sexta-feira, 16 de setembro de 2016

“O Homem Duplicado”, de José Saramago – três filmes na manhã de sábado; após “O Paralelo do Terror” restaram apenas cinco nomes na lista de Tertuliano; inesperada visita de Maria da Paz

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/09/o-homem-duplicado-de-jose-saramago-vida.html antes de ler esta postagem:

Tertuliano levantou-se bem cedo...
Não se barbeou e sequer tirou pijama e roupão... Tomou café requentado e comeu apenas duas bolachas.
Na sequência dispôs-se a assistir às fitas... Por volta das onze da manhã totalizava três filmes... Não vira os filmes do começo ao fim e pouco podia dizer a respeito dos enredos...
Os dois primeiros, que sequer têm os nomes citados no livro, não contaram com a atuação do ator secundário que era objeto da pesquisa de Tertuliano.
Diferente foi o que ocorreu com “O Paralelo do Terror”, no qual o tipo fazia o papel de “fotógrafo da polícia” que não parava de mascar chiclete e repetia a mesma frase sempre que entrava em ação: “tanto na morte como na vida tudo é questão de ângulo”.
(...)
Após as marcações na atualização da lista, o professor observou que havia cinco nomes de atores que coincidiam com os cinco filmes em que registrara a participação de seu “retrato vivo”... Relacionados em ordem alfabética, os nomes eram Adriano Maia, Carlos Martinho, Daniel Santa-Clara, Luís Augusto Ventura e Pedro Félix.
Saber que estava bem próximo de descobrir o nome, de fato, era constatação animadora... A cidade possuía cerca de cinco milhões de pessoas... Metade era composta de mulheres... Ele tinha menos de meia dúzia de nomes aos quais dedicaria um pouco mais de investigação.
Deu vontade de comemorar... E é por isso que se serviu de mais um café...
(...)
Bebia o segundo gole quando ouviu a campainha tocar.
Com muito cuidado depositou a xícara sobre a mesa da cozinha... Podia ser que a vizinha arrumadeira quisesse conferir sua satisfação em relação à faxina do dia anterior... Talvez fosse algum vendedor de enciclopédia (daquelas que explicam tudo a respeito do tamboril e outros peixes estranhos)... O colega de Matemática é que não podia ser!
A curiosidade não o impediu de arrematar o café...
Atravessou a sala e reprovou o modo como lhe pegavam desprevenido e com as caixas de fitas enfileiradas no chão, junto à estante. Previu a advertência ou, no mínimo, o constrangimento que sofreria caso fosse a vizinha arrumadeira. 
(...)
Era Maria da Paz quem havia chegado, e não um daqueles que cogitara.
Ele a saudou surpreso... Não a convidou para que entrasse imediatamente... Disfarçou o embaraço exclamando a alegria por revê-la.
Sabia que não havia outra saída, então se colocou um pouco de lado para lhe dar passagem... Gostaria de engatilhar uma desculpa que a mantivesse por um tempo do lado de fora até que conseguisse esconder as fitas. Ou então que pudesse despachá-la com a promessa de se reencontrarem no dia seguinte...
A moça foi entrando... Ela conhecia bem o ambiente... Perguntou se estava tudo bem com o amigo... Emendou que tinha ouvido a gravação e que concordava plenamente com ele. Quer dizer, achava mesmo que deviam conversar... Ressaltou que esperava não ter chegado num momento inconveniente.
Tertuliano garantiu que não... Mas que ideia! Pediu desculpas por recebê-la daquele modo... Sequer havia feito a barba! Estava despenteado como quem acaba de sair da cama...
Maria da Paz respondeu que não havia motivo para pedir desculpas... Tantas vezes o vira desarranjado... Tertuliano nunca se sentira na necessidade de desculpar-se. Ele explicou que a ocasião era diferente, já que era a primeira vez que a recebia num roupão... Ela disse que era uma novidade e que bem poucas existiam entre os dois.
Logo chegaram à porta da sala... Antes mesmo que ele improvisasse uma resposta, ela quis saber se não ganharia um beijo.
Tertuliano disse que sim, e embora tivesse se lançado a um comportado beijo de cumprimento a moça se colou à sua boca...
Ele não ofereceu resistência.
Por algum tempo se sugaram mutuamente.
Leia: O Homem Duplicado. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto 

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