vezes seu pai deixava escapar a pouca consideração que tinha pelo finado, a quem chamava de “malandro”.
Também o seu Rufino faleceu por aqueles tempos da infância do Teodorico. O menino contava sete anos... O óbito ocorreu numa noite festiva e de brincadeiras (de entrudo – que antecedia a época da Quaresma - como o Carnaval). Fantasiado de urso, sofreu uma apoplexia (um derrame cerebral) no momento em que descia as escadas para ir a um baile.
Nas memórias, Teodorico registra que ainda se lembrava do dia seguinte , quando notou o luto desesperado de “uma senhora alta e gorda” que chorava copiosamente diante das manchas de sangue no local onde o seu Rufino havia tombado.
Como se esquecer da velha de véu escuro que se mantinha parada diante da porta a proferir orações fúnebres? Atmosfera de velório! As janelas foram fechadas e o máximo de iluminação na casa foi  uma “luzinha de capela” produzida por um candeeiro de latão colocado sobre um banco.
Ventava e chovia... As pessoas manifestavam o seu pranto enquanto no Largo da Senhora da Agonia conduziam o caixão com o seu Rufino ao cemitério. Sem dúvida, o cenário era dos mais tristes. O frio e a cruz negra da capelinha no alto do monte calaram profundamente na consciência do pequeno Teodorico.
(...)
Naquela mesma manhã, dona Gervásia acomodou o garoto no chão do “quarto de engomar”... De onde estava, ele podia ouvir os passos de João (o guarda da alfândega) pelos corredores...
O Teodorico que escreve as memórias se recorda que na noite de luto pela morte do pai a cozinheira ofereceu-lhe um pedaço de pão de ló... Depois ele adormeceu.
E depois... O devaneio.
(...)
Ele se viu caminhando à beira de um rio de águas claras.... O lugar era repleto de choupos antigos que pareciam dotados de alma... Ao seu lado caminhava um homem nu. Este só podia ser Bosso Senhor Jesus Cristo, pois seus pés e mãos estavam chagados.
Leia: A Relíquia – Coleção “Biblioteca Universal”. Editora Três.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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