quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

“Androides sonham com ovelhas elétricas?”, de Philip K. Dick – o fim

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/12/androides-sonham-com-ovelhas-eletricas_24.html antes de ler esta postagem:

Mas que constatação terrível!
O sapo era falso...
E Deckard imaginando que a sua condição existencial teria mudado completamente depois da fusão com Mercer na distante colina...
Baixou a cabeça e pegou novamente o bicho eletrônico... Mexeu nas perninhas do falso sapo e questionou como é que aquela engenhoca tinha ido parar nas proximidades do Oregon, um local desolado... Por que alguém a abandonaria naquele deserto?
Iran também ficou triste... Sentiu-se culpada por ter descoberto que o sapo não era verdadeiro... Deckard deixou claro que não tinha nenhum problema... Ele mesmo tinha interesse em saber a verdade e disse que estava feliz.
Mas na sequência emudeceu.
(...)
Iran sugeriu que Rick usasse o sintonizador de ânimo... Ele poderia se sentir melhor... Ele conhecia melhor do que ela as várias opções do Penfield...
Enquanto balançava a cabeça como que a querer se inteirar da situação, Rick garantia que ficaria bem...
Pode ser que a aranha que Mercer entregou ao cabeça de galinha também fosse artificial... Mas isso não tinha importância! As imitações elétricas também possuíam vidas...
Deckard permanecia olhando para o sapo falso enquanto concluía que as vidas das imitações elétricas eram insignificantes... Iran estava preocupada com ele... Então disse que sua aparência era a de um tipo muito esgotado.
Deckard concordou e respondeu que o dia havia sido bem longo...
Iran disse que ele precisava deitar-se e dormir... O descanso lhe faria bem... Deckard precisava ouvir de sua esposa que aquele pesadelo havia terminado... Ele perguntou-lhe isso... Ela respondeu afirmativamente.
Parece que Rick tinha necessidade de falar sobre a missão... Ele não conseguiu se desvencilhar dela enquanto não eliminasse os Baty... E depois disso, o que restaria? E ainda teve a experiência no deserto e a captura daquele falso sapo...
(...)
Deckard retomou a frase que a esposa lhe dissera na manhã anterior, sobre ele não ser “nada além de um policial com mãos sujas”... Iran quis deixar claro que não se sentia como antes, e que estava muito contente com o seu retorno...
Ela beijou-o... Ele foi tomado por revigoramento... Era bom ouvir que o seu lugar era junto dela...
Rick perguntou se ela achava que suas ações naquele dia haviam sido indevidas... E falou de Mercer, para quem ele mesmo não tinha como se esquivar das ações erradas...
Iran não achava que as ações do marido haviam sido erradas... Para ela, Mercer ensinava que há uma “maldição que se abate sobre nós”... Deckard quis saber se a Poeira era a “grande maldição”.
A mulher explicou algo confuso relacionado à “biografia” de Mercer que, aos dezesseis anos, ficou sabendo que não tinha condições de reverter o tempo e fazer com que as criaturas mortas voltassem à vida (vimos referência a isso em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/09/androides-sonham-com-ovelhas-eletricas_29.html)... A ele restava prosseguir sempre em frente, rumo à morte... Assassinos o perseguiam, e eram eles que atiravam as pedras em Mercer, e também em seus seguidores... O corte que Rick trazia no rosto certamente havia sido provocado por uma pedrada desferida por um desses assassinos...
(...)
Iran devotava-se totalmente ao marido... Pediu que ele fosse para a cama... Ela sintonizaria o Penfield no 670, proporcionando “longa e merecida paz”.
Deckard levantou-se... Estava atordoado após as “batalhas do dia”... Disse um “Ok” e seguiu para o quarto.
Deitou-se sobre os lençóis brancos... Os panos foram ficando sujos da poeira que se desprendia de sua pele, cabelos e roupa... Estava nocauteado... Não havia nenhuma necessidade de ligar o sintonizador de ânimo... Ele logo adormeceu...
Iran ficou velando o marido por algum tempo até certeza de que ele estava em sono profundo... Acionou um botão e as janelas tornaram-se opacas.
(...)
A mulher retornou à cozinha... O sapo elétrico fazia os seus movimentos na caixa... Ela consultou a lista vidfônica e ligou para uma loja de acessórios para animais elétricos... Disse à atendente que queria que lhe enviasse “meio quilo de moscas artificiais que realmente voam e zumbem”.
A vendedora quis detalhes... Perguntou se o animal que desejava alimentar era uma tartaruga elétrica e seguiu sugerindo várias opções... Além de uma “poça perpetuamente renovável”... Havia também um “kit com areia, seixos multicoloridos e detritos orgânicos”... É claro que dependia muito do tipo de sapo que o cliente possui em casa... A loja possuía departamento capaz de ajustar a língua do bicho artificial... É claro que esse serviço era essencial para que ele mantivesse “seu ciclo de alimentação regular”.
Iran aprovou o que ouviu e emendou que queria que tudo funcionasse perfeitamente no sapo, pois o seu marido era muito apegado a ele.
Informou o endereço... Desligou o aparelho... Preparou uma xícara de café... Dessa vez para ela mesma.
Leia: Androides sonham com ovelhas elétricas? Editora Aleph.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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