sábado, 2 de setembro de 2017

“A Relíquia”, de Eça de Queiroz – da “Biblioteca Universal” – considerações iniciais a partir do prólogo; memórias de uma vida marcada por desencantos, ansiedades, incompatibilidades e uma viagem à Jerusalém dos anos 30 d.C

Na apresentação lemos que Teodorico Raposo resolveu escrever sobre as memórias de sua vida...
Vivendo em sua propriedade, a quinta do Mosteiro (“antigo solar dos condes de Lindoso”, em Lisboa), aproveitou os períodos ociosos de certo verão do final do século XIX para registrá-las.
O homem antecipou que os últimos tempos haviam sido de aprendizado. Assim como ele, também seu cunhado Crispim pensava que suas memórias mereciam ser compartilhadas, pois numa época de “incertezas da inteligência” (em que se notavam cada vez mais pessoas abaladas “pelos tormentos do dinheiro”), elas eram “lição lúcida e forte” para todos os que as lessem.
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A biografia do Teodorico é marcada por traumas desde a sua mais tenra infância... Cedo perdeu os pais e passou a ser criado pela tia D. Patrocínio das Neves, senhora de posses que vivia na capital. Conhecida também pelo rigor religioso, a boa mulher possibilitou exemplar formação acadêmica ao sobrinho.
Também bem cedo o jovem percebeu as incompatibilidades entre o padrão de comportamento valorizado por dona Patrocínio e a sua incontida vontade de experimentar os prazeres mundanos.
Não demorou e Teodorico passou a adotar táticas de embuste que lhe possibilitavam aproveitar o “bom da vida” sem que pudessem notar suas depravações. À tia mostrava-se atento às coisas da religião e afeito às orações, celebrações diárias e festividades santas.
E foi assim que dona Patrocínio passou a tê-lo na mais alta consideração.
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Antes das festividades de Santo Antônio em 1875, Teodorico sofreu grande desilusão amorosa. E foi por essa ocasião que a tia incumbiu-lhe de uma viagem à Terra Santa (uma romagem). É ainda na referida apresentação que somos informados que o rapaz se dirigiu a Jerusalém.
Ele dá a entender que a ocasião possibilitou-lhe acompanhar os fatos que se deram no estafante mês de Nizam (ou Nisã, que coincide com parte dos dias de março e abril de nosso calendário).
A viagem foi espetacular! O moço garante que conheceu uma Jerusalém dominada pelos romanos! Na ocasião, Pilatos exercia a função de “procurador da Judeia” e J. Caifás era o sumo pontífice!
Ele cita ainda o “legado imperial da Síria” (governador da Síria), certo Élius Lama... Como que “por milagre”, Teodorico presenciou os acontecimentos que marcaram o processo que levou Jesus à pena de morte!

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Recolhido à quinta do Mosteiro, no conforto de seus dias iluminados pelos exuberantes raios solares e com a sobriedade e sinceridade dos que aprenderam com os ensinamentos da vida, Teodorico Raposo iniciou seus registros.
Teve por testemunha as andorinhas que plainavam sobre seu telhado... E também “as moitas de cravos do pomar” que perfumavam a atmosfera de sua propriedade.
A jornada ao Egito e à Terra Santa foram o “ponto alto de sua vida”. Só mesmo um manuscrito poderia torná-la “monumento airoso e maciço”. E isso garantiria sua passagem para a posteridade.
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Por que sucederam-lhe tais episódios? O que o futuro lhe reservava?
Precisamos saber os motivos de sua romaria... Temos de conhecer o que esse Teodorico desejava vivenciar após o retorno às terras lusitanas... O que ainda faltava suceder-lhe?
“A Relíquia”, de Eça de Queiroz, leva-nos a conhecer o polêmico personagem. O texto detalha e descreve de modo impressionante pessoas e locais... A leitura nos transporta aos tempos da “existência” do Teodorico.
A leitura nos dá o “bilhete” para a espetacular viagem.
Leia: A Relíquia – Coleção “Biblioteca Universal”. Editora Três.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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